CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
Entre a pedra e o
precipício
É
em momentos graves como o que atravessamos que percebemos a fibra de quem tem o
poder que lhe dá direito e dever de decidir. É também nestas alturas que se dão
a conhecer os que podem demonstrar se coincide o que diziam fazer com o que
fazem: o empenho, a vontade, a capacidade, o esforço com resultados. E não o
que dá palpites com o “se fosse eu”, o que não pensa antes de acusar se
naquelas circunstâncias faria melhor e, sobretudo, como o faria. Isto, naturalmente,
não nos impede de concordarmos ou não com essas decisões, esgrimindo-se
argumentos.
O
PR decidiu decretar estado de emergência. Disse ele, e cito: “Sabia e sei que
os Portugueses estão divididos. Há quem o reclame para anteontem. Há quem considere
dispensável, prematuro ou perigoso. Sabia e sei que, em plena crise, as pessoas
se sentem tão ansiosas, tão angustiadas, que aquilo que pedem um dia ou uma
semana, uma vez dado, é logo seguido de mais exigências ou mais reclamações, à
medida que as preocupações ou os temores se avolumam.
Sabia
e sei que muitos esperam do estado de emergência um milagre que tudo resolva
num minuto, num dia, numa semana, num mês. Ainda assim, entendi ser do
interesse nacional dar este passo. “
Pois
é, Sr. Presidente, é isso mesmo! Daqui para a frente, com este discurso de
muita fé, os mesmos inconscientes que o Sr. satisfez com esta medida (não falo
dos cumpridores!), vão continuar a achar que é preciso mais e mais para
controlar “os outros”. Que discurso desastroso! Atenção, que não discordo nem
deste estado de emergência e muito menos das medidas que apertam a malha aos
inconscientes. Que aliás foi o que aprovou a AR. Foi mesmo a patetice do
discurso, elogiado por tantos, que me irritou. Nada de novo de um homem que em
tempos defendia uma lei em que “é proibido…mas pode-se fazer”. Não é assim que
vai combater o populismo. Nem o pagode que, uma vez a salvo, se borrifa nos
outros porque tem um PR que gosta muito deles e rebéubéu!… A versão verbal da
beijoca e da marcelfie.
Enfim,
entre uma série de empedernidos que, nomeadamente nas regiões menos atingidas,
ficam à espera que nada de mal lhes aconteça, de preferência erguendo muros
vários contra os que vêm de fora; e os que se precipitam para ganhar a
eternidade da fama, mas como se não houvesse amanhã; entre a pedra e o
precipício, ainda há os que, como vários de ideologias diferentes na AR,
legislam seguindo o discurso que toma como princípio as meditações de John
Donne, poeta que viveu entre séculos, o XVI e o XVII, com sentido do colectivo:
“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma
parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída,
como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria;
a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E por
isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.” É assim que
fala quem, percebe o valor e a importância da palavra. É que já percebemos que
os problemas de comunicação podem matar e não podem ser desculpas de políticos
sérios e a sério.
Até
para a semana.
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