E o Óscar vai para…
Foi fim-de-semana de Óscares em
Hollywood e eu comecei a escrever esta crónica antes da 92a cerimónia desta
academia, não só porque já tinha os meus favoritos definidos, mas porque, no
meio das últimas idas ao cinema ou de maratonas na TV por cabo, vários “filmes”
se foram cruzando comigo e, provavelmente, com o ouvinte/leitor mais atento ao
que se passa nos lugares de governação e direcção com responsabilidades a
vários níveis.
Talvez os protagonistas da cena
política sejam os mais escrutinados e sobre quem se acenderam holofotes mais
fortes e durante mais tempo, mas também vamos ouvindo cenas oriundas de
desempenhos técnicos que, no mínimo, permitem deixar-nos preocupados. Veja-se o
exemplo de um artigo da revista da Ordem dos Médicos, que ouvi num
noticiário dos que acontecem à hora certa, anunciando que Portugal nada tinha
aprendido com os surtos ou pandemias anteriores e que estava impreparado para o
novo corona vírus. Lancei-me em busca do texto completo, assinado por três
técnicos, onde eu esperava ter mais alguma informação, já agora, técnica,
concreta e útil sobre o que estava em falta. Pois o que li, e que consta do
título e de um único parágrafo de um artigo com pouco mais de duas páginas,
bibliografia incluída, mais não é do que uma conversa de café. Se este é o
contributo que a Ordem dos Médicos dá na transferência de conhecimento,
confesso que preferi ver o filme do avião de resgate, a aterrar, a esperar, a
levantar e a voltar a aterrar em Beja.
Também
tivemos do faroeste duas peças dignas de filme: a resposta de Nancy à grunhice
de Trump com o rasgar dos papéis do discurso do estado da nação; e a bronca do
Caucus no Iowa, método arcaico, e ridículo, de eleição que ao usar as novas
tecnologias foi sabotado pelos Republicanos, num golpe próprio de comédia de
adolescentes de domingo à tarde.
Mas
talvez a atribuição do Óscar vá, nas diversas principais categorias, para os
actores que compõem o semicírculo da Assembleia da República e para a
longa-metragem da discussão e aprovação do OE. Houve de tanto: das “plot
twists” provocadas por pressão de sindicatos, ou a questão do IVA da
electricidade, ou ainda a da incompreensível suspensão das obras do Metro em
Lisboa, passando pelo ressuscitar de complexos colonialistas nos dois extremos
do espectro partidário, até ao aparte do nascimento de uma nova estrela, ungida
pelo destino, no mundo da Política parlamentar. Enfim, tudo espectáculos
dispensáveis, que nada acrescentam em abono do público para o qual actuam. Se
tudo isto é de gente que se acha preparada para dirigir alguma coisa, não
parece. Prefiro usar, também o meu tempo livre, com a ficção nos livros, nos
palcos, no ecrã, o que enfim me faz não parar nunca de trabalhar, mas
paciência… e saúde e alegrias breves também, já agora! Que foi a que senti com
as estatuetas atribuídas a “Jojo Rabbit”, “Parasitas” e “1917”.
Até
para a semana.
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