quinta-feira, 23 de abril de 2020

A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM

o    Eduardo Luciano
o                                                                               CELEBRAR ABRIL
E ao quadragésimo sexto aniversário os saudosistas da ditadura, as vítimas do revisionismo histórico e os crentes nas histórias da carochinha que uma certa comunicação foi contando repetidamente, umas vezes com desaforo outras através de mensagens subliminares, surgiram à tona das águas turvas deste tempo de medos a assumir frontalmente o seu ódio à esperança semeada em 1974.
Os arquétipos que o fascismo construiu e através dos quais formatou gerações de portugueses, estão a voltar à superfície de uma forma que não imaginávamos há uns anos.
O hipócrita respeitador da lei e da ordem quando aplicada aos outros, o moralista que se agita contra a corrupção de manhã e à tarde vai pedir um jeitinho a um qualquer conhecido, o que anseia pela autoridade imposta aos outros pedindo sempre para si aquela excepçãozinha porque é uma pessoa de bem. O que acha que ser português é pertencer a uma raça distinta e superior da qual é ele próprio um exemplo vivo. O que acha que os “intelectuais” complicam tudo só para que o bom povo não perceba e que esta coisa de qualquer borra-botas poder tirar um curso superior não serve para nada e, claro, o bufo, que foi o grande recrutador de opositores ao regime para serem torturados e privados da liberdade.
Claro que não são uma maioria, nunca foram, mas as suas palavras começam a ganhar adeptos num exército de desiludidos que são levados a acreditar no primarismo de palavras atiradas ao vento e que tendencialmente são música para ouvidos cansados.
No contexto que vivemos, em pleno estado de emergência e com direitos constitucionais suspensos, há quem queira suspender a própria ideia de democracia e, quem sabe, transformar este período num balão de ensaio para aventuras futuras.
São uma minoria ruidosa que é preciso combater no dia-a-dia no campo das ideias mas também no campo da acção política com alternativas claras e inequívocas às políticas que durante décadas contrariaram os sonhos da Revolução da Abril.
É preciso demonstrar, na prática, que o caminho não é o regresso a um passado miserável e obscuro, mas o cumprimento dos ideais de Abril e a construção de uma sociedade mais justa, onde a riqueza criada por muitos não seja distribuída por uma ínfima minoria.
Não basta a existência da democracia política, é preciso avançar na concretização da democracia económica, social e cultural que a Constituição da República preconiza.
O fascismo não se discute, combate-se. E a melhor forma de o combater é a concretização dos ideais prometidos em Abril.
Estamos confinados em casa, não podemos celebrar como nos outros anos com música e fogo-de-artifício e não podemos sair à rua em desfile, mas exigimos que os que nos representam na Assembleia da República o façam em nome de todos nós, sem tibiezas nem desculpas, com os cuidados que entenderem necessários.
O fascismo alimenta-se do medo. Matemo-lo à fome.

Até para a semana

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