CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
Ajuizados
Não queria estar na pele de um juiz,
embora a função de ajuizar faça também parte da minha profissão. O mais
frequente é ajuizar-se em função de regras estabelecidas, dar-se exemplos de
respostas acertadas ou cumprirem-se critérios o melhor definidos possível, para
que não se mudem, à traição, as regras a meio do jogo. E a opinião, a ser
critério, tem de ter argumento sólido. Ainda assim, é difícil: o mínimo deslize
pode dar cabo de uma vida.
Parece
que, ao contrário do que acontece noutros países, o sistema judicial em
Portugal é pouco escrutinado. Tudo parece resolvido não apenas no sigilo que a
delicadeza do juízo do crime e castigo exigem, mas num recato contextual que
favorece a opacidade. Os casos dos juízes que vieram a público começaram a
levantar uma pontinha desse véu e, já agora, podiam fazer-nos estar mais
atentos daqui para a frente. É que não há corporações imaculadas e muito menos
ungidas contra as fraquezas humanas. Se não forem os princípios que sustentam
as instituições, onde está afinal o verbo em forma de “palavra de honra”, a
definir os comportamentos ajuizados dos que os queiram integrar, se não forem
os princípios a enformar o critério, nada poderá funcionar com credibilidade. E
como sabemos tudo isto tem de ser constantemente monitorizado, no que se chama
também escrutínio.
Já
tivemos o caso Tancos a expor escandalosamente o funcionamento claudicante da
instituição militar; agora este escândalo na instituição que aplica a justiça
aos cidadãos. Estamos, de facto, na altura de exigir respostas e sobretudo
mudanças, porque nada pode continuar na mesma. Sob pena de falsos profetas
ganharem adeptos em quem usa apenas os dois dedos de testa que tem para achar
que problemas complexos têm respostas simples, normalmente rematadas com pontos
de exclamação. E isso seria o pior que nos podia acontecer.
Temos
mesmo de aproveitar o facto de o microfone estar apontado para esse tipo de
discurso – o populista que chega de todas as direcções – e combatê-lo com a
retórica certa. E essa é a que reside indubitavelmente no acto que a palavra
designa. Sem os rodriguinhos que as estreitezas – partidárias e corporativas –
ainda promovem.
Até
para a semana.
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