sexta-feira, 19 de junho de 2020

A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM


                                                                                                           RUI MENDES
                                           Incoerências
Alguns políticos têm uma forma calculista de atuação, criticam, mas depois têm o desplante de tomar as medidas exatamente iguais às que criticaram.
Vem isto a propósito da posição que o Governo tomou ao ter avisado os deputados de que estes estariam condicionados na apresentação de propostas de alteração à proposta de Orçamento Retificativo apresentada pelo Governo.
Quis o Governo dizer aos deputados da nação, que integram um órgão de soberania, que são um dos garantes fiscalizadores da atividade governativa, que têm o dever de função de apresentar as suas propostas, que se deveriam conter no que propõem, não fossem essas propostas agravar os montantes previstos na proposta de Orçamento Retificativo, ou não fossem elas desvirtuar aquilo que o Governo pretende realizar e o que pretende gastar.
Recordemo-nos que este Governo, para além do mais, é minoritário, necessitando, por isso, de apoio de outros deputados para além dos que integram a bancada socialista. Imagine-se, pois, se porventura este Governo tivesse uma base maior de apoio na Assembleia da República. Tal não seria a prepotência, tal não seria o afrontamento.
O Governo falou com o coração. Este é o desejo de governação de António Costa. Governar em democracia, numa democracia limitada à sua vontade, às suas opiniões, e em que ninguém contrarie a vontade do chefe, nem os seus, como já se viu.
Ou seja, queria o Governo que houvesse uma oposição, que não fizesse oposição, algo que assumisse assim uma qualquer figura decorativa.
Oposição é para fazer oposição, para ser eficaz na fiscalização da ação do Governo, para apresentar as suas soluções, apoiando a atividade governativa apenas quando tal se justifique.
Para mais o primeiro-ministro é aquela pessoa que consegue hoje confrontar a oposição desta forma, como se nunca tivesse tido posição diferente. Mas não. Este primeiro-ministro é useiro em mudar de opinião, basta que a posição que havia tomado deixe de lhe ser útil, muda-a e resolve o problema por uma razão de conveniência. Mas fica com a incoerência. Dessa não se livra.
Porque quando em oposição, António Costa, tinha opinião diferente na abordagem que deveria fazer aos retificativos. Mas lá está, as posições que toma dependem do contexto e do seu interesse.
Se nos recordarmos poderíamos aqui referir n casos em que isto já aconteceu. Basta ver o que se passou com a recente designação de António Costa Silva como conselheiro para elaborar um programa de retoma da economia no pós-pandemia, algo que já havia acontecido anteriormente no Governo de Passos Coelho com a designação de António Borges e que, na altura, foi criticada pelo comentador António Costa.
Basta também que nos recordemos qual era a posição de António Costa quanto às condições de independência que deveriam subsistir relativamente à nomeação do Governador do Banco de Portugal, e qual é a que tem hoje. Opostas claro. Lá está como oposição tinha uma, como governante tem outra.
António Costa é um egocêntrico. Tudo terá de girar à sua volta. É a vedeta do Governo. E quem ocupar uma parte deste “seu” espaço terá de responder por isso.
A saída de Centeno do Governo já era mais que sabida, a sua popularidade retirou muito espaço ao chefe e permitiu-lhe ganhar território próprio, os choques entre ambos foram acontecendo, pelo que faltava apenas conhecer o momento da saída, que aconteceu esta semana, saída que serve a ambos. Centeno livra-se do fardo de ser Ministro das Finanças, para mais avizinham-se tempos bem mais difíceis, Costa ocupa parte do espaço deixado por Centeno, e passa a ter um peso diferente, bem maior nas finanças, quando iremos entrar em tempos de recessão com o PIB a cair entre 9,5 e 13,1%, segundo dados do Banco de Portugal, e o desemprego a subir.
Não se esqueçam do que ouvimos recentemente, que em tempos de guerra não se mudam generais. Se levássemos a sério o que António Costa disse, ou já não estaríamos em guerra, ou Centeno não tinha patente de general.
Até para a semana



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