MARIA HELENA FIGUEIREDO
Amigos
amigos, Covid à parte
Tempos difíceis estes em que devemos
todos juntar esforços e canalizar os recursos para que o Estado possa reforçar
os meios do Serviço Nacional de Saúde e garantir, em primeiro lugar, a saúde e
os mínimos de sobrevivência a tantos e tantas que perderam o emprego, única
fonte de rendimento para se manter.
Este
é o esforço nacional que se espera que todos compreendamos e no qual
colaboremos para relançamento da actividade económica, para manutenção dos
empregos e dos salários.
Quem
manteve o posto de trabalho está a fazer a sua parte nos hospitais, nos
transportes públicos, nos supermercados, nas farmácias. Está nas fábricas, no
campo, nas estradas. Em casa, quem pode, está em teletrabalho. Os pequenos
empresários da restauração estão a recorrer ao Take away para sobreviver.
Surgem
iniciativas de empresas a tentar reconverter a produção para dar resposta ao
SNS, a tentar manter a produção e o abastecimento.
Em
contrapartida, os mesmos de sempre na primeira linha do ataque ao que é
público, apesar da crise, não hesitam em querer que seja o Estado a encaixar
quebras das suas receitas e, se possível, ainda ganhar.
Esta
semana os Hospitais privados, que têm por trás grupos financeiros, “avisaram” o
Governo que querem cobrar ao Serviço Nacional de Saúde todas as despesas feitas
por doentes COVID19, não os que o SNS lhes mandou, mas os que por sua própria
vontade optaram por recorrer aos privados. Testes, internamentos em hospitais
de luxo, tudo a facturar no final ao Estado.
A
Ministra da Saúde respondeu, e bem, que o Estado paga quem for enviado pelo
SNS. Mas a resposta do Governo é ainda curta. O Governo deveria ter feito a
requisição de hospitais privados alguns, como o do SAMS, encerrados quando
surgiu a crise.
A
requisição civil é possível? Sim, o decreto do estado de emergência permite
fazê-lo, mas parece que o Governo se “encolheu”, faltando-lhe o peito para dar
esse passo. E quanto aos custos da requisição, certamente seriam menores que a
contratualização de serviços aos privados e a aquisição e montagem de novos
serviços.
Também
nem sequer se poderá dizer que a requisição civil é inovadora ou “perigosamente
socialista”: A Irlanda não hesitou e requisitou os hospitais privados. Fez bem,
é assim que faz um governo corajoso. É assim que o Governo deve fazer.
Mas
não foram só os hospitais. As concessionárias das auto-estradas, não
satisfeitas com o pagamento da contrapartida anual já inscrita no orçamento,
querem ser indemnizadas pela quebra em 75% de movimento nas auto-estradas. As
PPP, um dos negócios rentistas mais desastrosos para o Estado e que de 2011 a
2018 nos custaram 12 mil milhões, vão custar este ano 1.500 milhões de euros.
O
Governo já afirmou que não vai pagar, mas em boa verdade o que deveria fazer era
renegociar estes acordos ruinosos pelos quais está a pagar muito mais do que
alguma vez seria admissível.
E
não desmerecendo do que já nos habituaram, apesar de a “banca estar muito
motivada para ajudar a economia” segundo Marcelo, o certo é que alguns bancos
não estão a informar das moratórias ao crédito, não estão a emprestar às
pequenas e micro empresas e, quando emprestam, estão a praticar juros e spreads
elevados no crédito que é garantido pelo Estado. Tudo quando eles próprios se
financiam no Banco Central Europeu a juros negativos, ou seja, o BCE está a
pagar-lhes para financiarem a economia. Encaixam assim, sem qualquer risco,
lucro elevado quando deveriam estar a emprestar a taxa 0 e a spread baixo.
Esta
solidariedade, que ombreia com a demonstrada pela Holanda no Eurogrupo, mostra
bem com quem podemos contar para ultrapassar os tempos difíceis que se
avizinham.
Fiquem
bem, protejam-se e até para a semana.
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