Eu e o rebanho.
Julgo que não sou pastor, nem ovelhas
guardo. E, tenho ovelhas e estas tiveram borreguinhos. Ao todo são trinta e
oito. Trato delas e deles. Dois a biberon. Um encanto.
Entre nós há
um entendimento perfeito, nascido da minha simplicidade de voz e de suaves
gestos. Não grito mas falo com elas, numa linguagem oral e gestual, por elas
entendível, que pouco a pouco me foram compreendendo. E. eu comecei a
compreender os seus hábitos, as suas vontades, a maneira de ser de cada uma.
Há uma
sintonia perfeita, entre mim e as ovelhas, diferente das demais pessoas
possuidoras dos mesmos animais. Enquanto as outras pessoas vão atrás delas
munidos de varapaus, normalmente sempre gritando, eu sigo á sua frente, sem
varas nem paus, apenas servindo-me dos meus braços. E, quando abro os braços
elas param, esperando que lhe dê nova ordem de avanço.
Quando passo
ao pé de uma delas, estendo a mão que elas cheiram, parecendo cumprimentarem-me.
Para as reunir
basta gritar-lhe, "Well" "Well", e, logo elas me vão
cercando, para a partida para ouras pastagens.
O meu neto,
brincou :"Avô elas até sabem
inglês"
Entre nós não
há conflitos, nem divergências, estamos sempre de comum acordo em obediência
aos seus hábitos e costumes, e, isto, como humano, faz-me pensar e refletir outros
rebanhos seguidores de doutrinas humanitárias, religiosas, ate politicas, onde
se levantaram sérias divergências, que dão origem a grandes conflitos, cujos
seguidores dificilmente conseguem sanar, divergindo da doutrina inicial.
Novas seitas
se levando, denegrindo-se e odiando-se, chegando mesmo à incompatibilidade e,
por vezes à guerra, para imporem uns aos outros as suas razões ou a sua visão
diferente da genuína visão doutrinal.
Tentam sempre
ir mais além, dizendo que fazem mais e melhor pelos outros, pelos crentes ou
seguidores, e, parecendo ser mais bondosos, compreensivos, e, amigos de toda a
gente, mas depois da conquista do poleiro, do poder, darem os seus golpes … ài
das bases, dos incautos, daqueles que sendo seguidores ou mesmo adoradores, são
normalmente espoliados, pagadores de pecados, sem que os tenham praticado. Idealizam-nos, inventam-nos e fazem ao homem
simples dizer que sim, condenando-o, e, eis que á luz do dia parecem
santificados, mesmo endeusados.
Bem se
levantam profetas, futuristas, bandarras, cartomantes, mas tudo fica. Não como
dantes, mas com menos compreensão e amor.
Os humanos
tentam destruir a humanidade, auto destruindo-se.
Ah como é bom
não ser pastor, mas com o viver em harmonia com o meu rebanho, com as minhas
ovelhas, sujeitando-me aos seus hábitos, num ambiente que pouco a pouco, também,
vou modificando.
As árvores
compreendendo-me permitem que as enfeite com os meus cortes, dando-lhe estilo e
beleza de que se vão renovando, e, quando por elas passo, pedem ao vento para
me cumprimentar e acariciar, fazendo-me festinhas na cara. E, como me alegram
com as suas flores, cheiros e o encanto dos seus frutos.
A terra, o
solo da tapada da Vinha, que deveria estar descontente comigo, porque todos os
dias o piso, não está, antes, pelo contrário, agradece os meus arranjos, sentindo-se
embelezado com as minhas plantações e sementeiras, com as eliminações das ervas
daninhas e das pedras.
Ah, as aves, as rolas, as garças brancas, as
cegonhas e as águias que todos os dias me visitam, e me distraem como o seu
esvoaçar, como me encantam com os seus chilrear e cantos, revelando o
irrequieto e atrevido pardal.
Mas, também
tenho galinhas cujo procedimento é quase semelhante às ovelhas, fazendo-me
acautelar para não encalhar nelas, não se desviam, confiando inteiramente em
mim.
E, as flores
com as suas variadas cores e cheiros, revelando o cheiro da mimosa, da
nespereira, do alecrim e agora nesta época, o cheiro das flores, das faveiras, que me enchem os pulmões de vida
e me dão novas forças, novo alento.
E, é este
ambiente paradisíaco, que aos setenta e nove anos, me dá vida e discernimento e
me permite dizer, estou aqui e ainda continuo a sonhar, para enfrentar as delícias
e as agruras da vida.
O meu regresso,
há um ano á minha terra, a Terena, á tapada da Vinha é um viver diário de encantos
renováveis e esperançosos, que me fazem conservar uma mente jovem,
empreendedora, vencendo os objetivos que proponho a mim mesmo, e, que me
permite fazer o que penso, sem cansaços, nem hesitações do meu corpo.
Aqui recordo a
minha infância, a minha adolescência, a minha juventude, os meus gostos e desgostos,
o bem que fiz, o mal que pratiquei, o meu passado, que revejo e não renego.
Estas palavras
não devem ser entendidas como um balanço do "Deve e do Haver",
motivado pela frieza das contas, mas sim um balanço afetivo de um regresso, de
quem não resistiu às suas origens, ao seu passado e ás suas Memórias.
Bem haja o
Alentejo.
Hélder Salgado.
Terena, 02-02-2020.
2 comentários:
OBS.
Atento a esta tua Verde narrativa, o engraçado nela, é ver o mesmo que o
teu neto achou e, eu daqui, também acho . As ovelhas, em Terena, até já
percebem um pouco e obedecem muito em inglês.
Mas, já que a cena é assim, arranja lá um bocadinho mais de
paciência e vai tratando de as pôr a falar francês, a entender "o Ciao"
italiano, ou a soletrar o alemão. Tempo para este sucesso acho que
o descobrirás.
Seria uma grande invenção neste nosso Concelho da União Europeia.
Viral e turístico. Mundial e regional. Com lã e boas carnes d`ovelha.
Concordas?
Cumprimentos
ANB
ANB
Todos os nossos poros brotam a hormona da felicidade junto dos nossos maiores amigos, só ai realmente conseguimos encontrar aquilo que não precisamos de procurar está sempre ali à nossa beira, A FELICIDADE.
OBRIGADA A QUEM CRIOU OS ANIMAIS
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