Eduardo Luciano
Amor
com amor se paga
Andava
quase toda a gente a propor furiosamente apoios à actividade económica, num
estranho concurso televisivo chamado “eu proponho mais que tu” ou talvez seja
mais adequado “eu proponho mais depressa que tu”, quando surgiu a ideia de
distribuir 15 milhões de euros pelas empresas de comunicação social,
justificada pela defesa dos postos de trabalho dos jornalistas e pela
importância para a democracia de uma imprensa livre, isenta e independente.
Quando
a coisa foi proposta pelo Bloco de Esquerda, confesso que me veio à ideia o
aforismo popular “amor com amor se paga” tendo em conta a manifesta “boa
imprensa” de que aquele partido sempre beneficiou. Depois de alguma reflexão
pensei que tal proposta não seria sequer considerada, pela simples razão de que
injectar dinheiro público em empresas privadas daquele sector de actividade,
seria tão indecoroso que faltaria o atrevimento para tal.
Afinal,
feitas as contas, a distribuição de tal dinheiro, ainda que sob a forma de
adiantamento de compra de publicidade, recairia sobre uma mão cheia de empresas
que dominam o negócio da publicidade, já para não falar que tal apoio poderia
ter como consequência perversa a tentação de que a moeda de troca seria a
compra de alguma réstia de isenção que ainda pudesse existir naquele meio
dominado pelos grandes grupos económicos.
Uns
dias depois o PCP propôs na Assembleia da República um projecto-lei para o
sector justificando-o com a necessidade de defender os «direitos laborais dos
profissionais da comunicação social, bem como para garantir que a RTP, a Lusa e
a comunicação social local e regional» tenham condições para o «cumprimento das
suas funções».
Obviamente
que alertava para a situação de concentração de propriedade que tem como
resultado a tremenda precariedade laboral, a ausência de pluralismo na
abordagem noticiosa, a venda de opinião como factos, a distribuição de cadeiras
pelos opinadores do mesmo espectro político, entre outras virtuosas situações
que atiram princípios básicos de isenção para vetustos livros de estilo.
A
liberdade de imprensa e o pluralismo defendem-se garantindo a valorização dos
profissionais do sector e a protecção da independência dos jornalistas no
exercício das suas funções.
A
opção do governo de distribuir 11.250.000,00 pelos treze grupos empresariais
mais poderosos, vem demonstrar quais foram os critérios utilizados para os
propalados apoios, a quem servem e para que servem.
Entretanto,
os jornais e rádios locais e regionais não aparecem contemplados em nenhuma
linha de apoio específica. Como todos sabemos são as SIC, TVI e CMTV desta vida
que precisam de apoio para continuarem o seu trabalho isento. Quantas vezes
isento do mais elementar sentido de serviço público.
Entretanto
os apoios à cultura ficam reduzidos a migalhas que isso é malta adepta da
autofagia.
Como
cantava o José Mário Branco, “fosse a menina dos meus olhos puta e fornicara
com as televisões”.
Até
para a semana
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