MARIA HELENA FIGUEIREDO
Um Vírus chamado
Pobreza
O Corona Vírus pode transformar-se
numa pandemia, se é que já não se transformou.
Em Portugal ainda não foi diagnosticado nenhum caso de infecção pelo vírus, mas ele andará por aí seguramente. É uma questão de tempo.
Em Portugal ainda não foi diagnosticado nenhum caso de infecção pelo vírus, mas ele andará por aí seguramente. É uma questão de tempo.
E
quando tal acontecer, certamente que cada um de nós se dirigirá à Saúde 24, ao
Centro de Saúde ao Hospital e não a um consultório privado ou a uma clínica.
São
situações como esta que nos vêm mostrar a importância de termos um Serviço
Nacional de Saúde dotado dos meios – humanos e materiais – necessários para
responder às necessidades do país e que nos mostram a importância investir em
políticas públicas.
Mas
se este risco que o COVID 19 veio trazer às nossas vidas tem de ser combatido
sem hesitações, um outro risco, social, mais profundo e mais mortal até,
precisa de ser atacado com políticas públicas robustas e com forte
determinação.
Falo
da pobreza. Falo da exclusão social.
Segundo
o INE, no final do ano passado, 21,6% dos residentes no nosso país estava em
risco de pobreza ou exclusão social. E este dado não se refere apenas a
desempregados ou pensionistas; são também pessoas que trabalham mas cujos
salários são insuficientes para as retirar da pobreza. Segundo o Eurostat, em
2018 10% dos trabalhadores portugueses estavam em risco de pobreza.
No
mesmo ano o IRHU afirmava que havia mais de 25.500 famílias com necessidades
graves de realojamento, muitas delas vivendo em barracas ou outro tipo de
alojamentos precários. O número é seguramente superior e o valor tem certamente
aumentado dados os aumentos brutais das rendas e a quase inexistência de casas
para arrendar, a que se junta o aumento descontrolado e especulativo do preço
das casas para venda a que estamos a assistir.
Também
no mesmo ano, estudos revelaram que cerca de 9% dos portugueses não compraram
os medicamentos prescritos pelos médicos, por falta de dinheiro. Muitas têm de
fazer escolhas para poder comprar os medicamentos e quem nunca assistiu a
alguém, normalmente velho, perguntar na farmácia qual dos medicamentos
receitados era para o coração, acabando por levar apenas esse?
Quase
20% da população portuguesa não tem capacidade de aquecer a sua casa no
Inverno. É um valor três vezes superior ao do resto da Europa, e este valor
sobe para o dobro quando falamos de população em risco de pobreza.
Como
se vê não são apenas os vírus que matam. A pobreza mata.
Não
é retórica, mata em sentido próprio.
A
pobreza está ligada a pior saúde física e mental, como tem vindo a ser
demonstrado e referido em estudos publicados, designadamente na revista médica
the Lancet.
E
quando falamos na pobreza como causadora de morte não estamos a falar apenas
dos países mais pobres do mundo. Na Europa, a pobreza mata. Por cá a pobreza
mata.
É
também este vírus que se chama pobreza e que está instalado há muito na nossa
sociedade, que temos obrigação de combater melhorando salários e pensões,
adoptando uma real politica de habitação, com a criação de um parque
habitacional público com rendas acessíveis, reduzindo os custos com a energia,
pondo fim à pobreza energética em que se vive e pondo travão à precariedade no
trabalho, que serve para impor baixos salários e obrigar os trabalhadores a
aceitar indignas condições de trabalho.
Até
para a semana!
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