Lendas dizem que, certa vez, a
húngara ateou fogo a um antigo galpão e, com uma pistola em cada mão, salvou o seu companheiro da lei.
A prostituta
Big Nose Kate - Wikimedia Commons
São muitas as lendas sobre pistoleiros, cowboys e
xerifes do Velho Oeste americano. Essas pessoas tornaram-se parte do imaginário
sobre o período vivido nos Estados Unidos entre o século 19 e início do século
20. O papel das mulheres na época, no
entanto, permaneceu durante muito tempo apagado da História, o que não quer
dizer que elas não tenham tido activa participação.
Mary Katherine Horony, também conhecida como Big Nose
Kate, foi uma dessas mulheres. Nascida em
Budapeste, na Hungria, em novembro de 1850 numa família rica, teve a sua vida
mudada quando, em 1860, seu pai, médico de renome, foi convidado pelo monarca
Maximiliano do México para ser o seu cirurgião particular. Aceite a convocação,
a família deslocou-se ao continente americano.
Quando o governo caiu no México, no entanto, eles
tiveram de fugir para os Estados Unidos, em 1865. Chegando lá, instalaram-se numa cidade predominantemente alemã, Davenport, no estado americano de Iowa. Mas
isso não duraria muito; pouco tempo depois, o pai, Michael Haroney, faleceu e,
poucos meses depois, sua esposa também, deixando os seus filhos órfãos.
Separados dos pais, cada um foi para uma casa
diferente. Katherine, com 14 anos, foi deixada na casa do advogado Otto
Smith, que se tornou o seu lar adoptivo. Ela, porém, não permaneceu no local por
muitos anos. Existem suspeitas de que a insatisfação da menina estaria
relacionada com abusos físicos e sexuais sofridos na residência, mas não há
comprovação histórica para a tese.
Assim, aos 16 anos, Kate, como passou a ficar
conhecida, fugiu da casa de Smith e infiltrou-se
num barco com destino à
cidade de San Louis, no Missouri. Naquele momento, a sua história estava apenas
começando.
Já em 1869, a moça foi registrada como prostituta da senhora
Blanch Tribole, ainda no mesmo local. No entanto, cinco anos depois, o seu nome
apareceu nos registos da cidade de Dodge City, no Kansas, numa multa
aplicada por ter trabalhado como prostituta num bordel na região
administrado por Nellie Bessie Earp. Mas isso não era tudo, ela se mudaria mais
uma vez, agora para Fort Griffin, no Texas, onde conheceria uma das figuras
mais icônicas do faroeste americano.
Em 1877, num salão da cidade, Kate conheceu Doc Holliday,
dentista, apostador e pistoleiro estadunidense. A sintonia entre os dois foi
instantânea, e o que poderia ser apenas um caso tornou-se num relacionamento de
longa data, pelo menos é o que acreditam diversos historiadores. O mais difícil
de estudar períodos antigos é que são poucos os recursos históricos que
comprovam detalhes da história de vida de pessoas em específico.
Um episódio muito interessante marcou essa relação. A
moça ajudou Doc a fugir de um grupo de vigilantes que queriam vingança depois
que o pistoleiro matou um homem durante uma briga de bar. Para realizar tal acto,
Kate ateou fogo a um antigo galpão, que ameaçava acabar com toda a cidade.
Enquanto as pessoas estavam ocupadas tentando apagar o fogo, a prostituta, com
uma pistola em cada mão, como diz a lenda, enfrentou o policial que vigiava
Doc, desarmando-o e fugindo com o seu amante.
No entanto, um dia Kate bebeu demais e, aproveitando-se da situação, um grupo de pessoas levou-a para assinar um
depoimento que atestava os assassinatos cometidos por Doc. Ao firmar a sua
assinatura, a traição estava posta. Quando foi liberto, o dentista abandonou
Kate.
Cada um dos dois seguiu a vida normalmente. Em 1880, a
mulher ficou conhecida por administrar um próspero bordel na cidade de
Tombstone, no Arizona. Mas quando Doc morreu, em 1887, Kate casou-se novamente.
Com o ferreiro irlandês George Cummings, começou a ter uma vida normal e
acredita-se que eles tenham tido uma padaria enquanto moravam em Bisbee, no
Arizona.
Os dois separaram-se com o tempo, ao que Cummings se
tornou um alcoílico. Em 1931, Kate, com 80 anos, solicitou a entrada no asilo
Casa dos Pioneiros do Arizona. Durante os anos no local, deu várias
entrevistas contando sobre a sua vida no faroeste ao lado do pistoleiro. Há um
mito de que ela teria morrido por uma bala perdida disparada no salão Brewery
Gulch em Bisbee, Arizona, mas a versão mais aceite é que Kate faleceu devido a
uma insuficiência aguda do miocárdio, sete dias antes do seu aniversário de 91
anos.
ISABELA BARREIROS
ISABELA BARREIROS
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