CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
Se não fosse a
falta que faz…
Esta seria a semana que, em Évora, a Feira
de São João estaria a “bombar” em pleno. Será, ao que consta, a terceira vez
que nos quinhentos anos de existência ela não se realiza, novamente por
questões de saúde pública como terá sido na primeira pestilenta vez, diz que
rezam os arquivos. Para mim seria a trigésima Feira, numerozinho redondo a
marcar o número de anos que levo a contribuir para a demografia do concelho e
da região.
A Feira vai fazer falta a muita gente. Aos
que com ela faziam negócio e aos que nela negociavam; mas também aos que nela
faziam do ócio um lugar comum, sem lista de convidados a reservar o direito de
admissão. Enfim, para todos, ainda que mais para os alguns com uns euros para
gastar, e para os que se reencontram pelo menos uma vez por ano, em regresso
esporádico à terra natal.
Vai fazer falta aos que dependiam em parte
dela para se mostrarem aos outros, em acções de divulgação ou propaganda, lado
a lado, em pé de igualdade no acesso a serem expositores por uma dezena de
dias, embora havendo sempre mais matéria de alguma queixa do que motivo de
louvor à entidade promotora. Também vai fazer falta aos que são pelas
tradições, tal como fará aos que estão fartos do que é sempre a mesma coisa e
lá vão, religiosamente, mais um ano acrescentar juros ao capital de queixa.
Alívio mesmo, deve ser só para dois
segmentos deste velho mercado do feirar: o alívio dos que abominam este tipo de
evento, ainda para mais a empatar o dia-a-dia; e o alívio dos que vão poupar
uns milhares e muita mão-de-obra e hora extraordinária a distribuir, sem serem
acusados de terem feito mal em suspender o evento (é a saúde, povo de Évora, é
a saúde!), nem poderem dizer que a culpa é, como estaria bom de ver mais uma
vez, do governo central. Uma chamada “win-win situation” onde, como nos
altifalantes dos carrosséis e carrinhos de choque também se pode ouvir, quando
apregoam: “As meninas não pagam! Não pagam, mas também não andam!” Enfim, se
não fosse a falta que faz, para muitos, a Feira de São João não fazia falta
nenhuma.
Até para a semana.
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