Parece que estou sozinho, mas não. Estou sempre acompanhado com as figuras imaginárias
que crio, quando à noite me sento ao computador e saio de casa.
Pelo Natal viajei ate ao Norte onde assisti ao nascimento da
"Esmeralda a princesa do lameiro da serra do Suajo", depois baixei à
serra de Ossa, onde constatei "O crime do Monge Mor", para agora
estar com o Zé Agostinho, no monte da Graça, na serra da Sina, perto de
Ferreira de Capelins.
E, é para uma viagem imaginária que vos quero convidar. Venham comigo. Decerto que não é tempo perdido. A peça já é conhecida de alguns. É divertida, acreditem Gostaram e aplaudiram. Não fiquem em casa, venham. Estão todos convidados.
E, é para uma viagem imaginária que vos quero convidar. Venham comigo. Decerto que não é tempo perdido. A peça já é conhecida de alguns. É divertida, acreditem Gostaram e aplaudiram. Não fiquem em casa, venham. Estão todos convidados.
O
Cineteatro é na rua da Mata, na sede do Concelho. Fica situado á direita de
quem sobe a Praça. Já vejo o Manel Augusto e o Dino, mas,… desculpem porque hoje
a a cantoria é outra. A rua está quase cheia. Acaba de chegar o António Bastos
e a Maria João, logo seguidos do presidente João Grilo. Olha, que surpresa, a
minha prima Rosália, veio do Barreiro. Todos apinhados, a rua está repleta. Por
favor deem um espaço, as portas vão-se abrir. Não é necessário entrar-se de
roldão, Há neste imaginário espaço para todos, nada de apertos, e muito menos
de cotoveladas. Já soam as três pancadinhas de Molière. Mergulhou-se no
silêncio total. O espetáculo vai começar.
NA LOJA DO BERNARDINO
cenário:
Balcão corrido com estantes com fazendas e vestiário feminino e masculino.
O Sr. Bernardino, homem esguio e meio curvado, está vestido com uma bata
cinzenta. Está sozinho na loja, muito bem-disposto, cantarolando e bandeando o
corpo.
Está obcecado por beijar uma rapariga.
"Comadre rica comadre gosto muito da sua afilhada - repete - é bonita apresenta-se bem,
parece que tem a face roçada" - e ainda repetiu - parece que tem a face rosada - não dando por entrar a sua comadre Maria
Pulquéria, mulher mal vestida, curvada e com lenço na cabeça, que ouve a última
parte da cantiga,
O lojista prazenteiro apressa-se a falar. à Maria Pulquéria.
- Olha a mais simpática das minhas freguesas.
Responde a Maria Pulquéria com ar de firmeza.
- Era, mas vou deixar de o ser.
Responde o Bernardino surpreso.
- Ó comadre, vai deixar ser minha freguesa?
Resposta da Maria Pulquéria, na mira de levar roupa fiada ou de borla para a afilhada que faz dezoito anos.
- Não vou deixar de ser sua freguesa, mas agora, com certeza e desde já lhe digo, que vou deixar de ser simpática para consigo.
O lojista ainda mais surpreendido e meio atrapalhado.
- Ó mulher, que bicho lhe mordeu, comadre minha? Diga-me pela sua alminha, que mal lhe fiz eu?
A Pulquéria continua.
O senhor não se lembra, qual foi a sua oferta? Há um ano, quando a minha afilhada fez dezassete anos? e o senhor deu-lhe um beijo e uma reles prenda?
O Bernardino voltando-se para o público diz:
- E na gaveta tenho outra para lhe dar, ela é que não sabe.
E a comadre continuou.
- Quando lhe falo nisso, a alma da minha afilhada Vespertina, fica em reboliço, e a face rosada, tão rosada e a deitar cá um calor… que até parece tem aquela coisa avermelhada.
Bernardino, com os olhos esbugalhados e muito perto da comadre, a parecer que a querer engolir.
- Ó Maria Pulquéria, Pulquéria Maria não me trate desse jeito, que eu sou homem de respeito. Diga lá para o que vem, que eu já a vou aviar e, depois de me pagar, ponha-se daqui a andar.
A comadre, como a desprezar as palavras do lojista, e a sorrir tenta agarrar-lhes as mãos - o final da frase é dita muito lentamente e a esfregar as mãos.
- Para que está para aí a gritar, Bernardino meu compadre, não vamos perder o tino, que tudo se há-de arranjar, garante a Pulquéria a sua comadre... que tudo se há de arranjar.
Bernardino, mais alegre, mas com ar interrogativo.
- Já está com outro falar e a simpatia a voltar, se a Vespertina gostou, ainda a posso beijar?
A Maria Pulquéria, com voz meiga e ainda com meio sorriso.
- O que lhe posso dizer? Só sei que dezoito anos ela hoje vai fazer.
O lojista mais satisfeito.
- E para os anos comemorar, que prenda lhe vamos dar?
Maria Pulquéria.
- Um corpete de cetim, com lindos botões de marfim, para os seus peitos resguardar.
Bernardino todo babado.
- Era no que estava a pensar, pois ela já os tem a arredondar,- e não precisa pagar!
Maria Pulquéria, contente e surpreendida.
- Assim, até eu sou capaz de o beijar.
O lojista faz uma careta de repúdio.
- Chiça que é maluca.
O lojista prazenteiro apressa-se a falar. à Maria Pulquéria.
- Olha a mais simpática das minhas freguesas.
Responde a Maria Pulquéria com ar de firmeza.
- Era, mas vou deixar de o ser.
Responde o Bernardino surpreso.
- Ó comadre, vai deixar ser minha freguesa?
Resposta da Maria Pulquéria, na mira de levar roupa fiada ou de borla para a afilhada que faz dezoito anos.
- Não vou deixar de ser sua freguesa, mas agora, com certeza e desde já lhe digo, que vou deixar de ser simpática para consigo.
O lojista ainda mais surpreendido e meio atrapalhado.
- Ó mulher, que bicho lhe mordeu, comadre minha? Diga-me pela sua alminha, que mal lhe fiz eu?
A Pulquéria continua.
O senhor não se lembra, qual foi a sua oferta? Há um ano, quando a minha afilhada fez dezassete anos? e o senhor deu-lhe um beijo e uma reles prenda?
O Bernardino voltando-se para o público diz:
- E na gaveta tenho outra para lhe dar, ela é que não sabe.
E a comadre continuou.
- Quando lhe falo nisso, a alma da minha afilhada Vespertina, fica em reboliço, e a face rosada, tão rosada e a deitar cá um calor… que até parece tem aquela coisa avermelhada.
Bernardino, com os olhos esbugalhados e muito perto da comadre, a parecer que a querer engolir.
- Ó Maria Pulquéria, Pulquéria Maria não me trate desse jeito, que eu sou homem de respeito. Diga lá para o que vem, que eu já a vou aviar e, depois de me pagar, ponha-se daqui a andar.
A comadre, como a desprezar as palavras do lojista, e a sorrir tenta agarrar-lhes as mãos - o final da frase é dita muito lentamente e a esfregar as mãos.
- Para que está para aí a gritar, Bernardino meu compadre, não vamos perder o tino, que tudo se há-de arranjar, garante a Pulquéria a sua comadre... que tudo se há de arranjar.
Bernardino, mais alegre, mas com ar interrogativo.
- Já está com outro falar e a simpatia a voltar, se a Vespertina gostou, ainda a posso beijar?
A Maria Pulquéria, com voz meiga e ainda com meio sorriso.
- O que lhe posso dizer? Só sei que dezoito anos ela hoje vai fazer.
O lojista mais satisfeito.
- E para os anos comemorar, que prenda lhe vamos dar?
Maria Pulquéria.
- Um corpete de cetim, com lindos botões de marfim, para os seus peitos resguardar.
Bernardino todo babado.
- Era no que estava a pensar, pois ela já os tem a arredondar,- e não precisa pagar!
Maria Pulquéria, contente e surpreendida.
- Assim, até eu sou capaz de o beijar.
O lojista faz uma careta de repúdio.
- Chiça que é maluca.
Entra a Vespertina.
Rapariga de estatura mais alta que média, vestida com uma blusa leve, a mostrar
a saliência dos seios e uma saia rodada por cima dos joelhos, com ar de
leviana.
- Ó madrinha, Ó madrinha venho buscar a prenda minha.
E para que no meu corpo se veja……. prenda de faianca não seja.
O Bernardino olha para a rapariga embevecido.
- Posso-te dar um beijinho? Um corpete já tu tens, para apertar o teu corpinho, que o quero bem arranjadinho.
- Ó madrinha, Ó madrinha venho buscar a prenda minha.
E para que no meu corpo se veja……. prenda de faianca não seja.
O Bernardino olha para a rapariga embevecido.
- Posso-te dar um beijinho? Um corpete já tu tens, para apertar o teu corpinho, que o quero bem arranjadinho.
Vespertina, abanando por baixo os seios voltada para o público.
- É o que eu preciso ter, pois estas.... não param de crescer!
- É o que eu preciso ter, pois estas.... não param de crescer!
voltando-se, agora, para
o lojista –
mas para as poder resguardar, uma blusa eu tenho que comprar.
Não acha senhor Bernardino?.... o meu corpo cada dia está mais fino.
O lojista contente, e em tom baixo para o público
- Se está filha, se está filha. És um dom da natureza e com essa tua leveza, até eu subia ao Céu….. Ai quem me dera que esse corpo fosse meu.
E com muita meiguice, contínua
Posso-te dar um beijinho?
A madrinha, a refrear o lojista
- Comprar filha? e onde está o pilim?
Bernardino ao mesmo tempo que vai buscar uma blusa.
- Não se estão a esquecer de mim? aqui tens uma blusa de igual cetim, que nenhuma rapariga do Alandroal usou, e guardada para ti, naquela gaveta ficou.
O lojista contente, e em tom baixo para o público
- Se está filha, se está filha. És um dom da natureza e com essa tua leveza, até eu subia ao Céu….. Ai quem me dera que esse corpo fosse meu.
E com muita meiguice, contínua
Posso-te dar um beijinho?
A madrinha, a refrear o lojista
- Comprar filha? e onde está o pilim?
Bernardino ao mesmo tempo que vai buscar uma blusa.
- Não se estão a esquecer de mim? aqui tens uma blusa de igual cetim, que nenhuma rapariga do Alandroal usou, e guardada para ti, naquela gaveta ficou.
O lojista aproxima-se da rapariga e tenta colocar-lhe a blusa, primeiro no
peito depois nas costas. A rapariga deixa que o Bernardino lhe mire e remire o
corpo, com ar patético diz, voltando-se para o público.
- Que coisa fina que os meus olhos encantou, parece a Gina – e aqui engasga-se - , LoloLolo, Lolobrigida ou a Brigite Bardou
A Vespertina com matreirice objetiva.
- Ai senhor Bernardino é prenda de senhor fino, e só da blusa estrear eu já me sinto corar ou é do senhor de mim se aproximar?
A madrinha, referindo-se à afilhada, mas dirigindo-se ao lojista.
- Tem um corpo de encantar, esta minha afilhadinha e para esconder a perninha.... uma saia também está a precisar.
O Bernardino, a sentir-se enganado e voltando-se para o público;
- Mas onde é que isto vai parar.... e não há meio de a beijar.!
A madrinha insinuante.
- A esperança não vá perder …. pode ser que com a saia um beijinho lhe vá ter.
A rapariga para a madrinha e apontando para o lojista. Em voz baixa.
- Não se apoquente madrinha, ora.... veja lá a tática minha, que ela vai resultar e com a saia..... também ele vai entrar.
Dirige-se ao lojista mostrando desejo que ele lhe toque, quase a roçar-se por ele.
- Vá lá senhor Bernardino que não há duas sem três, e com a saia, pode ser que o beijinho venha de vez.
O Bernardino já vencido e tristonho.
- Podes muitos anos fazer, que prendas minhas nunca mais vais ter. Vá toma lá a saia e que eu noutra, nunca mais caia.
A Vespertina triunfante mas condescendente.
- Porque tem tanto desejo da minha cara beijar? estou-me eu a interrogar? Ora dê-me lá dois beijos ou ainda quer mais.
Os três a cantar, (cantar dos reis)
- Porque os beijos são desejos e atrás dos beijos vem tudo o mais.
Repete duas vezes com o público.
A madrinha e a afilhada saem, por momentos de cena e o Bernardino fica em palco sozinho e diz com ar interrogativo e triste:
- Maleitas de amor quem é que as não tem,? –
- Que coisa fina que os meus olhos encantou, parece a Gina – e aqui engasga-se - , LoloLolo, Lolobrigida ou a Brigite Bardou
A Vespertina com matreirice objetiva.
- Ai senhor Bernardino é prenda de senhor fino, e só da blusa estrear eu já me sinto corar ou é do senhor de mim se aproximar?
A madrinha, referindo-se à afilhada, mas dirigindo-se ao lojista.
- Tem um corpo de encantar, esta minha afilhadinha e para esconder a perninha.... uma saia também está a precisar.
O Bernardino, a sentir-se enganado e voltando-se para o público;
- Mas onde é que isto vai parar.... e não há meio de a beijar.!
A madrinha insinuante.
- A esperança não vá perder …. pode ser que com a saia um beijinho lhe vá ter.
A rapariga para a madrinha e apontando para o lojista. Em voz baixa.
- Não se apoquente madrinha, ora.... veja lá a tática minha, que ela vai resultar e com a saia..... também ele vai entrar.
Dirige-se ao lojista mostrando desejo que ele lhe toque, quase a roçar-se por ele.
- Vá lá senhor Bernardino que não há duas sem três, e com a saia, pode ser que o beijinho venha de vez.
O Bernardino já vencido e tristonho.
- Podes muitos anos fazer, que prendas minhas nunca mais vais ter. Vá toma lá a saia e que eu noutra, nunca mais caia.
A Vespertina triunfante mas condescendente.
- Porque tem tanto desejo da minha cara beijar? estou-me eu a interrogar? Ora dê-me lá dois beijos ou ainda quer mais.
Os três a cantar, (cantar dos reis)
- Porque os beijos são desejos e atrás dos beijos vem tudo o mais.
Repete duas vezes com o público.
A madrinha e a afilhada saem, por momentos de cena e o Bernardino fica em palco sozinho e diz com ar interrogativo e triste:
- Maleitas de amor quem é que as não tem,? –
Entram os três em cena,
cantando –
lá diz o Doutor que até fazem bem.
Bernardino
- É um mal dos antigos. E eu por dois beijos, .. deixei ir embora os três.... artigos
Bernardino
- É um mal dos antigos. E eu por dois beijos, .. deixei ir embora os três.... artigos
Hélder Salgado
Almada, 27-05-2017.
Na dolorosa realidade que o Mundo atravessa, é
bom termos uma pausa que nos traga algo esperançoso, que nos dê força anímica
para suportarmos e vencer uma luta desigual, para a qual não contribuímos.
Foi essa esperança, que lhes quis mostrar.
Obrigado por terem lido.
Hélder
Terena. 25-03-2020..
Foi essa esperança, que lhes quis mostrar.
Obrigado por terem lido.
Hélder
Terena. 25-03-2020..
1 comentário:
gostei e suponho que o Hélder devia repetir com outros assuntos!
cumprimentos
Enviar um comentário