segunda-feira, 11 de maio de 2020

CONTOS & LENDAS DA IDADE MEDIA


                 Mons. Balduíno e a cilada dos bruxos
As Bruxas de Macbeth, Alexandre-Marie Colin (1798-1875), col. priv
Mons. Balduíno, ex-reitor da Universidade de Paris, em virtude dos seus conhecimentos superiores adquiriu reputação e imensa popularidade entre os grandes do clero e do Reino da França.
Mas não só isso. As suas virtudes fizeram dele o inimigo dos feiticeiros.
Nas reuniões nocturnas em que esses assinavam pactos com o diabo, pediam ao príncipe das trevas meios para se livrar do sábio abade.
Tentaram vários ataques preternaturais contra ele, mas sem dúvida que ele era protegido por um bom anjo, porque frustrava todos os truques perversos a tempo...
Um dia ... Mons. Balduíno teve que ir de Saint-Quentin a Dijon, na Borgonha.
Ficou claro que essa viagem foi mencionada nas reuniões nas quais Satanás comparecia ...
O nosso abade empreendeu a estrada a cavalo com o seu criado Jean.
Depois de uma parada em Verberie, aproximaram-se da floresta de Retz, que deviam atravessar.
Mas era ali que o diabo e sua tropa amaldiçoada os aguardavam ...
O vento começou a soprar cada vez mais violentamente e o caminho foi-se tornando cada vez mais difícil.
De início, os nossos viajantes não se aborreceram, mas eis que desceu a escura noite, os cavalos estavam cansados e a fome os atormentava.
Jean foi o primeiro a preocupar-se.
– Deveríamos ter chegado a Malemaison – antigo nome do castelo de Villers-Cotterêts – mas ainda estamos no meio da floresta. Acho que os bruxos nos lançaram um feitiço e nós recuamos em vez de avançar.
O criado subiu numa árvore e viu uma luz à distância.
Ele orientou-se com muito cuidado. E depois de uma fadiga incrível, mestre do cavalo como lacaio que era, chegou perto de uma casa que parecia um castelo.
Um monge de túnica branca recebeu-os atenciosamente
– O padre abade, disse, os convida para a sua mesa, cheia de pratos magníficos e bebidas abundantes.
Na sala que serve de refeitório, muitos monges de hábitos brancos começaram a refeição.
Mas Mons. Balduíno observou que eles não cumpriam com os deveres da religião, de fazer o sinal da Cruz e rezar antes do início da refeição como qualquer bom cristão deve fazer.
E o sábio Balduíno, não os imitou.
Segurando com uma mão uma magnífica taça de vermeil enriquecida com diamantes que lhe foi apresentada, com a outra mão ele fez o sinal da Cruz...
Essa obrigatória precaução pôs brusco fim à enganosa cena ...
Tudo desapareceu num instante...
A sala com tudo o que ela continha ...
O abade Balduíno e o seu pajem encontraram-se no meio dos arbustos, com a tigela na mão ...
O servo e o mestre partiram novamente ao amanhecer.
Quando chegaram ao castelo de Malemaison, os viajantes contaram a sua aventura.
E Jean terminou a narração com uma lição moral pronunciada em voz alta:
- Ai daqueles a quem a noite surpreenderá nesta floresta, porque serão expostos às tentações dos espíritos infernais e cairão no poder dos amaldiçoados!
O padre Balduíno vendeu por grande quantia de dinheiro a taça que guardara. E partilhou o produto da venda entre as comunidades de Saint-Quentin e Dijon.
O facto foi sendo passado de geração em geração.
E embora ainda quando não se encontram os diabos vestidos de monges ou magos brancos, as pessoas dizem:
- Ai daqueles a quem a noite surpreenderá na floresta de Villers-Cotterêts!
(Fonte: 
Contes et Légendes de la Forêt de Retz).

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