Conhecida por sua extravagância,
a corte do monarca tinha uma rotina reprovável — que vão contra qualquer hábito
de higiene atual
Frente do
Palácio de Versalhes - Wikimedia Commons
Apesar do luxo exorbitante que caracterizava a
construção e a vida no Palácio de Versalhes, que iam, inclusive,
em contramão com a situação que a população francesa vivia, o local não era
sinônimo de higiene. A própria corte tinha dificuldade em seguir hábitos, que
hoje achamos normais, necessários para uma convivência saudável.
Apesar do mito que diz que o Rei Luís XIV tomou
somente três banhos ao longo de toda sua vida, o monarca se banhava em
dispositivos portáteis como uma forma de prazer com suas amantes do que
propriamente para se limpar. Para a Madame de Montespan, o Rei Sol tinha uma
banheira octogonal com água parada.
Os súditos que moravam no palácio não tinham seus
próprios banheiros, então era frequente que eles tomassem o que conhecemos hoje
como "banhos de gato", geralmente com panos secos ou com álcool, mas sem se banhar
propriamente.
As camisas do rei e dos súditos nunca eram lavadas.
Feitas principalmente de veludo ou seda, as peças eram artigos de luxo e
custavam muito — chegando, inclusive, a constarem em testamentos — e o material
poderia estragar caso fosse lavado. Ou seja, o cheiro ficava impregnado no
pano.
Em livros farmacêuticos da época, diversas eram as
receitas para bálsamos e tinturas que serviam para acabar com mau hálito e o
chulé. Os dentes eram cuidados o máximo possível, mas a maioria das medidas não
eram tão eficazes. Além disso, o açúcar era um artigo de luxo, que a
nobreza o consumia em excesso, sendo responsável por inúmeros casos de cáries.
O rei e sua mulher, Maria Teresa, não tinham bocas
muito saudáveis. Os dentes da rainha eram ruins já no momento em que se
casaram, quando ela tinha 22 anos, e o Rei tinha um péssimo hálito, muito por
conta de uma particularidade em sua mandíbula, que fez com que já nascesse com
dois dentes na boca.
O Rei Sol, Luís XIV / Crédito: Wikimedia
Commons
O inevitável fedor dos ricos era amenizado com fortes
perfumes, geralmente vindos de origem animal. Os sachês de perfume eram
costurados nas próprias roupas, preferencialmente nas axilas e coxas.
Luís, quando mais jovem, usava perfumes de maneira
desenfreada, porém, com o passar dos tempos, sua preferência por cheiros menos
fortes começou a florescer, e passou a ficar enjoado cada vez que sentia o
aroma. Certa vez, Madame de Monstespan não teve sua entrada permitida na
carruagem real por conta de seu forte aroma de perfume e creme corporal.
A essência predileta do Rei Sol era, certamente, a de
flores de laranjeira. O cheiro era tão amado por Luís, que não somente o seu
quarto tinha o doce aroma, como também as fontes das ruas tinham adicionadas
esse cheiro.
Os perfumes tinham outra função fundamental no
Palácio, o de disfarçar os aromas sórdidos vindos dos banheiros. O cheiro dos
banheiros comuns era tão insuportável, que muitos residentes de Versalhes
aliviavam suas necessidades em qualquer outro canto, além dos cachorros do
palácio que não tinham muito pudor em escolher onde iriam defecar.
Os quartos abrigavam potes dedicados aos excrementos
dos residentes, que eram simplesmente jogados pelas janelas pelas mãos dos
criados, uma vez que as latrinas eram muito distantes dos palácios. Em visitas
oficias, os nobres poderiam usar esses vasos sanitários móveis, mas muitas
vezes não havia o suficiente para todos. A solução era fazer as necessidades
atrás de cortinas e esperar que um criado fosse limpar.
Apesar dos excessos da realeza com os luxos de quem
vivia no Palácio, a higiene realmente não era o ponto forte do lugar. Luís
morreu aos 76 anos, bem além da expectativa da época, e, certamente, tomou mais
do que três banhos nesse tempo todo.
CAIO TORTAMANO PUBLICADO EM 18/03/2020
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