O PANDEMÓNIO DA PANDEMIA
I. O Embate
No meio desta tempestade anunciada de saúde pública,
provocada pelo coronavírus-19 que faz lembrar a narrativa das tempestades
medonhas e vozes iradas dos deuses gregos, de Camões, nos Lusíadas, estamos
também perante mais um “Cisne Negro” desta modernidade que anda a calhar-nos
viver.
Uma realidade total que é inerente às vivências que
temos das sociedades abertas, democráticas, vulneráveis e com inimigos próximos
assinalados por K. Popper.
Este conceito conhecido por “Cisne Negro” serve para
designar fenómenos raros que têm uma baixa probabilidade de ocorrerem mas que,
quando aparecem são devastadores e, de repente, mudam tudo à nossa volta.
É o caso, uma vez que sempre se entendeu que os cisnes
eram apenas brancos… mas um deles é, por ora, americano. O negro chamou-se
Obama.
Sendo assim,
podemos dizer que as certezas que tínhamos rapidamente desabam e que a ideia de
que se podia controlar o mundo e a economia desaparecem. Camões lembrava que “o
mundo era composto de mudança”. Assim tem vindo a ser em estado de crescente
aceleração.
Entretanto, também podemos perceber, agora, quão
frágil é esta civilização super materialista tornando-nos a vida muito
precária. Ou ainda que, o sonho de controlar tudo, acaba sempre por ser
ultrapassado pela própria realidade questionando-nos, desta vez, em directo
sobre o nosso modo de vida actual. Excessivo e algo irresponsável.
Em síntese,
tem de ser possível além de ser desejável (re)pensar o modelo e o Ambiente de
desenvolvimento actual. E, já agora, ir além da supremacia do lucro rápido e a
todo o custo. Ou da competição desenfreada e/ou comercial entre os actores
políticos e os estados…
II. Os Árbitros
Neste
contexto, convém ir reparando nas principais dominantes que vêm orientando a
vida do Mundo e da Europa, através de chaves de interpretação que estão ao
alcance dos países, das sociedades e das políticas públicas.
---- Será que
se tornou dominante «a normalidade da excepção» e que um dos objectivos das
crises permanentes é o de se repetirem ou de nunca serem resolvidas?
---- Será que
os objectivos justificam todos os meios, e o que a China fez ou os USA andam
agora a proclamar que fazem, é compatível com uma decente “governação do mundo”
e com democracias que sirvam o mundo sem “a anarquia madura” que verificamos?
---- Será que
a Paz tem de ser sempre alcançada à custa das inúmeras Guerras, com custos
desconhecidos, e que vão gerando sempre novos vencedores e novos vencidos, como
vai ser este o caso desta doença viral e global?
---- Não seria
de evitável que, a pretexto de tudo e de nada, se utilize “a palavra Guerra?”
Ainda não se terá entendido que já houve e continua a haver demasiados
conflitos em curso e que, alguns deles, não têm solução à vista?
III.. Os
Juízes de Linha
Após estas
breves considerações, vamos colocar sucintamente uma questão óbvia: em Portugal,
como estão a acontecer os factos que acompanham esta fatalidade do Covid-19?
Parece-nos,
desde já, que o Governo e, particularmente, o 1º ministro têm estado à altura
da situação, mostrando liderança e equilíbrio nas decisões tomadas. Muito
embora, ainda seja demasiado cedo para fazer um juízo mais apropriado da situação.
Uma situação deveras difícil e complicada e que está
ou vai deixar-nos marcas profundas de diversa natureza. Isto para ficar por
aqui, dado que, afinal, não existem vencedores prematuros.
Uma coisa é certa: o Serviço Nacional de Saúde não
pode continuar directa ou indirectamente subordinado aos ditames de Bruxelas. É
uma criação e necessidade incontornável do Povo português que não deve ser colocada
entre a espada e a parede. Como já estava a acontecer.
Já o mesmo não
podemos dizer do Presidente da Republica pese embora a qualidade treinada do
discurso político, bem como a sua dispensável alusão ao estado de guerra…
A sua entrada em cena foi tardia. A quarentena foi
prolongada e certos fins (como o de ser reeleito) não justificam o uso de certos
meios que o poder lhe concede. O imprevisto, ou a hora da verdade, pode acontecer-lhe
quando menos se espera.
No meio disto
tudo temos, porém, uma certeza. A vítima principal desta situação será sempre a
maioria da população que vem contudo sabendo estar à altura desta grave
situação. (Com muita magoa sobretudo para o que está acontecendo, em Itália, um
país com uma história, uma musica, umas italianas e uma monumentalidade
imperial sem igual).
Como já aconteceu, por exemplo, em 1383/ 85 por altura
da Peste Negra. As gentes que nessa altura morreram (mais de um quarto da
população) acabaram por estar na origem da primeira revolução popular (joanina
e burguesa) que deu novos horizontes à Nação e ao Estado português da época.
Finalmente, e
como temos acompanhado no Al tejo, a CMA e o Alandroal não devem nem podiam
passar ao lado desta situação excepcional. Para além das medidas institucionais
já tomadas superiormente, outras haverá que têm de ser equacionadas de acordo,
aliás, com o que o Governo também vai fazer.
Enumeremos
juntos: a redução do IMI, o pagamento diferido das facturas da água e da
electricidade, o reforço sempre necessário de medidas de apoio social às
famílias, um apoio activo ao pequeno comércio local, a devolução de uma parte
do IRS, isenções de algumas taxas camarárias. Etc.
Em resumo: para tempos excepcionais aguardam-se medidas
excepcionais! O neoriquíssimo de uns tantos não serve à
existência/coexistência de todos.
Uma
OBS final: A União Europeia acaba de abrir os Cofres ao eliminar a cláusula dos
“3 por cento” de défice orçamental. Quando a criaram era para ser de “2” (o que
era pouco) ou de “4” (o que era muito). Acordaram, então, “na média de 3” (com
as consequências conhecidas). Bem haja, a médica Presidente da Comissão!
Saudações Democráticas
António Neves Berbem
(20 de Março de 2020)
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