sexta-feira, 24 de abril de 2020

A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM


Rui Mendes
Quanto mais nos aproximamos do início do mês de maio mais as preocupações com a economia vão aparecendo.
Os representantes das entidades patronais não se têm cansado de referir que as medidas tomadas são insuficientes e que tardam em chegar à economia real. É necessário assegurar a vida das empresas, para garantir os postos de trabalho.
Por um lado, teremos de entender a cautela dos bancos.
Por outro lado, é incompreensível a morosidade em dar respostas em tempo. O tempo aqui faz a diferença entre conseguir resistir ou sucumbir.
As moratórias serão meios para adiar compromissos, permitirão apenas prorrogar o pagamento de capital e juros, mas não será esta via que irá resolver problemas. Nalguns casos terá um efeito incerto.
É liquidez que a economia precisa nestes tempos, para que empresas e famílias possam assegurar compromissos.
Esta crise veio expor uma série de problemas, desde logo a falta de liquidez de empresas e das famílias e os elevados endividamentos de ambos.
Pese embora esta seja uma crise económica mundial, o certo é que nem todos os países irão passar pelo mesmo tipo de dificuldades.
Muitos terão condições para recorrer aos mercados e conseguir, per si, superar esta fase, porque possuem níveis de endividamento relativamente baixos.
Outros, no qual Portugal se inclui, não têm essas condições porque os mercados têm baixos níveis de confiança no país, o qual possui uma divida superior a 120% do PIB, sendo natural que no curto prazo ela cresça, quer pela necessidade de recorrer a novos empréstimos, quer ainda pela previsível quebra do PIB.Entre 2007 e 2016 a dívida pública portuguesa (em % do PIB), passou de 68,4% para 130,1%.
Cerca de metade dos países que integram a UE possuem dívidas públicas inferiores a 60% do seu PIB, ou seja, têm conseguido superar dificuldades sem recorrer excessivamente ao endividamento.
Portugal faz exatamente o contrário. Recorre sistematicamente ao endividamento, razão por que estamos sempre no grupo dos aflitos.
A nossa boia tem sido a UE e, desta vez não será diferente, será a solidariedade dos países da União Europeia que nos facilitará os recursos financeiros necessários para o embate económico que vamos ter de enfrentar. Mas seja por que via for, haverá sempre faturas a pagar.
Sabemos que os tempos que se avizinham estão cheios de incertezas.
Mas, ainda assim, e após várias hesitações, o primeiro-ministro decidiu que não iremos ter novamente austeridade. Independentemente da dimensão da crise o PM decidiu assim.
A afirmação foi proferida no parlamento e está patente na primeira página do jornal I, edição de 23 de abril: “Não haverá austeridade”
Sossega-nos saber que iremos ter aumentos em 2021 e que os impostos não irão subir, porventura até descer, sabendo-se que a receita fiscal irá ter uma significativa redução. Porque isto é que são os sinais de que não serão tomadas medidas de austeridade.
O que porventura o primeiro-ministro ainda não percebeu é que ninguém quer aplicar medidas de austeridade, elas sempre trazem impactos negativos, especialmente em termos sociais.
O que talvez o primeiro-ministro ainda não percebeu é que a austeridade não é uma apenas uma escolha, é uma consequência.
 Fiquem bem, fiquem em casa
Até para a semana


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