MARIA HELENA FIGUEIREDO
O Síndrome Chega
Não costumo fazer apreciações sobre
a vida interna dos partidos, porque a mim o que me interessa são essencialmente
as políticas, mas acho que o que se passou no espaço de uma semana com três
partidos que têm assento parlamentar e que escolheram de líder ou direcção,
merece atenção, precisamente pelo impacto político que vai ter.
Do
Livre e da sua deputada pouco rezará a história, mas da Direita devemos esperar
de facto impactos.
Na
Direita, assistimos tanto no PSD como no CDS a disputas internas de liderança,
em que, sem nunca ser mencionada, a sombra da extrema direita e a disputa desse
espaço político esteve sempre presente.
Primeiro
foi o PSD, a escolher líder numa eleição directa pelos militantes. A decisão
final balançou entre um Rui Rio mais ao centro e um Montenegro a puxar o PSD
para o discurso mais populista de direita, procurando cativar o espaço de
recrutamento de votantes que podem resvalar para a extrema direita. Nenhum dos
dois excluiu a possibilidade de se vir a aliar com o Chega, desde que este se
modere.
Ganhou
Rio, mas os resultados obtidos por Montenegro deixam antever turbulências
futuras e certamente pressionarão Rio para um realinhamento de posições.
Realinhamento à direita, direi eu.
Finalmente,
este fim de semana foi a vez do CDS.
Num
congresso a que se apresentaram 5 candidatos, foi escolhido o jovem líder da
Juventude Centrista Francisco Rodrigues dos Santos, conhecido como Chicão, com
um resultado substancial de quase metade dos votos dos delegados.
O
discurso com que se apresentou ao partido foi um discurso claro de quem quer
radicalizar o partido à direita.
Dizia
ele nas redes sociais e repetiu-o no discurso de vitória
“A
nova direita em que acredito é popular….É afirmativa e não se envergonha de si.
Marca agenda política, tem bandeiras, apresenta propostas e não pede
autorização à esquerda para defender os seus valores.
Claro
que não é a direita que convém à elite gourmet dos comentadores da esquerdinha
da moda, pseudo intelectuais…”
O
arrazoado dá o timbre.
Teremos
agora seguramente um outro CDS. Um CDS que diz que é “A” direita, com um líder
que diz que não quer ter mais nada à sua direita. Temos um CDS populista.
Francisco
Rodrigues dos Santos é jovem de idade, mas partilha com a extrema direita e o
Chega, por cá, as posições mais retrógradas relativamente ao casamento entre
pessoas do mesmo género ou as mulheres.
O
novo líder do CDS é contra o aborto, é contra o casamento “gay”, é contra a
educação sexual…
Também
ele dizia ser contra a “ideologia de género”, o que quer que isso signifique,
mas que traduziu já na constituição da direcção do partido.
O
CDS não tem nenhuma mulher como vice-presidente, como são homens o secretária
geral ou e o coordenador autárquico. Nas suas listas para a comissão política
nacional, dos 59 membros propostos apenas 6 eram mulheres.
Um
mar de fatos e gravatas onde as mulheres aparecem relegadas para os lugares que
a extrema direita normalmente lhes reserva: meros enfeites. Começa
coerentemente o líder do CDS.
Nos
próximos tempos veremos como é que a nova direcção do CDS e o grupo
parlamentar, que representa o antigo CDS, conviverão e como vai o CDS
posicionar-se no Parlamento.
Veremos
pois se com este começo, apesar de mais polido, o novo líder não tornará o CDS
num Chega 2.
Até
para a semana
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