Em Portugal a tipografia apareceu quase no fim do século XV, 1498
segundo rezam as crónicas. Porém, o século áureo da tipografia foi o século
XVI, não só em Portugal como em todo o mundo.
No
entanto, a produção manteve-se durante muito tempo com características
artesanais, até ser criada a Impressão Régia (antecessora da Imprensa Nacional)
em 1768. Desde a criação da Imprensa Régia até 1821, o número de tipografias em
Lisboa passou apenas de 11 para 12, existindo unicamente mais quatro oficinas
no resto do país. Com a industrialização da produção, aumentou exponencialmente
o número de oficinas - em 1863 seriam 43 em Lisboa, e 113 no resto do país. No caso concreto de Montemor-o-Novo, segundo apurei, a
primeira tipografia a abrir portas, foi a Tipografia Santos, instalada na Rua
das Continhas n.º 1, proprietária do jornal “A Gazeta do Sul”, cujo primeiro
número saiu no dia 9 de Maio de 1896. Antes, porém, em 25 de Julho de 1883,
tinha nascido o primeiro jornal montemorense - “O Bijou”, só que o mesmo foi
composto e impresso na Tipografia da Casa Pia de Évora.
Em Fevereiro de 1916 Leopoldo Nunes fundou o
jornal “O Almansor”, com periodicidade quinzenal. A composição e impressão
estavam a cargo da Tipografia União (homenagem de Tomé Adelino Vidigal ao seu
clube do coração), então sedeada no rés-do-chão do antigo Real Hospital, situado
na actual Rua Capitão Pires da Cruz. Por mera curiosidade, refiro que no 1.º
andar do referido edifício, estava instalada na altura, a sede do Grupo União
Sport.
Em 14 de Janeiro de
1932, na sua “Tipografia União”, Tomé Adelino Vidigal compôs e imprimiu o n.º 1
do semanário “O Montemorense”, cuja primeira série durou até 31 de Dezembro de
1947. O seu corpo redactorial fundador era formado por Tomé Adelino Vidigal,
Jaime Ernesto dos Reis e António Tenreiro. Posteriormente,
a Tipografia União transferiu-se para o n.º 21 da Rua do Pedrão. Além do seu
proprietário, trabalharam nesta gráfica, Filipe Silva, Joaquim Faria, Mário
Martins (Baró), Leopoldo Gomes, Joaquim Primo, Eduardo Caldeira, António Bento
Romeiras e Mário Ramalho.
Depois do
falecimento de Tomé Vidigal, ocorrido no dia 17 de Novembro de 1978 na Sessão
Solene comemorativa do 64.º aniversário do GUS, a gestão da tipografia passou a
ser exercida pelo seu genro, o saudoso e meu querido Amigo, Leopoldo Gomes, recentemente falecido.
Circunstâncias várias, falecimento da mulher e da filha, levaram o
Leopoldo a cessar a actividade. Na sequência desta decisão, os herdeiros de
Tomé Vidigal decidiram trespassar a centenária tipografia para o único
funcionário – Mário Francisco Ramalho. Numa recente deslocação a um
supermercado da cidade, encontrei o simpático Mário Ramalho, “Marinho” para os
amigos. Depois dos cumprimentos que a actual situação epidémica exige – manter
o distanciamento social, perguntei-lhe: De férias forçadas?
Antes fosse,
respondeu-me. Motivos imprevistos levaram-me a encerrar a centenária Tipografia
União.
Não me
diga, e a maquinaria?
Com umas lágrimas nos
olhos, disse-me: fui forçado a vende-la para o ferro-velho. A offset, a
impressora manual, a guilhotina e a prensa entre outras, autênticas peças de
museu, que o amigo Augusto também conheceu, saíram de lá aos pedaços! Ainda
tentei junto da Câmara Municipal tentar salvar o referido equipamento. Falei
com a Senhora Presidente, antes de entregar as chaves ao senhorio, para que a
autarquia ficasse com as velhas máquinas, mas infelizmente remeteram-se ao
silêncio. Não queria nada em troca, apenas que este histórico equipamento fosse
colocado na Biblioteca Municipal, no Arquivo Municipal, na Oficina da Criança,
ou noutro local qualquer. Não era preferível as máquinas ficarem em exposição
para memória futura? Amigo Mário, estou completamente de acordo consigo, pois já o
Padre António Vieira (1608 – 1697) dizia: "Se
no passado se vê o futuro, e no futuro se vê o passado, segue-se que no passado
e no futuro se vê o presente, porque o presente é futuro do passado, e o mesmo
presente é o passado do futuro".
Infelizmente, a Câmara Municipal, que investe e bem, na cultura, deixou destruir o único e valioso património existente no concelho, no que às artes gráficas diz respeito. Não assegurou que as gerações futuras viessem a conhecer ao vivo, como se compunha manualmente, com caracteres de chumbo - jornais, livros, facturas, recibos, convites de casamento, cartões de visita, e os prospectos, a anunciarem a realização de jogos de futebol, de filmes, de touradas e de outros eventos, que se realizavam na vila, e finalmente, como se processava a passagem do texto armazenado no componedor com as letras de cabeça para baixo, para o papel. Acabou assim, sem glória, a existência do mais antigo estabelecimento montemorense!!!
Infelizmente, a Câmara Municipal, que investe e bem, na cultura, deixou destruir o único e valioso património existente no concelho, no que às artes gráficas diz respeito. Não assegurou que as gerações futuras viessem a conhecer ao vivo, como se compunha manualmente, com caracteres de chumbo - jornais, livros, facturas, recibos, convites de casamento, cartões de visita, e os prospectos, a anunciarem a realização de jogos de futebol, de filmes, de touradas e de outros eventos, que se realizavam na vila, e finalmente, como se processava a passagem do texto armazenado no componedor com as letras de cabeça para baixo, para o papel. Acabou assim, sem glória, a existência do mais antigo estabelecimento montemorense!!!
Tal como os humanos, também as máquinas têm sortes diferentes
Dois anos antes da destruição do valioso equipamento da Tipografia
União, na reunião da Câmara Municipal de Évora, realizada em 14 de Março de
2018, e presidida pelo nosso conterrâneo Carlos Pinto de Sá, foi aprovada por
unanimidade, a aceitação da doação de peças de tipografia à Câmara Municipal de
Évora, pelo antigo mestre tipográfico Feliciano Caeiro, antigo sócio-gerente da
desaparecida tipografia Bráulio Fonseca & Caeiro Lda., tendo toda a Câmara
expressado a sua gratidão ao doador.
Como tudo na vida, é preciso ter sorte...
Como tudo na vida, é preciso ter sorte...
Augusto Mesquita
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