EDUARDO LUCIANO
A ignomínia como
forma de estar
Faço estas crónicas há catorze anos
e desde que assumi responsabilidades no executivo municipal tomei a decisão de
não tocar em temas da política local. Em seis anos contam-se pelos dedos das
mãos as vezes que violei essa regra que me impus.
Esta
crónica é sobre a realidade local mas não é sobre política. É sobre “pulhitica”
que é aquela actividade a que se dedicam os pulhas e que tanto pode envolver
uma discussão sobre futebol, sobre saúde, sobre aeronáutica, sobre caça
submarina ou sobre exploração espacial.
Nos
últimos dias a propósito de declarações prestadas pelo presidente da Câmara
sobre a necessidade de desinfecção do espaço público no actual momento da
evolução da pandemia, seguindo as orientações das autoridades de saúde, foi o
cidadão Carlos Pinto de Sá vítima de uma campanha soez, ignóbil, organizada e
orquestrada por gente que mostra num dos momentos mais complicados da nossa
vida colectiva, a sua verdadeira índole e a exacta dimensão da pequenez da sua
ambição, que nada tem de político porque a política é coisa diferente.
Não
estão em causa naturais diferenças de opinião ou diferenças de posição assentes
na ideologia, forma estar ou educação. O que está em causa é mesmo o completo
desrespeito pelo outro.
O
presidente da Câmara Municipal de Évora assumiu desde o início desta crise a
única atitude que poderia ter assumido. Sereno, assertivo, tomando decisões em
função das orientações das autoridades de saúde, sem dramatismos, sem exibições
de protagonismo desajustado às suas funções e às competências.
E
teria sido tão fácil vestir o colete da protecção civil, pendurar a máscara ao
pescoço e desatar a falar do que não sabe apenas porque era o que a maioria das
pessoas gostariam de ouvir. Teria sido tão fácil mandar uns quantos
trabalhadores vestidos a rigor para as ruas desertas despejar recursos
materiais e humanos que mais tarde poderiam faltar para o essencial. Isto, claro,
depois de avisar as televisões do que ia acontecer.
Mas
o presidente da Câmara Municipal de Évora não é assim. Faz o que tem a fazer em
função dos interesses da população, do cumprimento do programa político
sufragado nas eleições, ouvindo os que tecnicamente estão preparados para
sugerir as necessárias tomadas de decisão.
A
diferença entre um cacique e um eleito no poder local democrático é essa. O
cacique decide em função da sua opinião e vontade, o autarca decide depois de
ouvir os que tecnicamente estão mais preparados em função do conhecimento que
lhe é transmitido por quem sabe e neste caso concreto por quem está no comando
do combate à pandemia, que são as autoridades de saúde.
Muitos
dos que foram atrás orquestração de gente sem escrúpulos e sem respeito pelo
trabalho alheio, fizeram-no levados pela irracionalidade provocada pelo medo.
A
questão não é sequer partidária, porque gente de todos os quadrantes políticos
enviou mensagens de solidariedade e de indignação perante a ignomínia da acção
de alguns e ontem mesmo na reunião de Câmara o vereador do PSD fez uma
intervenção eticamente irrepreensível, afastando naturais divergências para
assinalar o que é óbvio para qualquer pessoa honesta e de bom senso.
Os
cânones por que me deveria orientar dizem-me que deveria sublinhado o colectivo
e desfraldar bandeiras, mas hoje o que sinto que é preciso fazer é demonstrar a
total solidariedade com o meu camarada Carlos Pinto de Sá, porque foi ele
enquanto cidadão que foi vilipendiado e insultado.
Até
para a semana
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