Maria
Helena Figueiredo
A cartola de António Costa
Um número feio de fazer, principalmente
num período sensível como este da crise de Covid19, com os dos trabalhadores da
cultura e das artes, que deveriam merecer o maior respeito por parte de um
Primeiro Ministro.
António Costa veio apresentar um apoio de
30 milhões à Cultura, como resposta às dificuldades, fingindo que assim
resolvia os problemas dos trabalhadores e das estruturas criativas, apostando
no desconhecimento da maioria das pessoas sobre o que está efectivamente em
causa.
Acontece que os 30 milhões de euros não
são nem uma resposta à situação de emergência que o sector da cultura vive
depois de mais de 25.000 eventos terem sido cancelados, e que é preciso que
seja tomada, nem se vão traduzir em apoio social aos muitos milhares de agentes
em situação crítica, quando estão muitos deles a passar fome.
Os 30 milhões serão dados às Câmaras
Municipais para organizarem elas próprias animação cultural de Verão.
Atribuir 30 milhões de euros às Câmaras
Municipais, neste contexto, é transferir as responsabilidades do Estado em
matéria de política cultural para as autarquias, de forma inaceitável,
confundindo cultura com entretenimento, mas não só.
É também favorecer a discricionariedade de
muitos autarcas, quando sabemos de experiência feita que há autarquias que
favorecem sistematicamente agentes cuja cor política lhes é próxima ou
favorável, isto no ano anterior ao de eleições autárquicas. Para alguns será um
festim. Para outros … o mesmo de sempre, ou seja, nada ou muito pouco.
Mas António Costa também não disse de onde
vinham esses 30 milhões e esse não é um ponto de somenos importância. Pelo
contrário, é agora uma preocupação maior para os agentes culturais e quer o
CENA -Sindicato dos Trabalhadores do Espectáculo, quer as várias estruturas
como a Plateia, a “Acesso à Cultura” ou o movimento “Unidxs pelo Presente e
Futuro da Cultura em Portugal” estão a questionar o Governo sobre esta medida.
É que há informações de que o Governo se
prepara para que os 30 milhões sejam retirados do “Programa Cultura para
Todos”, no quadro dos Programas Operacionais do Portugal 2020, um programa que
incide principalmente em territórios de baixa densidade e que tem por
objectivos o apoio a iniciativas culturais para a públicos habitualmente
excluídos, como sejam os jovens em risco, os idosos ou as pessoas com
deficiência, e também fomentar o acesso de novos públicos à cultura e a coesão
social.
Ora desviar verbas deste programa, que no
Alentejo vale quase 6,5 milhões de euros e que tem vindo a ser trabalhado pelas
CIM, poderá pôr em causa projectos apresentados e compromissos assumidos, mas
sobretudo porá em causa o acesso à fruição cultural pelos mais excluídos e o
apoio às comunidades mais desfavorecidas.
Se tal acontecer, como tudo indica que
quer fazer, o Governo estará a usar dinheiro que era destinado já à Cultura
para simular a resposta a uma emergência social.
É uma habilidade, um número de má mágica,
que vem mais uma vez pôr em evidência a falta de política cultural e a
incapacidade do Governo de olhar para a Cultura como estratégica no quadro do
desenvolvimento do país e os agentes culturais como merecedores do mesmo apoio
que os restantes trabalhadores.
Até para a semana.
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