RUI MENDES
Incoerências
Alguns políticos têm uma forma calculista de atuação, criticam,
mas depois têm o desplante de tomar as medidas exatamente iguais às que
criticaram.
Vem isto a
propósito da posição que o Governo tomou ao ter avisado os deputados de que
estes estariam condicionados na apresentação de propostas de alteração à
proposta de Orçamento Retificativo apresentada pelo Governo.
Quis o Governo
dizer aos deputados da nação, que integram um órgão de soberania, que são um
dos garantes fiscalizadores da atividade governativa, que têm o dever de função
de apresentar as suas propostas, que se deveriam conter no que propõem, não
fossem essas propostas agravar os montantes previstos na proposta de Orçamento
Retificativo, ou não fossem elas desvirtuar aquilo que o Governo pretende realizar
e o que pretende gastar.
Recordemo-nos que
este Governo, para além do mais, é minoritário, necessitando, por isso, de
apoio de outros deputados para além dos que integram a bancada socialista.
Imagine-se, pois, se porventura este Governo tivesse uma base maior de apoio na
Assembleia da República. Tal não seria a prepotência, tal não seria o
afrontamento.
O Governo falou
com o coração. Este é o desejo de governação de António Costa. Governar em
democracia, numa democracia limitada à sua vontade, às suas opiniões, e em que
ninguém contrarie a vontade do chefe, nem os seus, como já se viu.
Ou seja, queria o
Governo que houvesse uma oposição, que não fizesse oposição, algo que assumisse
assim uma qualquer figura decorativa.
Oposição é para
fazer oposição, para ser eficaz na fiscalização da ação do Governo, para
apresentar as suas soluções, apoiando a atividade governativa apenas quando tal
se justifique.
Para mais o
primeiro-ministro é aquela pessoa que consegue hoje confrontar a oposição desta
forma, como se nunca tivesse tido posição diferente. Mas não. Este
primeiro-ministro é useiro em mudar de opinião, basta que a posição que havia
tomado deixe de lhe ser útil, muda-a e resolve o problema por uma razão de
conveniência. Mas fica com a incoerência. Dessa não se livra.
Porque quando em
oposição, António Costa, tinha opinião diferente na abordagem que deveria fazer
aos retificativos. Mas lá está, as posições que toma dependem do contexto e do
seu interesse.
Se nos recordarmos
poderíamos aqui referir n casos em que isto já aconteceu. Basta ver o que se
passou com a recente designação de António Costa Silva como conselheiro para
elaborar um programa de retoma da economia no pós-pandemia, algo que já havia
acontecido anteriormente no Governo de Passos Coelho com a designação de
António Borges e que, na altura, foi criticada pelo comentador António Costa.
Basta também que
nos recordemos qual era a posição de António Costa quanto às condições de
independência que deveriam subsistir relativamente à nomeação do Governador do
Banco de Portugal, e qual é a que tem hoje. Opostas claro. Lá está como
oposição tinha uma, como governante tem outra.
António Costa é um
egocêntrico. Tudo terá de girar à sua volta. É a vedeta do Governo. E quem ocupar
uma parte deste “seu” espaço terá de responder por isso.
A saída de Centeno
do Governo já era mais que sabida, a sua popularidade retirou muito espaço ao
chefe e permitiu-lhe ganhar território próprio, os choques entre ambos foram
acontecendo, pelo que faltava apenas conhecer o momento da saída, que aconteceu
esta semana, saída que serve a ambos. Centeno livra-se do fardo de ser Ministro
das Finanças, para mais avizinham-se tempos bem mais difíceis, Costa ocupa
parte do espaço deixado por Centeno, e passa a ter um peso diferente, bem maior
nas finanças, quando iremos entrar em tempos de recessão com o PIB a cair entre
9,5 e 13,1%, segundo dados do Banco de Portugal, e o desemprego a subir.
Não se esqueçam do
que ouvimos recentemente, que em tempos de guerra não se mudam generais. Se
levássemos a sério o que António Costa disse, ou já não estaríamos em guerra,
ou Centeno não tinha patente de general.
Até para a semana
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