segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

O TRADICIONAL CONTO DE NATAL DO HELDER

                                   Esmeralda, a princesa do Lameiro.
Um abastado casal de Braga, por muito gostarem da localidade Terras do Bouro e seus arredores, resolveram comprar um lameiro de média dimensão e muito fértil em água.
A Natureza contaminou o casal de tal modo, que vieram a instalar uma casa de campo prefabricada, com todas as comunidades necessárias para um bom conforto.
Assim que tinham tempo disponível para lá partiam.
Desbravaram o lameiro tornando-o arável e lá faziam pequenos cultivos, suficientes para o seu abastecimento enquanto lá permanecessem.
Vedaram o lameiro e plantaram algumas árvores de fruto.
O casal, novo ainda, pareciam viver o encanto da Natureza, do qual se julgavam fazer parte. O seu entusiasmo eram tanto que queriam que o seu primeiro bebé, menina ou menino lá nascesse. O marido mais prudente tentava, com bons modos, discordar da esposa, tentando contratar numa parteira, mas logo teve a oposição desta.
- Todos os seres que aqui se reproduzem não precisam de ajuda, porque havia de ser eu a precisar? - Respondeu perguntando a sua jovem esposa.
Acreditavam na mão divina, numa fé inabalável e imorredoura, geradora de todos os acontecimentos bons ou maus, que eles aceitavam sempre de bom grado.
Nada os assustava, nem os uivos dos lobos em plena noite.
Um dia, faminto, apareceu no lameiro, um lobinho, que mais parecia um cão.
O marido contou á esposa o aparecimento do lobinho, e esta sem perda de tempo, preparou-lhe uma refeição.
Ambos, marido e mulher, dão de comer á sua visita. O animal não se fez rogado e frente ao casal, saboreou a comida ainda quente. Levantando várias vezes o olhar, agradecendo deste modo aos seus benfeitores, e afastou-se, parecendo querer ir descansar.
O casal interrogou-se, mutuamente, não encontrando explicação para o procedimento do animal, por todos, considerado daninho e feroz.
No outro dia o animal lá estava parecendo outro, mais alegre, com outro olhar e já com o pelo já liso. O casal sentiu que devia proteger o animal arranjando-lhe uma casota, com colchão e cobertor, e, decidiram dar-lhe um nome. Não discutiram muito e de comum acordo chamaram-lhe O Natureza, porque no fundo fora uma oferta desta, e ele, lobinho, mostrava muito grato aos seus benfeitores, guardando o lameiro e a casa.
O casal pariu para Braga para resolução dos seus afazeres, tranquilo e confiante na guarda do lobinho… no Natureza.
A esposa, em Braga, visitava todas as Quintas Feiras o Bom Jesus, não para pedir proteção para o futuro nascimento, mas apenas para ganhar mais confiança em si própria, para quando chagasse a hora H.
Regressados ao lameiro o casal teve uma surpresa O Natureza tinha, como companheira, uma doninha.
O olhar do lobinho, denunciador de um pedido desculpa ou perdão, logo compreendido pelo casal, que sorrindo, lhe fez festas no dorso.
A permissão de estadia da doninha estava confirmada e fora compreendido pelo Natureza, que de contente deu dois saltos.
A gravidez da senhora, ainda a algum tempo de distância do parto, já se fazia observar pelo aumento da barriga, mas permitiu mais umas ida a Braga, indo esta sempre  ao Bom Jesus.
O tempo corre e no lameiro a hora H, aproxima-se célere.
As dores começam a repetir-se e cada vez mais fortes. O marido aflito, sem dizer á esposa, vai a Braga para trazer a parteira.
O Natureza e a doninha pressentindo a aflição da dona, entram em casa, e, cada um do seu lado cama, parecem dar-lhe força e coragem, tentando dizer que as dores são naturais, tranquilizando a dona.
O lobinho de pé e com as patas da frente firmes na cama, deu um beijo na face esquerda da dona, enquanto a doninha pulava sem conseguir chegar à dona, parecendo querer dizer, que a dor mais forte era a dor do nascimento do bebé. 
Inesperadamente, quando a parturiente de olhos fechados, sentia a dor da hora H, na montanha, frente ao lameiro aparece numa luz celestial a imagem do Bom Jesus, que iluminando toda a casa, mostra o bebé á jovem mãe,
O Natureza e a doninha pulam de contentes.
De rompante e ofegante chega o pai, acompanhado da parteira.
O marido, ainda surpreendido e beijando carinhosamente a esposa, tem esta alegre expressão.
- A tua vontade realizou-se, temos uma menina, uma joia, uma verdadeira esmeralda.
A jovem mãe felicíssima, não cabendo em si de contente, e ao mesmo tempo que beija o marido, disse: 
- Será esse o nome da nossa filha, seja Esmeralda,
Durante muitos anos, de geração, em geração, e, em todos os Natais, os avós contavam aos seus netos a história do nascimento da menina, Esmeralda, a princesa do lameiro da serra do Soajo.
Hélder Salgado
Terena, Dezembro-2019.


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