segunda-feira, 23 de março de 2020

A OPINIÃO DO A.N.B.


                               O PANDEMÓNIO DA PANDEMIA
I.             O Embate
No meio desta tempestade anunciada de saúde pública, provocada pelo coronavírus-19 que faz lembrar a narrativa das tempestades medonhas e vozes iradas dos deuses gregos, de Camões, nos Lusíadas, estamos também perante mais um “Cisne Negro” desta modernidade que anda a calhar-nos viver.
Uma realidade total que é inerente às vivências que temos das sociedades abertas, democráticas, vulneráveis e com inimigos próximos assinalados por K. Popper.
Este conceito conhecido por “Cisne Negro” serve para designar fenómenos raros que têm uma baixa probabilidade de ocorrerem mas que, quando aparecem são devastadores e, de repente, mudam tudo à nossa volta.
É o caso, uma vez que sempre se entendeu que os cisnes eram apenas brancos… mas um deles é, por ora, americano. O negro chamou-se Obama.
 Sendo assim, podemos dizer que as certezas que tínhamos rapidamente desabam e que a ideia de que se podia controlar o mundo e a economia desaparecem. Camões lembrava que “o mundo era composto de mudança”. Assim tem vindo a ser em estado de crescente aceleração.
Entretanto, também podemos perceber, agora, quão frágil é esta civilização super materialista tornando-nos a vida muito precária. Ou ainda que, o sonho de controlar tudo, acaba sempre por ser ultrapassado pela própria realidade questionando-nos, desta vez, em directo sobre o nosso modo de vida actual. Excessivo e algo irresponsável.
  Em síntese, tem de ser possível além de ser desejável (re)pensar o modelo e o Ambiente de desenvolvimento actual. E, já agora, ir além da supremacia do lucro rápido e a todo o custo. Ou da competição desenfreada e/ou comercial entre os actores políticos e os estados…  
II.   Os Árbitros
  Neste contexto, convém ir reparando nas principais dominantes que vêm orientando a vida do Mundo e da Europa, através de chaves de interpretação que estão ao alcance dos países, das sociedades e das políticas públicas.
  ---- Será que se tornou dominante «a normalidade da excepção» e que um dos objectivos das crises permanentes é o de se repetirem ou de nunca serem resolvidas?
  ---- Será que os objectivos justificam todos os meios, e o que a China fez ou os USA andam agora a proclamar que fazem, é compatível com uma decente “governação do mundo” e com democracias que sirvam o mundo sem “a anarquia madura” que verificamos?
  ---- Será que a Paz tem de ser sempre alcançada à custa das inúmeras Guerras, com custos desconhecidos, e que vão gerando sempre novos vencedores e novos vencidos, como vai ser este o caso desta doença viral e global?
 ---- Não seria de evitável que, a pretexto de tudo e de nada, se utilize “a palavra Guerra?” Ainda não se terá entendido que já houve e continua a haver demasiados conflitos em curso e que, alguns deles, não têm solução à vista?
  III.. Os  Juízes de Linha
   Após estas breves considerações, vamos colocar sucintamente uma questão óbvia: em Portugal, como estão a acontecer os factos que acompanham esta fatalidade do Covid-19?
 Parece-nos, desde já, que o Governo e, particularmente, o 1º ministro têm estado à altura da situação, mostrando liderança e equilíbrio nas decisões tomadas. Muito embora, ainda seja demasiado cedo para fazer um juízo mais apropriado da situação.
Uma situação deveras difícil e complicada e que está ou vai deixar-nos marcas profundas de diversa natureza. Isto para ficar por aqui, dado que, afinal, não existem vencedores prematuros.
Uma coisa é certa: o Serviço Nacional de Saúde não pode continuar directa ou indirectamente subordinado aos ditames de Bruxelas. É uma criação e necessidade incontornável do Povo português que não deve ser colocada entre a espada e a parede. Como já estava a acontecer.
 Já o mesmo não podemos dizer do Presidente da Republica pese embora a qualidade treinada do discurso político, bem como a sua dispensável alusão ao estado de guerra…
A sua entrada em cena foi tardia. A quarentena foi prolongada e certos fins (como o de ser reeleito) não justificam o uso de certos meios que o poder lhe concede. O imprevisto, ou a hora da verdade, pode acontecer-lhe quando menos se espera.
  No meio disto tudo temos, porém, uma certeza. A vítima principal desta situação será sempre a maioria da população que vem contudo sabendo estar à altura desta grave situação. (Com muita magoa sobretudo para o que está acontecendo, em Itália, um país com uma história, uma musica, umas italianas e uma monumentalidade imperial sem igual).
Como já aconteceu, por exemplo, em 1383/ 85 por altura da Peste Negra. As gentes que nessa altura morreram (mais de um quarto da população) acabaram por estar na origem da primeira revolução popular (joanina e burguesa) que deu novos horizontes à Nação e ao Estado português da época.
 Finalmente, e como temos acompanhado no Al tejo, a CMA e o Alandroal não devem nem podiam passar ao lado desta situação excepcional. Para além das medidas institucionais já tomadas superiormente, outras haverá que têm de ser equacionadas de acordo, aliás, com o que o Governo também vai fazer.
 Enumeremos juntos: a redução do IMI, o pagamento diferido das facturas da água e da electricidade, o reforço sempre necessário de medidas de apoio social às famílias, um apoio activo ao pequeno comércio local, a devolução de uma parte do IRS, isenções de algumas taxas camarárias. Etc.
Em resumo: para tempos excepcionais aguardam-se medidas excepcionais! O neoriquíssimo de uns tantos não serve à existência/coexistência  de todos.   
           Uma OBS final: A União Europeia acaba de abrir os Cofres ao eliminar a cláusula dos “3 por cento” de défice orçamental. Quando a criaram era para ser de “2” (o que era pouco) ou de “4” (o que era muito). Acordaram, então, “na média de 3” (com as consequências conhecidas). Bem haja, a médica Presidente da Comissão!
Saudações Democráticas
      António Neves Berbem

        (20 de Março de 2020)

      


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