Rui
Mendes
Quanto mais nos aproximamos do início do
mês de maio mais as preocupações com a economia vão aparecendo.
Os representantes das entidades patronais não se têm cansado de
referir que as medidas tomadas são insuficientes e que tardam em chegar à
economia real. É necessário assegurar a vida das empresas, para garantir os
postos de trabalho.
Por um lado, teremos de entender a cautela dos bancos.
Por outro lado, é incompreensível a morosidade em dar respostas em
tempo. O tempo aqui faz a diferença entre conseguir resistir ou sucumbir.
As moratórias serão meios para adiar compromissos, permitirão
apenas prorrogar o pagamento de capital e juros, mas não será esta via que irá
resolver problemas. Nalguns casos terá um efeito incerto.
É liquidez que a economia precisa nestes tempos, para que empresas
e famílias possam assegurar compromissos.
Esta crise veio expor uma série de problemas, desde logo a falta
de liquidez de empresas e das famílias e os elevados endividamentos de ambos.
Pese embora esta seja uma crise económica mundial, o certo é que
nem todos os países irão passar pelo mesmo tipo de dificuldades.
Muitos terão condições para recorrer aos mercados e conseguir, per
si, superar esta fase, porque possuem níveis de endividamento relativamente
baixos.
Outros, no qual Portugal se inclui, não têm essas condições porque
os mercados têm baixos níveis de confiança no país, o qual possui uma divida
superior a 120% do PIB, sendo natural que no curto prazo ela cresça, quer pela
necessidade de recorrer a novos empréstimos, quer ainda pela previsível quebra
do PIB.Entre 2007 e 2016 a dívida pública portuguesa (em % do PIB), passou de
68,4% para 130,1%.
Cerca de metade dos países que integram a UE possuem dívidas
públicas inferiores a 60% do seu PIB, ou seja, têm conseguido superar
dificuldades sem recorrer excessivamente ao endividamento.
Portugal faz exatamente o contrário. Recorre sistematicamente ao
endividamento, razão por que estamos sempre no grupo dos aflitos.
A nossa boia tem sido a UE e, desta vez não será diferente, será a
solidariedade dos países da União Europeia que nos facilitará os recursos
financeiros necessários para o embate económico que vamos ter de enfrentar. Mas
seja por que via for, haverá sempre faturas a pagar.
Sabemos que os tempos que se avizinham estão cheios de incertezas.
Mas, ainda assim, e após várias hesitações, o primeiro-ministro
decidiu que não iremos ter novamente austeridade. Independentemente da dimensão
da crise o PM decidiu assim.
A afirmação foi proferida no parlamento e está patente na primeira
página do jornal I, edição de 23 de abril: “Não haverá austeridade”
Sossega-nos saber que iremos ter aumentos em 2021 e que os
impostos não irão subir, porventura até descer, sabendo-se que a receita fiscal
irá ter uma significativa redução. Porque isto é que são os sinais de que não
serão tomadas medidas de austeridade.
O que porventura o primeiro-ministro ainda não percebeu é que
ninguém quer aplicar medidas de austeridade, elas sempre trazem impactos
negativos, especialmente em termos sociais.
O que talvez o primeiro-ministro ainda não percebeu é que a
austeridade não é uma apenas uma escolha, é uma consequência.
Fiquem bem, fiquem em casa
Até para a semana
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