Notas soltas
As comemorações do 1 de Maio, à
semelhança do que aconteceu com o 25 de Abril, vieram trazer à tona uma
extrema-direita que começa cada vez mais a tirar a cabeça de fora e uma legião
de gente que deixando-se aprisionar pelo medo resolveu engrossar o coro.
Antes da Revolução da Abril também havia um vírus terrível que se
manifestava todos os dias e que punha em risco a saúde e a vida dos que não
aceitavam dobrar a cerviz perante a opressão. Naquele tempo lutar pela
liberdade era colocar esse objectivo acima da preservação da sua saúde e dos
seus familiares e nem assim a luta se confinou.
Não seria agora, dentro do quadro legal, com todas as medidas de
protecção implementadas e com uma rigorosa organização, que deixaria de
acontecer.
Refilaram com Abril, vociferaram com Maio e já andam a ter
pesadelos com Setembro por causa da Festa do Avante. Tenham calma, uma coisa de
cada vez ou ainda são acometidos de alguma apoplexia antidemocrática que vos
pode deixar graves sequelas.
No próximo dia 9 de Maio comemora-se a derrota do nazi-fascismo e
a tomada de Berlim pelo Exército Vermelho. Em tempos de revisionismo histórico
acelerado qualquer dia ainda teremos a famosa fotografia adulterada com a
substituição da bandeira soviética pela bandeira estado-unidense ou talvez mais
longe pela bandeira da confederação recuperada à guerra da secessão
norte-americana.
A propósito desses tempos, parece que há um deputado português que
sugere um confinamento especial em função da pertença à etnia cigana.
Um futebolista respondeu dando-lhe uma lição de dignidade que
provavelmente caiu em saco roto e provocou uma justa onda de indignação.
Na resposta do dito deputado está contido tudo que pensa sobre a
cidadania e os seus direitos afirmando que um futebolista da selecção nacional
não se deveria meter em política e apelando para que a Federação aja em
conformidade (deduzo eu com a prisão e tortura até confessar qualquer coisa).
Já tinha ouvido esta argumentação a propósito de ser dirigente
associativo da área da cultura, ou artista ou qualquer outra profissão.
É a defesa de que a política é para os profissionais da coisa em
oposição à ideia republicana e democrática que a acção política é direito de
cidadania, não estando dela afastado ninguém em função da profissão que exerce.
Era o que mais faltava que por ser jogador de futebol e ter
representado a selecção nacional, Ricardo Quaresma não pudesse emitir
publicamente a sua opinião sobre seja o que for, incluindo sobre uma posição
xenófoba de um dirigente partidário.
Ficando-lhe mal mandá-lo calar por causa da sua origem étnica
resolveu fazê-lo pela sua profissão. Hoje por essa razão, amanhã por outra e já
estão a ver o caminho que faríamos.
Há 75 anos o nazi-fascismo foi derrotado. Há 46 anos o fascismo
foi derrubado em Portugal Mas nestas coisas, como em quase todas, nada é
definitivo e o melhor é mantermo-nos vigilantes.
Até para a semana
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