MARIA HELENA FIGUEIREDO
Como se atreveu
Dr. António Costa?
Como se atrevem? foi assim que Greta Thunberg, uma miúda, frágil,
sozinha, interpelou nas Nações Unidas os líderes mundiais e os confrontou com a
falta de respostas à emergência climática , que põe em risco, a cada ano que
passa, a subsistência de milhares e milhares de espécies, de nós próprios e do
planeta.
E é assim que
nós, pessoas comuns, temos de interpelar quem nos governa e toma decisões em
nosso nome, sem nos consultar. Decisões que nos vinculam e nos envergonham
enquanto nação democrática, defensora dos direitos humanos e construtora da paz
e de entendimentos ao nível mundial.
Como se atreveram
os nossos governantes a permitir que o nosso país fosse usado, como se fossemos
um bordel, para que Netanyahu e Michael Pompeo viessem aqui encontra-se e
combinar-se para, mais uma vez, violar o direito internacional e subjugar o
povo palestiniano?
Muitos querem
fazer crer que na politica internacional a escolha e o encontro em Lisboa foi
um facto “normal”? Até o presidente Marcelo veio com uma narrativa lembrado um
encontro entre dois países, no nosso território, no tempo do fascismo. Mas não,
não foi. Não foi nem é normal.
Se fosse “normal”
e inócuo o Governo do Reino Unido, que é um governo alinhado à direita, não
teria recusado que o encontro se realizasse no seu território.
E se fosse
“normal”, ao que se sabe, outros Estados europeus não tinham recusado que o
encontro se realizasse nos respectivos territórios.
Foi o Governo
português, sem coragem política e sem coluna vertebral, convenhamos, que
subservientemente abriu as portas a que o encontro de falcões se realizasse em
território nacional.
Não é a 1ª vez
que o nosso país se presta a um tal papel. Não esquecemos a cimeira das Lages
quando Durão Barroso recebeu Bush, Blair e Aznar que aqui vieram iniciar a
guerra contra o Iraque.
Desta vez foi
António Costa e o Partido Socialista que deram luz verde a que Pompeo e
Netanyahu viessem a Lisboa para acordar como actuar contra o Irão,
desestabilizando, mais ainda, o médio oriente, e para preparar a anexação por
Israel do Vale do Jordão, uma parte importante da Cisjordania, em grave
violação do direito internacional e das resoluções das Nações Unidas, violando
os direitos do povo palestiniano e comprometendo, cada vez mais, a
possibilidade de uma solução para a Palestina.
E é por isso,
pelo menos, de questionar como é que esta autorização do Governo Português para
que o encontro se realizasse cá pode ser compatível com as posições que
Portugal defende nas Nações Unidas? E com as posições da Assembleia da
República?
Ainda há poucos
dias na Assembleia da República foi aprovado um voto de condenação da acção de
Netanyahu na Cisjordânia, com os votos do PS, em que esta «Reafirma o carácter
ilegal dos colonatos israelitas» e «Reitera o direito do povo palestiniano à
constituição de um Estado livre, viável, soberano e independente, com capital
em Jerusalém Leste, conforme as resoluções da ONU».
Nem que fosse por
coerência e por respeito para com o Parlamento, o Governo não poderia ter dado
luz verde a este encontro. Um encontro de que resultarão sabe-se lá o que
acções mas a que o nome de Lisboa e do nosso país ficará sempre ligado.
Mas mais, não
tendo de o fazer, António Costa e o ministro Santos Silva, no que só pode ser
entendido como um acto de subserviência face aos Estados Unidos e aos amigos de
Trump, receberam Netanyahu, quando este nem sequer estava em Portugal para
tratar do que quer que fosse com o governo português.
Com essa actuação
António Costa e o Governo português normalizam aos olhos do mundo os acordos a
que Pompeo e Netanyahu chegaram e associaram o nosso país às acções criminosas
da dupla Estados Unidos /Israel.
E tudo isto o
Governo faz em nome do nosso país e do nosso povo. Por isso é caso para
perguntar: como se atreveu Dr António Costa?
Até para a
semana!
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