MARIA HELENA FIGUEIREDO
As pessoas primeiro
Nos últimos tempos tenho falado
recorrentemente do que se passa neste Alentejo e da crescente ocupação pelas
culturas intensivas e superintensivas, especialmente de olival e amendoal.
É
verdade, tem sido recorrente. Mas ainda assim muito menos do que é necessário
face ao crescimento assustador destas culturas na nossa região.
Falar
deste assunto é cada vez mais necessário quando estamos confrontados com a
falta de actuação do Governo, que não aprova legislação que regule a instalação
destas culturas, de forma a fixar áreas tampão que protejam as populações, e
com a falta de actuação dos serviços da Administração que não fiscalizam ou das
Câmaras Municipais, que descartam a obrigação de zelar pela sustentabilidade do
território, pela preservação dos recursos naturais e da qualidade de vida das
populações.
O
Alentejo está a saque, numa cedência clara aos interesses particulares de quem
quer extrair da terra o máximo lucro no menor tempo possível, em grande parte
dos casos interesses espanhóis e agora californianos.
O
que se está a passar em todo o Alentejo é o desrespeito absoluto pelas
populações e pela respectiva saúde, pela terra enquanto bem comum, e pela nossa
identidade colectiva. Para se ter a noção da extensão basta ler os relatórios
da Edia: Só no perímetro de rega do Alqueva, no final do ano passado estas
culturas de olival e amendoal ocupavam quase 100.000 hectares, ou seja 75% da
área.
Quem
sai de Évora começa a ver a poucos quilómetros, à esquerda e à direita das
estradas, campos e campos de sebes de olivais e amendoais intensivos e
superintensivos que ocupam já áreas brutais e sobretudo, em continuidade,
matando a biodiversidade, esgotando solos e poluindo as águas de superfície e
os Lençóis freáticos. Qual o efeito no ar que respiramos da pulverização destas
grandes áreas com pesticidas, muitos deles glifosatos?
O
caso de Veiros, de que falei aqui há mais de um mês, é bem o exemplo do drama
que muitos vivem: Uma população indefesa, que vê instalar um olival
superintensivo junto aos muros dos seus quintais, que estará sujeita a respirar
o ar cheio de fitofármacos das pulverizações e que terá a água dos seus poços
contaminada.
E
os poderes públicos têm feito o quê? O Ministério da Agricultura, que financia
muitas destas instalações, naturalmente desvaloriza os impactos. As Câmaras
Municipais assobiam para o ar, não deitando mão das disposições que os PDM
contêm e que permitem travar actividades que apresentem risco para as
populações, nem os alterando de forma a introduzir limitações criar tampões de
protecção.
Relativamente
a Veiros todos os movimentos e o PS e a CDU representados na Assembleia
Municipal manifestaram-se contra esta instalação de olival superintensivo junto
às casas e solidários com a população.
Pois
bem, o Bloco de Esquerda agendou para o dia 19 de Março o debate no Plenário da
Assembleia da República de um projecto de lei que regule a instalação destas
culturas, designadamente a sua distancia às habitações e a criação de zonas
tampão, e também de um projecto de resolução para que haja uma moratória à
instalação destas culturas intensivas e superintensivas até que se conclua a
sua regulamentação efectiva.
Outros
projectos serão debatidos também na Assembleia da República e por isso é a
grande oportunidade para todos os partidos passarem das boas intenções à acção.
19
de Março, esperemos que seja o dia em que se começar a pôr as pessoas à frente
da produção intensiva no Alentejo.
Até
para a semana.
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