Maria Helena Figueiredo
Dia
das Crianças
Hoje é o Dia das Crianças. Foi celebrado pela primeira vez em 1925
em Genebra durante a Conferência Mundial para o Bem-estar da Criança, e em 1950
as Nações Unidas assinalaram este dia inicialmente como Dia Internacional da
Protecção das Crianças.
Quase um século passado seria bom que este fosse um dia feliz para
todas as meninas e meninos, independentemente da sua origem, género, cor ou
classe social. Mas se há coisa que temos de reconhecer é que o Mundo está cada
vez mais difícil para as crianças.
A pobreza infantil é um flagelo que afecta mais as crianças que os
adultos e os idosos e no início deste ano em Portugal a pobreza afectava cerca
de 330.000 crianças.
É uma realidade que, apesar dos níveis de rendimento elevados face
a outras partes do mundo, atravessa a União Europeia: 1 em cada 4 crianças
europeias está em risco de pobreza.
Estes são números que nos deviam abalar a todos e que seguramente
já cresceram nestes três meses que levamos de pandemia de COVID 19, durante os
quais a perda de rendimentos e o desemprego afectaram milhares e milhares de
trabalhadores e pequenos empresários e, naturalmente, as suas/nossas crianças.
Aliás, a UNICEF estima que ao nível mundial este ano mais 86
milhões de crianças sejam afectadas pela pobreza, ou seja mais 15% que em 2019,
totalizando os 672 milhões de crianças pobres, das quais 2/3 das vivendo na
África subsaariana e no sul da Ásia.
Os impactos desta pandemia está a afectar-nos a todos, mas são
provavelmente muito profundos e duradouros nas crianças e, por isso, mais
preocupantes. Não sabemos até que ponto o confinamento, às vezes em habitações
mínimas e sem condições, e o afastamento físico induzido pela pandemia, as
dificuldades financeiras das famílias, e o próprio medo da doença afectam e
afectarão no futuro as crianças, quais as marcas que deixam e quais os impactos
que têm em termos de saúde mental.
Mas sabemos que o confinamento em casa veio potenciar os riscos de
aumento da violência doméstica, afectando directa e indirectamente as crianças,
dos maus tratos a que são muitas vezes sujeitas, e até de abuso sexual de que
são vitimas perpetrado por pessoas próximas, muitas vezes familiares. Isoladas,
longe de outros adultos que possam aperceber-se da sua situação ou a quem
possam queixar-se, as crianças ficam entregues aos seus agressores, mais
desprotegidas ainda em tempo de pandemia.
Também o encerramento das escolas veio agravar a situação de
carência alimentar em que muitos miúdos se encontram e a substituição da escola
por aulas pela via digital e pela televisão, veio agravar a exclusão de muitas
crianças de famílias mais desfavorecidas, privadas não apenas de equipamentos
informáticos mas do apoio familiar, sem pais com conhecimentos que lhes
permitam apoiar os filhos.
Por tudo isto, neste tempo em que as desigualdades sociais se
tornam mais evidentes e as crianças são mais vulneráveis, não basta dizer que
as crianças são o nosso futuro e menos ainda, a cada ano, limitar-se a
assinalar este dia com actividades lúdicas ou guloseimas. É obrigação de todos
cuidar das nossas crianças, mas agora mais que nunca preciso que o Estado e
também as autarquias assumam a responsabilidade de criar respostas sociais e
garantir apoios específicos para as crianças, de forma a que possam crescer com
uma alimentação adequada, cuidados de saúde, educação de qualidade e uma
habitação condigna, e também espaço público onde andem e brinquem em segurança
para que possam desenvolver-se plenamente.
Até para a semana.
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