MARIA HELENA FIGUEIREDO
A Champions
Confesso que não sou dada a futebóis.
Confesso que me chateia mesmo ser bombardeada a toda a hora por notícias de futebol, por novelas de assembleias gerais de clubes e tricas de dirigentes, entrevistas com treinadores e bitaites de comentadores, para não falar das deploráveis cenas de corrupção de que se ouve falar.
Confesso que me chateia mesmo ser bombardeada a toda a hora por notícias de futebol, por novelas de assembleias gerais de clubes e tricas de dirigentes, entrevistas com treinadores e bitaites de comentadores, para não falar das deploráveis cenas de corrupção de que se ouve falar.
Dito isto
acrescento que, nada tenho contra o futebol em si, nem contra quem joga ou
gosta de futebol e que nada desta apreciação tem a ver com o que penso sobre a
realização da Final da Champions League da UEFA em Lisboa.
A coisa começa a
complicar-se é quando o futebol mexe com a nossa vida e a nossa segurança
colectivas. Ou seja, quando o futebol comanda a vida do país.
Depois de 3 meses
a ferro e fogo por causa da pandemia de Covid 19, a contar todos os dias o
número de infectados e de mortos, quando centenas de milhares de trabalhadores
perderam o emprego ou 1/3 do seu salário e há muita gente a passar mal, quando
os nossos velhos estão ainda prisioneiros em lares, vendo à distancia apenas 1
familiar meia hora por semana, os mais altos responsáveis da Nação vêm ufanos
anunciar que a Final da Champions League é em Lisboa. Pronto, somos os maiores
em Agosto teremos cá a final da Champions!
Mas afinal o que
é isto? Que pretende o Governo? – sim porque tem de haver acordo das
autoridades nacionais – E que valores se sobrepõem ao risco de exposição da
população portuguesa a contágios e, portanto, à saúde pública?
Quem decidiu deve
ter achado que isto será bom para o turismo e para a imagem de Portugal, mas
ponderou os impactos na saúde da população e os custos sociais e económicos que
envolve a decisão se a coisa correr menos bem ou mesmo a possibilidade de a situação
sanitária no país evoluir negativamente até lá?
Não se sabem
detalhes, não se sabe se haverá publico nas bancadas ou não mas, mesmo não
havendo público, quantas pessoas viajarão para cá entre jogadores, equipas
técnicas, televisões e jornalistas. Virão equipas de informação de todo o mundo
que se instalarão nos hotéis e circularão pela cidade.
Poderão
contaminar mas poderão também ser contaminados. Já não falo apenas nos
jogadores que terão certamente uma vigilância médica mais apertada, mas de
jornalistas, gente das televisões. Se algum ou alguns forem contaminados e
adoecerem cá acha António Costa que as notícias não serão negativas para a
imagem do país e não afectarão a economia?
Se houver público
a assistir aos jogos será, então, a irresponsabilidade total. Estamos em finais
de Junho e a situação na região de Lisboa está longe de estar controlada.
Acreditamos que
somos mais espertos que os outros países ou move-nos uma fezada imensa na
sorte?
Facto é que
habitualmente vários países europeus disputam com unhas e dentes a realização
da final da Champions e que, assim do pé para a mão, Lisboa ter sido escolhida
poderá não ser o resultado do “milagre português” na contenção do vírus, que
sabemos ser neste momento uma mistificação.
Não terá antes
sido o caso de os outros países serem prudentes e não terem querido arriscar
ser confrontados com a imprevisibilidade da evolução próxima da pandemia nem
com os riscos de algum dos intervenientes adoecer no seu território?
E para terminar
não posso deixar de repudiar as palavras de António Costa quando anunciou a
realização desta final em Portugal dizendo que era um prémio para os
profissionais da saúde, como se isso pagasse todo o esforço e sacrifício que
lhes foi pedido.
O reconhecimento
de que estes profissionais necessitam não pode ser feito de palavras, tem de
ser traduzido em melhor carreira, melhores salários, subsídio de risco e
melhores condições de trabalho. Isso sim, Sr 1º Ministro, será reconhecer o seu
papel durante esta pandemia e como são imprescindíveis para o país.
Até para a
semana!
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