quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM


EDUARDO LUCIANO
                                Vida plena sem casa?
O sítio onde dormir, comer, descansar, construir um espaço de intimidade que o próprio reconheça como seu, mais do que um direito constitucional é uma exigência da nossa condição de humanos.
A habitação não pode ser um bem que dependa do abrir mão da independência, da privacidade, da vida autónoma. Do direito à opção de estar só ou acompanhado.
Mas sendo mais que um direito legalmente garantido, a Constituição portuguesa diz claramente a quem compete garantir esse direito através de políticas públicas de os instrumentos de ordenamento do território, a construção de habitações acessíveis, o estímulo à iniciativa privada e cooperativa e a implementação de um sistema de renda compatível com o rendimento familiar.
A competência primeira é atribuída ao Estado e temos que reconhecer que o seu papel tem ficado aquém daquilo que a exigência constitucional obriga.
Só na anterior legislatura, mais de quatro décadas após a entrada em vigor da Constituição, foi possível fazer aprovar na Assembleia da República a primeira Lei de Bases da Habitação, um instrumento de enorme importância para chegar aos desígnios constitucionais.
Apesar da timidez revelada em alguns aspectos importantes, trata-se de um instrumento globalmente positivo onde se destacam a responsabilização do Estado na garantia do direito à Habitação e da sua função social, a definição do Programa Nacional de Habitação, a utilização de património habitacional público, o incentivo à mobilização do património privado devoluto para programas de arrendamento nos regimes de renda apoiada ou condicionada, a regulamentação e fiscalização do arrendamento, a protecção e acompanhamento em situações de despejo, a valorização das organizações de moradores, cooperativas e processos de autoconstrução e auto-acabamento.
Sabendo que se trata de uma boa lei, também temos de reconhecer que ninguém tem casa porque a letra da lei inscreve esse direito.
É necessário alterar todo o contexto político e prioridades económicas, investir no parque habitacional público (um dos menores na Europa), conter a sua degradação física, fechar a porta à especulação nas zonas urbanas mais apetecíveis para tal e matar de vez a Lei dos Despejos aprovada em 2012 pela maioria PSD/CDS.
Sem investimento público não há Lei de Bases, por muito meritória que seja, que resolva o problema da habitação.
Lembra-me alguém que ganha o salário mínimo: façam lá isso tudo e mais alguma coisa e não alterem a política de rendimentos e salários se querem ver a malta a viver em casa dos pais até à reforma.
Até para a semana


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