O aprofundar da
crise
No passado dia 3 foi recebida a notícia que não queríamos ouvir,
mas que todos já esperávamos. Portugal havia sido excluído dos corredores
aéreos do Reino Unido, os quais permitem que os britânicos possam viajar para
determinados destinos, sem que posteriormente tenham necessidade de cumprir um
período de quarentena de 14 dias aquando do seu regresso.
Era a decisão
esperada porque estava sustentada num indicador que em Portugal está no
vermelho: número de novos infetados por 100 mil habitantes. Neste indicador
Portugal está entre os piores da Europa, seremos o terceiro pior. Aliás, algo
que aqui já havíamos alertado há várias semanas, quando referíamos que em
alguns indicadores Portugal integrava o grupo dos piores na Europa.
Na região de
Lisboa o número diário de novos infetados é deveras preocupante, como
inquietante é os vários surtos de excessiva dimensão que vão surgindo em vários
pontos do país, por vezes em zonas onde a situação estaria aparentemente calma,
como é o caso de Reguengos de Monsaraz.
É certo que se
aquela decisão fosse sustentada num outro indicador Portugal poderia ter
condição para integrar a lista de países de corredores aéreos seguros do Reino
Unido. Mas, o indicador era aquele e “todo” o Portugal o sabia.
Caiu por terra a
teoria que somos o exemplo no combate à covid.
Caímos na nossa
realidade. Que afinal não estamos tão bem quanto a nossa classe política
governativa nos apregoa diariamente.
Mas este Governo
só ouve os elogios e os autoelogios. O resto é para apagar, para obscurecer.
Algo parecido com
o que aconteceu com as reuniões no Infarmed. Enquanto “promoveram” a ação do
Governo foram desenvolvidas e elogiadas. Quando os técnicos lançaram dúvidas
sobre algumas das justificações em que o primeiro-ministro se escudava,
entendeu o Governo desvalorizar as reuniões e findá-las, as quais certamente
teriam a importância de dar a conhecer a visão técnica do desenvolvimento da
doença.
Tivesse o Governo
feito e seu trabalho de forma mais competente e provavelmente Portugal não
teria sido excluído da lista produzida pelo Reino Unido.
Tivesse o Governo
mais sentido da realidade, e menos preocupação em fazer propaganda por tudo e
por nada, e provavelmente Portugal não teria sido excluído da lista produzida
pelo Reino Unido.
Tivesse o Governo
sido mais comedido nas palavras e nas ações, não tendo dado sinais errados às
populações, e provavelmente Portugal não teria sido excluído da lista produzida
pelo Reino Unido.
Mas estamos
excluídos, e agora o que se exige é que o problema seja resolvido de uma forma
competente. Nada mais.
Ao invés de
assumir mea culpa, o que o Governo português tem feito é passar as culpas aos
outros. Desde logo ao Reino Unido por nos ter colocado fora da lista. E foram
vários os membros do Governo a eleger esta linha de atuação, inclusive o
ministro do Negócio Estrangeiros, o ministro que gosta de malhar.
A lista terá
revisões regulares, pelo que a entrada de Portugal na lista será a salvação do
nosso turismo, especialmente aquele que mais depende do turismo britânico.
É que o turismo
britânico representa muito para Portugal, sendo de fundamental importância para
o turismo algarvio.
Bélgica e Escócia
ontem também impuseram restrições aos viajantes de Portugal.
Concorde-se ou
não, teremos de entender o alcance deste tipo de decisões, as quais pretendem
reduzir contágios por importação, assim como proteger as populações residentes.
Talvez com as
reações destes países o Governo português desperte para a realidade e para a
necessidade de atacar, em devido tempo, os focos que vão surgindo, porque o
descontrolo terá consequências cada vez mais gravosas numa economia que tarda a
“desconfinar”.
Segundo as
recentes previsões da União Europeia Portugal sofrerá uma contração do PIB de
9,8%, acima da média da zona euro (-8,7%) e da média da UE (-8,3%), quando a
previsão anterior se limitava a uma contração de 6,8%.
Estas
atualizações vão refletindo também os resultados económicos das medidas
tomadas, não só os efeitos de medidas externas, como a abertura das fronteiras
ou restrições aos viajantes de Portugal, como as internas, como os custos
sociais da covid, os reforços no setor da saúde, da envolvência do Estado na
TAP, ou a nacionalização da EFACEC. Porque entendamos que todas as medidas têm
um reflexo no PIB e, consequentemente, um custo que terá de ser suportado.
Tenhamos fé,
porque de Governo temos cada vez menos.
Boas férias
e até setembro porque esta rubrica será interrompida por motivo da programação
de verão.
Rui Mendes
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