MARIA HELENA FIGUEIREDO
Tempos difíceis
Nestes tempos difíceis que
atravessamos, os desafios a que tem responsabilidades colectivas são enormes, a
começar pelo governo central e não esquecendo os governos locais, as autarquias.
É
nestes momentos que se distingue quem mantém a capacidade para analisar as
situações e encontrar – inventar muitas vezes – respostas concretas ou seja
quem tem capacidade para governar.
Temos
visto muitas autarquias e autarcas a fazer frente a esta pandemia, adoptando
medidas autonomamente ou complementando a capacidade de resposta das
autoridades nacionais de saúde.
Em
Évora temos estado até agora protegidos, com taxas de incidência mais baixas
que no resto país. Mas todos sabemos que não vai continuar assim, que a
progressão do Covid19 vai fazer-se sentir por cá.
Enquanto
cidadãos temos cumprido maioritariamente a nossa parte, como se vê pelas ruas
vazias. E é imperativo que assim continue, que limitemos as saídas e os
contactos sociais o mais possível.
Mas
todos sabemos que o isolamento físico prolongado tem efeitos psicológicos
negativos. Se ao confinamento social somarmos o medo do contágio, a angústia
quanto ao futuro dos empregos e dos salários e das pensões, o stress aumenta
brutalmente.
O
confinamento social tenderá também a potenciar a agressividade de algumas
pessoas, o que faz prever um aumento dos casos de violência doméstica e de
género.
Na
China, o número de denúncias por violência triplicou durante a quarentena do
Covid19, nos outros países os números poderão ser diferentes mas a realidade é
a mesma.
O
confinamento social não é seguramente desculpa para a violência doméstica, mas
sabendo que os agressores são usualmente pessoas de muito baixa tolerância à
frustração, os especialistas antevêem o aumento destas situações de violência
sobre, principalmente, as mulheres e também as crianças, que com o encerramento
das escolas terão também uma maior permanência forçada em casa.
Sendo
já vitimas especialmente frágeis, a actual situação de quarentena e
confinamento durante dias consecutivos, vai obriga as vitimas de violência
doméstica conviver durante períodos longos e quase exclusivamente com os
agressores. Sem alternativas, ficam numa situação desesperadamente critica.
O
que nos convoca a todos, sobretudo os que estamos mais próximos, para uma
especial atenção e responsabilidade nestes próximos tempos.
Enquanto
cidadãos e cidadãs devemos ter um papel mais activo. Podemos e devemos estar
mais atentos aos sinais de estar a ser vítima de violência que apresenta aquela
pessoa, aquele casal ou as suas crianças e não ter acanhamento em “meter a
colher”; oferecer apoio e auxilio e não deixar de denunciar todos os casos de
violência doméstica, chamando a policias, sempre que nos apercebamos de que uma
agressão ou outra qualquer forma de violência está a acontecer.
Do
Governo esperamos o reforço das medidas de apoio social e psicológico, bem como
de apoio às organizações não governamentais que trabalham nesta área e cuja
intervenção é essencial.
Das
nossas autarquias esperamos que sejam proactivas nesta fase e no combate à
violência doméstica e de género que afecta principalmente mulheres e crianças
no concelho.
Em
especial da Câmara Municipal de Évora, cuja revisão agora feita do programa de
contingência, medidas de prevenção e contenção ao COVID19 não contempla medidas
relativamente à violência doméstica, esperamos o empenhamento dos serviços
sociais para que, em colaboração com a Segurança Social, as organizações que
intervêm na área e a PSP e GNR, garantam visitas às famílias sinalizadas,
contactos não apenas telefónicos mas também presenciais regulares, soluções no
parque habitacional público para as que tenham que sair de casa, e que a
autarquia se empenhe numa campanha de sensibilização e informação junto dos e
das munícipes.
Fiquem
bem, fiquem em casa se puderem e até para a semana.
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