quarta-feira, 4 de março de 2020

QUANDO SE REGRESSA À TERRA QUE NOS VIU NASCER…


                                               Eu e o rebanho.
Julgo que não sou pastor, nem ovelhas guardo. E, tenho ovelhas e estas tiveram borreguinhos. Ao todo são trinta e oito. Trato delas e deles. Dois a biberon. Um encanto.
Entre nós há um entendimento perfeito, nascido da minha simplicidade de voz e de suaves gestos. Não grito mas falo com elas, numa linguagem oral e gestual, por elas entendível, que pouco a pouco me foram compreendendo. E. eu comecei a compreender os seus hábitos, as suas vontades, a maneira de ser de cada uma.  
Há uma sintonia perfeita, entre mim e as ovelhas, diferente das demais pessoas possuidoras dos mesmos animais. Enquanto as outras pessoas vão atrás delas munidos de varapaus, normalmente sempre gritando, eu sigo á sua frente, sem varas nem paus, apenas servindo-me dos meus braços. E, quando abro os braços elas param, esperando que lhe dê nova ordem de avanço.
Quando passo ao pé de uma delas, estendo a mão que elas cheiram, parecendo cumprimentarem-me.
Para as reunir basta gritar-lhe, "Well" "Well", e, logo elas me vão cercando, para a partida para ouras pastagens.
O meu neto, brincou :"Avô elas até sabem inglês"
Entre nós não há conflitos, nem divergências, estamos sempre de comum acordo em obediência aos seus hábitos e costumes, e, isto, como humano, faz-me pensar e refletir outros rebanhos seguidores de doutrinas humanitárias, religiosas, ate politicas, onde se levantaram sérias divergências, que dão origem a grandes conflitos, cujos seguidores dificilmente conseguem sanar, divergindo da doutrina inicial.
Novas seitas se levando, denegrindo-se e odiando-se, chegando mesmo à incompatibilidade e, por vezes à guerra, para imporem uns aos outros as suas razões ou a sua visão diferente da genuína visão doutrinal.  
Tentam sempre ir mais além, dizendo que fazem mais e melhor pelos outros, pelos crentes ou seguidores, e, parecendo ser mais bondosos, compreensivos, e, amigos de toda a gente, mas depois da conquista do poleiro, do poder, darem os seus golpes … ài das bases, dos incautos, daqueles que sendo seguidores ou mesmo adoradores, são normalmente espoliados, pagadores de pecados, sem que os tenham praticado.  Idealizam-nos, inventam-nos e fazem ao homem simples dizer que sim, condenando-o, e, eis que á luz do dia parecem santificados, mesmo endeusados.  
Bem se levantam profetas, futuristas, bandarras, cartomantes, mas tudo fica. Não como dantes, mas com menos compreensão e amor.  
Os humanos tentam destruir a humanidade, auto destruindo-se.
Ah como é bom não ser pastor, mas com o viver em harmonia com o meu rebanho, com as minhas ovelhas, sujeitando-me aos seus hábitos, num ambiente que pouco a pouco, também, vou modificando.
As árvores compreendendo-me permitem que as enfeite com os meus cortes, dando-lhe estilo e beleza de que se vão renovando, e, quando por elas passo, pedem ao vento para me cumprimentar e acariciar, fazendo-me festinhas na cara. E, como me alegram com as suas flores, cheiros e o encanto dos seus frutos.
A terra, o solo da tapada da Vinha, que deveria estar descontente comigo, porque todos os dias o piso, não está, antes, pelo contrário, agradece os meus arranjos, sentindo-se embelezado com as minhas plantações e sementeiras, com as eliminações das ervas daninhas e das pedras.
 Ah, as aves, as rolas, as garças brancas, as cegonhas e as águias que todos os dias me visitam, e me distraem como o seu esvoaçar, como me encantam com os seus chilrear e cantos, revelando o irrequieto e atrevido pardal.
Mas, também tenho galinhas cujo procedimento é quase semelhante às ovelhas, fazendo-me acautelar para não encalhar nelas, não se desviam, confiando inteiramente em mim.
E, as flores com as suas variadas cores e cheiros, revelando o cheiro da mimosa, da nespereira, do alecrim e agora nesta época, o cheiro das flores,  das faveiras, que me enchem os pulmões de vida e me dão novas forças, novo alento.
E, é este ambiente paradisíaco, que aos setenta e nove anos, me dá vida e discernimento e me permite dizer, estou aqui e ainda continuo a sonhar, para enfrentar as delícias e as agruras da vida.   
O meu regresso, há um ano á minha terra, a Terena, á tapada da Vinha é um viver diário de encantos renováveis e esperançosos, que me fazem conservar uma mente jovem, empreendedora, vencendo os objetivos que proponho a mim mesmo, e, que me permite fazer o que penso, sem cansaços, nem hesitações do meu corpo.
Aqui recordo a minha infância, a minha adolescência, a minha juventude, os meus gostos e desgostos, o bem que fiz, o mal que pratiquei, o meu passado, que revejo e não renego.
Estas palavras não devem ser entendidas como um balanço do "Deve e do Haver", motivado pela frieza das contas, mas sim um balanço afetivo de um regresso, de quem não resistiu às suas origens, ao seu passado e ás suas Memórias.
Bem haja o Alentejo.  
Hélder Salgado.
Terena, 02-02-2020.

2 comentários:

Anónimo disse...



OBS.


Atento a esta tua Verde narrativa, o engraçado nela, é ver o mesmo que o

teu neto achou e, eu daqui, também acho . As ovelhas, em Terena, até já

percebem um pouco e obedecem muito em inglês.

Mas, já que a cena é assim, arranja lá um bocadinho mais de

paciência e vai tratando de as pôr a falar francês, a entender "o Ciao"

italiano, ou a soletrar o alemão. Tempo para este sucesso acho que

o descobrirás.

Seria uma grande invenção neste nosso Concelho da União Europeia.

Viral e turístico. Mundial e regional. Com lã e boas carnes d`ovelha.

Concordas?



Cumprimentos


ANB


ANB

Anónimo disse...

Todos os nossos poros brotam a hormona da felicidade junto dos nossos maiores amigos, só ai realmente conseguimos encontrar aquilo que não precisamos de procurar está sempre ali à nossa beira, A FELICIDADE.

OBRIGADA A QUEM CRIOU OS ANIMAIS