Vale a pena ser lido.
PORTUGAL:
QUE FUTURO ?
Trinta e cinco anos de vida.
Filho de gente humilde. Filho
da aldeia. Filho do trabalho.
Desde criança fui pastor, matei
cordeiros, porcos e vacas, montei móveis, entreguei roupas, fui vendedor
ambulante, servi à mesa e ao balcão. Limpei chãos, comi com as mãos, bebi do
chão e nunca tive vergonha.
Na aldeia é assim, somos o que somos porque somos assim.
Cresci numa aldeia que pouco
mais tinha que gente, trabalho e gente trabalhadora.
Cresci rodeado de aldeias sem
saneamento básico, sem água, sem luz, sem estradas e com uma oferta de
trabalho árduo e feroz.
Cresci numa aldeia com valores,
com gente que se olha nos olhos, com gente solidária, com amigos de todos os
níveis, com família ali ao lado.
Cresci com amigos que estudaram
e com outros que trabalharam.
Os que estudaram, muitos à
custa de apoios do Governo, agora estão desempregados e a queixarem-se de
tudo. Os que sempre trabalharam lá continuam a sua caminhada, a produzir para
o País e a pouco se fazerem ouvir, apesar de terem contribuído para o apoio
dos que estudaram e a nada receberem por produzir.
Cresci a ouvir dizer que éramos
um País em Vias de Desenvolvimento e ... de repente éramos já um País Desenvolvido,
que depois de entrarmos para a União Europeia o dinheiro tinha chegado a
"rodos" e que passamos de pobretanas a ricos
"fartazanas".
Cresci assim, sem nada e com
tudo.
E agora, o que temos nós?
Um país com duas imagens.
A de Lisboa: cidade grandiosa,
moderna, com tudo e mais alguma coisa, o lugar onde tudo se decide e onde
tudo se divide, cidade com passado, presente e futuro.
E a do interior do país,
território desertificado, envelhecido, abandonado, improdutivo, esquecido,
pisado.
Um país de vícios.
Esqueceram-se os valores,
sobrepuseram-se os doutores.
Não interessa a tua história,
interessa o lugar que ocupas.
Não interessa o que
defendes, interessa o que prometes.
Não interessa como chegaste lá,
mas sim o que representas lá.
Não interessa o quanto
produziste, interessa o que conseguiste.
Não interessa o meio para
atingir o fim, interessa o que me podes dar a mim.
Não interessa o meu empenho,
interessa o que obtenho.
Não interessa que critiquem os
políticos, interessa é estar lá.
Não interessa saber que as
associações de estudantes das universidades são o primeiro passo para a
corrupção activa e passiva que prolifera em todos os sectores políticos,
interessa é que o meu filho esteja lá.
Não interessa saber que as
autarquias tenham gente a mais, interessa é que eu pertença aos quadros.
Não interessa ter políticos que
passem primeiro pelo mundo do trabalho, interessa é que o povo vá para o
diabo.
Um país sem justiça.
Pedófilos que são condenados e dão
aulas passados uns dias.
Pedófilos que por serem
políticos são pegados em ombros, e juízes que são enviados para as catacumbas
do inferno.
Assassinos que matam por trás e
que são libertados passados sete anos por bom comportamento!
Criminosos financeiros que
sempre escapam por motivos que nem ao diabo lembram.
Políticos que passam a vida a
enriquecer e que jamais têm problemas ou alguém questiona tais fortunas.
Políticos que desgovernam um país
e que, entre outros, "emigram" para Bruxelas
e Paris, a par dos que se mantém ainda ativos.
Bancos que assaltam um país e
que o povo ainda ajuda a salvar.
Um povo que vê tudo isto e entra
no sistema, pedindo favores a toda a hora e alimentando a máquina que tanto
critica e chora.
Um país sem educação.
Quem semeia ventos colhe
tempestades.
Numa época em que a sociedade
global apresenta níveis de exigência altamente sofisticados, em Portugal a
educação passou a ser um circo.
Não se podem reprovar meninos
mimados.
Não se pode chumbar os
malcriados.
Os alunos podem bater e os
professores nem a voz podem levantar.
Entrar na universidade passou a
ser obrigatório por causa das estatísticas.
Os professores saem com os
alunos e alunas e os alunos mandam nos professores.
Ser doutor, afinal, é coisa banal.
Um país que abandonou a produção
endógena
Um país rico em solo, em clima e
em tradições agrícolas que abandonou a sua história.
Agora o que conta é ter serviços
sofisticados, como se o afamado portátil fosse a salvação do país.
Um país que julga que uma
mega fábrica de automóveis dura
para sempre.
Um país que pensa que turismo
no Algarve é que dá dinheiro para todos.
Um país que abandonou a pecuária,
a pesca e a agricultura.
Que pisa quem ainda teima em
produzir e destaca quem apenas usa gravata.
Um país que proibiu a produção
de Queijo da Serra artesanal na década de 90 e que agora dá prémios ao melhor
queijo regional.
Um país que diz ser o do Pastel
de Belém, mas que esquece que tem cabrito de excelência, carne mirandesa
maravilhosa, Vinho do Porto fabuloso, Ginjinha deliciosa, Pastel de Tentugal
tentador, Bolo Rei português, Vinho da Madeira, Vinho Verde, lacticínios dos
Açores e Azeite de Portugal para vender…
E tanto, tanto mais... que sai
da terra e da nossa história.
Um país sem gente e a perder a
alma lusa.
Um país que investiu forte na
formação de um povo, em engenharias florestais, zoo técnicas, ambientais,
mecânicas, civis, em arquitectos, em advogados, em médicos, em gestores,
economistas e marketeers, em cursos profissionais, em novas tecnologias e em
tudo o mais, e que agora fecha as portas e diz para os jovens emigrarem.
Um país que está desertificado
e sem gente jovem, mas com tanta gente velha e sábia que não tem a quem
passar tamanha sabedoria.
Um país com jovens
empreendedores que desejam ficar, mas são obrigados a partir
Um país com tanto para dar, mas
com o barco da partida a abarrotar.
Um país sem alma, sem motivação
e sem alegria.
Um país gerido por porcaria.
E agora, vale a pena acreditar?
Vale. Se formos capazes de
participar, congregar novos ideais sociais e de mudar.
Porquê acreditar?
Porque oitocentos anos de
história, construída a pulso, não se destroem em tempo algum . Porque o solo
continua fértil, o mar continua nosso, o sol continua a brilhar e a nossa
alma, ai a nossa alma, essa continua pura e lusitana e cada vez mais fácil de
amar.
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1 comentário:
OBS:
Directo, claro, certeiro e directamente proporcional ao estado ( e falta)
de coesão nacional onde o que mais cresce é a desigualdade e a corrupção
nas suas diversas variantes.
Portugueses que escrevam assim merecem que não andemos a fingir que
estamos todos adormecidos. Até porque a História não pára...
Saudações Democraticas
ANB
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