Perdemos ou
ganhamos com a vinda de turistas!?É hoje
reconhecido o papel do turismo em termos de desenvolvimento económico. Sabemos
que o seu contributo pode ser determinante para a revitalização de áreas mais
desfavorecidas, mas com um grande potencial por descobrir em termos turísticos.
Os números são
elucidativos: no caso do Alentejo, tem-se verificado uma cada vez maior procura
por parte de turistas provenientes de diferentes contextos geográficos. A
tendência vai no sentido do crescimento. E o que procuram estes “novos”
turistas? Tradições, usos, costumes, gastronomia e património edificado parecem
ser os vetores determinantes para as escolhas.
Porém, este número crescente
tem feito soar os alarmes em determinados sectores da sociedade, também no
Alentejo. Será este aumento considerável de turistas prejudicial para a
conservação do nosso património e para a eventual alteração dos nossos hábitos
e da nossa segurança?
Em muitos lugares do mundo,
esta discussão tem vindo a assumir cada vez mais protagonismo. No caso do
Alentejo, será negativo o crescimento turístico da região? As mudanças têm tido
um impacto negativo, nos anos mais recentes? Na minha opinião, não.
Temos assistido a um aumento
das respostas às solicitações dos que nos visitam, em termos qualitativos e
quantitativos.
Este facto tem permitido a
gradual reabilitação de património que se encontrava abandonado, convertendo-o
num ativo económico, tem proporcionado um aumento dos números de empregos e
inspirado novos projetos de muito sucesso, em áreas como a produção vinícola,
ambiente e inovação. Trabalho em rede é fundamental para o sucesso. Por isso, é
preciso olhar para o património com um outro olhar.
Mas há ainda muito por
fazer. Intervir para reabilitar é condição fundamental, mas é necessário
dar uso aos edifícios, castelos, museus e espaços culturais, criando novos
atrativos que permitam prolongar o período de estadia dos visitantes nas
diferentes localidades alentejanas, através de circuitos e rotas.
Tendo em conta a evidência
destes factos, diria que a vinda de turistas é absolutamente essencial para o
futuro da região. Paralelamente, a criação de infraestruturas de apoio é
prioritária para a manutenção dessa sustentabilidade entre o aumento do número
de visitas e a conservação do património, nas suas diversas vertentes.
Contudo, é necessário encontrar
os equilíbrios necessários, de modo a não perder as oportunidades que estão a
surgir e que irão manter-se numa tendência crescente nos próximos anos, segundo
as previsões.
Seguramente o Alentejo não
perderá a sua essência, ao mostrar-se ao mundo!
Por isso, considero fundamental
promover uma estratégia concertada para a reabilitação dos diferentes
patrimónios que caracterizam esta vasta região e a tornam única. E são esses
fatores que nos diferenciam e nos colocam num patamar de excelência cada vez
mais procurado. Porém, a reflexão sobre o que pode ser feito e melhorado deve
ser assumida pelos diferentes sectores da sociedade alentejana.
O envolvimento das comunidades
na defesa dos seus recursos e da sua identidade é um fator determinante para a
definição de uma estratégia concertada que permita ainda melhores resultados.
Considero que o aumento do
número de turistas pode ser fundamental para que definitivamente se olhe para o
património alentejano e para a sua requalificação como um eixo prioritário. E o
investimento nesta área deve ser cada vez mais uma opção a ter em conta, por
parte de políticos, organizações, empresas e atores sociais. Todos somos
responsáveis pela preservação dos legados que nos foram transmitidos. Se isso puder
ser reconhecido e valorizado pelo que nos visitam, com algum impacto económico,
onde residirá o problema?
Esta opção pode ser uma
via para o progresso, proporcionando cada vez maior dinâmica económica,
permitindo a criação de mais postos de emprego e combater, de forma efetiva, a
crescente tendência em termos de desertificação demográfica.
Trazer mais turistas não vai
seguramente ter como consequência uma alteração dos nossos hábitos e da nossa
genuinidade. É isso que nos torna únicos e que nos diferencia. O espírito
acolhedor dos alentejanos é uma marca, que faz parte do nosso património. Por
outro lado, este não deve estar subjugado exclusivamente aos interesses
turísticos. A sua função é muito mais abrangente e remete para a nossa
identidade enquanto povo. Dai os necessários cuidados com a sua defesa!
Mas devido à sua
preponderância e atratividade, capaz de gerar receitas derivadas da sua
utilização enquanto recurso turístico, pode e deve ser devidamente aproveitado.
Na minha perspetiva, o património não deve permanecer num patamar sagrado,
quase intocável, só ao alcance de alguns privilegiados.
Penso que o crescimento de
visitantes propiciou também uma certa democratização do património, que deve
ser usufruído por todos, como um elemento chave para a compreensão das
sociedades humanas e do seu desenvolvimento cultural, político, económico,
militar e religioso ao longo dos séculos.
Nessa medida, a conservação e
valorização dos bens culturais pode constituir uma ferramenta fundamental no
âmbito de uma estratégia de projeção turística, chamando a atenção para a
excecionalidade do nosso território nas suas diferentes manifestações.
É preciso encontrar soluções
criativas e eficazes que permitam a conjugação do aumento do número de turistas
e a conservação do património e das identidades locais, através da definição de
planos concretos, avaliando sempre o impacto desse crescimento.
Temos que ser nos,
individualmente, a assumir um papel da defesa do património, promovendo,
divulgando e defendendo o que de singular e único existe na região.
Tiago Salgueiro
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