quinta-feira, 21 de maio de 2020

A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM

Eduardo Luciano
                    Amor com amor se paga
 Andava quase toda a gente a propor furiosamente apoios à actividade económica, num estranho concurso televisivo chamado “eu proponho mais que tu” ou talvez seja mais adequado “eu proponho mais depressa que tu”, quando surgiu a ideia de distribuir 15 milhões de euros pelas empresas de comunicação social, justificada pela defesa dos postos de trabalho dos jornalistas e pela importância para a democracia de uma imprensa livre, isenta e independente.
Quando a coisa foi proposta pelo Bloco de Esquerda, confesso que me veio à ideia o aforismo popular “amor com amor se paga” tendo em conta a manifesta “boa imprensa” de que aquele partido sempre beneficiou. Depois de alguma reflexão pensei que tal proposta não seria sequer considerada, pela simples razão de que injectar dinheiro público em empresas privadas daquele sector de actividade, seria tão indecoroso que faltaria o atrevimento para tal.
Afinal, feitas as contas, a distribuição de tal dinheiro, ainda que sob a forma de adiantamento de compra de publicidade, recairia sobre uma mão cheia de empresas que dominam o negócio da publicidade, já para não falar que tal apoio poderia ter como consequência perversa a tentação de que a moeda de troca seria a compra de alguma réstia de isenção que ainda pudesse existir naquele meio dominado pelos grandes grupos económicos.
Uns dias depois o PCP propôs na Assembleia da República um projecto-lei para o sector justificando-o com a necessidade de defender os «direitos laborais dos profissionais da comunicação social, bem como para garantir que a RTP, a Lusa e a comunicação social local e regional» tenham condições para o «cumprimento das suas funções».
Obviamente que alertava para a situação de concentração de propriedade que tem como resultado a tremenda precariedade laboral, a ausência de pluralismo na abordagem noticiosa, a venda de opinião como factos, a distribuição de cadeiras pelos opinadores do mesmo espectro político, entre outras virtuosas situações que atiram princípios básicos de isenção para vetustos livros de estilo.
A liberdade de imprensa e o pluralismo defendem-se garantindo a valorização dos profissionais do sector e a protecção da independência dos jornalistas no exercício das suas funções.
A opção do governo de distribuir 11.250.000,00 pelos treze grupos empresariais mais poderosos, vem demonstrar quais foram os critérios utilizados para os propalados apoios, a quem servem e para que servem.
Entretanto, os jornais e rádios locais e regionais não aparecem contemplados em nenhuma linha de apoio específica. Como todos sabemos são as SIC, TVI e CMTV desta vida que precisam de apoio para continuarem o seu trabalho isento. Quantas vezes isento do mais elementar sentido de serviço público.
Entretanto os apoios à cultura ficam reduzidos a migalhas que isso é malta adepta da autofagia.
Como cantava o José Mário Branco, “fosse a menina dos meus olhos puta e fornicara com as televisões”.
Até para a semana




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