CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
Uma crónica sobre
tapetes 3
Hoje a crónica é também sobre um tipo de
tapete que vamos ter de passar a usar muito mais: o mouse-pad, ou seja aquele
tapetinho em que movimentamos o rato do computador para vermos, ouvirmos e
falarmos através dele. Vamos, quero dizer, nós os que temos que, ou queremos,
manter contacto com o mundo sem presenças perigosas para a saúde pública.
Pouco mais de metade do mundo já está
relativamente preparado para a ubiquidade da comunicação: ao mesmo tempo, em
lugares diferentes, o mesmo discurso. Discursos que, depois, se podem revisitar
ipsis verbis, assíncronamen te. Mais do que hardware, skills, pads, IPads ou
outros confortos que, finalmente, possam vir a ser ferramentas e não luxos ou
negociatas (talvez Magalhães seja mais do que nome de circum-navegador na nossa
memória e se faça justiça retroactivamente); mais do que isto que é o básico,
obrigatório e imprescindível, e que todos os responsáveis por orçamentos não
poderão empatar (sob pena de algo não estar a bater mesmo nada certo nesta
democracia), o que importa é que quem use e usufrua deste universo tecnológico
esteja consciente do que vai estar em causa. Em público e em privado fazem-se e
dizem-se coisas diferentes. É disto que estamos mesmo a falar: um muito maior
escrutínio do que já não se faz só dentro de uma sala, já que a privacidade é
apenas um pressuposto facilmente deposto.
Que os novos utilizadores das tecnologias,
depois do b-a-ba inicial, aprendam as outras regras do comportamento em
público. Sob pena de passarem por vários adjectivos: do preguiçoso ou medroso
ou altivo – para quem não intervém no mesmo plano – ao tonto, fala-barato ou
provocador – para quem parece não medir o que diz ou quando diz, em público.
Todos quantos passarmos a deslizar neste
plano tecnológico, somos chamados a fazê-lo consciente e criticamente, sem
qualquer espécie de atitude passional que o imponha a tudo e todos, a toda a
hora – é que ao discurso fora do contexto real chama-se delírio e a tal
ubiquidade da internet propicia-o; ou numa atitude religiosa, que o considere o
milagre salvífico da Humanidade. Para isso continuamos a ter Deus, naquela
relação que o desassossegado Pessoa nos descreveu: “Nasci num tempo em que a
maioria dos jovens haviam perdido a crença em Deus, pela mesma razão que os
seus maiores a haviam tido – sem saber porquê.”
Até para a semana.
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