quinta-feira, 4 de junho de 2020

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM


EDUARDO LUCIANO
                                                   O velho anormal
 O futebol luso regressou. Os milhões de epidemiologistas que teorizavam nas redes sociais foram substituídos por milhões de treinadores de futebol e especialistas em corrupção desportiva e encriptação de conteúdos de correio electrónico.
As indignações contra quem está sentado na esplanada, as fotografias de máscaras no chão, as imagens de praias cheias se fotografadas de determinado ângulo, a inveja dos que não podem sobre os que podem, voltam a ser substituídas pelo grunhir dos comentadores pagos para serem adeptos acéfalos dos clubes desportivos em torno de interesses que estão longe serem os seus.
Que fique claro: eu gosto do jogo e até acho graça a algum clubismo que acaba com os amigos abraçados apesar de terem cachecóis de cores diferentes. O que não gosto é da estupidez promovida em horas intermináveis de televisão, com gente escolhida para defender o indefensável enquanto vai promovendo formas básicas de pensamento de onde resultam apoiantes dos movimentos pró fascistas cá do burgo.
Espero que o regresso do futebol não engula também as ondas de indignação pelos aproveitamentos da crise sanitária para a promoção de despedimentos e de confinamento de direitos laborais, porque não se avizinha nada de bom com o convite do primeiro-ministro a um suposto guru que terá como tarefa propor um programa de lançamento da economia.
O senhor defende um pacto entre as empresas e o Estado com o Estado a sair de cena logo que possível. Não há um pingo de novidade nesta ideia. O pacto que defende consubstancia-se na velha prática do malvado Estado, que somos todos nós, injectar dinheiro nas empresas directa ou indirectamente até voltarem aos níveis de lucro habituais para depois sair de cena.
Nessa altura o Estado, todos nós, volta a ser o malvado que só quer impostos para gastar em saúde, educação e outras coisas de onde deve sair porque não tem nada de se meter em actividades que podem ser negócios lucrativos nas mãos da iniciativa privada, com o pequeno incómodo de passarem apenas a estar ao alcance de quem as pode pagar.
Na sua longa entrevista de ontem a um jornal diário, foi claro ao dizer ao que vem e qual é a sua perspectiva estratégica. É o que é. Estranho, ou talvez não, é um primeiro-ministro que se arroga adepto da social-democracia escolher um colaborador com tais ideias, para desenhar um plano de relançamento da economia.
Ou muito me engano ou teremos novas propostas de flexibilização das leis laborais e mais precariedade e menos rendimento a distribuir pelo trabalho.
Aposto convosco que vão ser essas as conclusões do plano e aproveito para apostar em como o Benfica vai ser campeão.
Até para a semana


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