CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
125 anos de
Biblioteca Pública
Os 125 anos que passaram democraticamente sobre várias bibliotecas
envelhecem-nas de forma diferente. A biblioteca a que dedico esta crónica, e
que festeja 125 anos, é fora do Alentejo, até de Portugal: é a Biblioteca
Pública de Nova York. Não toda pública uma vez que é gerida por entidade
privada sem fins lucrativos. Para começar o ano desta comemoração,
provavelmente fruto do trabalho de alguns dos seus três mil e muitos
funcionários especializados nestas contabilidades de rankings, publicou uma
lista dos 10 mais requisitados livros de sempre, com uma adenda de honra. O que
me mereceu motivo para vos falar deste assunto, a partir de Évora, foram as
conclusões curtas e claras que puderam ser retiradas deste aparentemente leve
exercício de comunicação e publicidade de rankings, que tanta gente desmerece;
mas também foi a divertida e entusiasmante história da menção honrosa desta
lista, para a qual um colega com quem interajo na minha rede de amigos no
Facebook me alertou1.
(É que cada um tem a rede social que merece e eu aprendo muito com a minha,
mesmo não tendo lido o único livro de autoajuda deste ranking que, veja-se,
data de 1936 e anuncia o título que trata de como fazer amigos e influenciar
pessoas. Talvez os utilizadores das Redes Sociais não se dêem conta de que
frequentá-las é qualquer coisa como poder dizer que se os amigos são a família
que escolhemos, então os membros da nossa rede social são aqueles com quem
escolhemos conviver socialmente, quando há distância e sossego para esse
convívio.)
Das
conclusões publicitadas, destaco estas: os livros mais curtos circulam mais e
os mais longos ficam nas casas dos leitores durante mais tempo, com mais
renovações de empréstimos; como não têm livros só em inglês mas traduzidos ou
originais de outras línguas, quanto mais idiomas mais empréstimos; quanto mais
tempo os livros se mantêm em listas de aconselhamento para leitura nas escolas,
mais leitores têm; assim como os que recebem mais prémios, os que tratam
assuntos mais globais e menos locais, mais universais mas também os que tratam
assuntos de que se fala mais fora do mundo dos livros, todos estes saem mais
das estantes. Parecem, pois, lançadas as dicas para fazer clássicos
desempoeirados e dar a perceber a quem ainda não o conseguiu, o que também é a
Literatura.
A
outra curiosidade é a escolha para menção honrosa de uma obra que parece ter
adulterado este Top 10. Trata-se de uma obra também para público
infanto-juvenil, como seis das que figuram no ranking selecto de leituras, que
tendo sido publicada em 1947 só em 1972 foi adquirida pela Biblioteca e passou
a morar em Manhattan, e nos polos por onde a PLNY se espalha, para ser lido à
borla pelos seus cidadãos. Goodnight Moon de Margaret Wise Brown não entrou nos
catálogos desta importante biblioteca porque uma, sim uma, bibliotecária, a que
era responsável pelo sector infanto-juvenil, embirrou com o livro, escrito num
estilo mais progressista de uma corrente que nascia noutro bairro da Grande
Maçã. Anne Carroll Moore de seu nome, exerceu entre 1906 e 1952 e conhecer a
sua história parece valer muito a pena. A importância que teve quer na promoção
da leitura, quer na influência da vida comercial deste e de outros livros e
gerações dos leitores que frequentaram aquela biblioteca, contribui para tornar
mais verosímil a ideia de que a vida ou morte de uma andorinha pode trazer ou
levar a Primavera. Parece um enredo de ficção, com traços de ironia poética,
mas não é. Foram vidas, de pessoas e instituições. E umas fazem outras, em
muitas áreas.
Até
para a semana.
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