quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM


                                                                        EDUARDO LUCIANO
                            Coisas estranhas, ou talvez não
Após o conhecimento dos resultados eleitorais de Outubro e do seu reflexo na composição da Assembleia da República era previsível que o circo mediático se montasse em torno das forças políticas que tiveram pela primeira vez assento no parlamento.
Como alguns alertaram, corria-se o risco de que todas discussões sérias fossem engolidas pela vertigem da algazarra em torno de figuras e forças políticas que com comportamentos mais ou menos exuberantes e alguns deles de perigosidade evidente para a democracia, passariam a alimentar a produção de informação indigente.
O que aconteceu nos últimos dias com o Livre, que foi a eleições quase sem programa político e com uma campanha centrada numa única candidata, é paradigmático do que se anunciava.
A deputada em causa entendeu abster-se numa tomada de posição de condenação de nova agressão israelita a Gaza, apresentada pelo PCP, o que levou a trocas de acusação entre a direcção do partido e a deputada, com um eco espantoso na comunicação social.
Na troca de acusações a senhora deputada não coibiu de afirmar quer tinha “ganho as eleições sozinha”. Fiquei espantado, porque até esse momento estava convencido de que tinha sido outro partido a ganhar as eleições e não aquele que teve apenas algumas dezenas de milhares de votos.
Ironias à parte, a afirmação é reveladora dos objectivos da então candidata para quem ganhar as eleições significava apenas mudar a sua condição de candidata a deputada.
Mas a novela mediática em torno da senhora deputada, que tinha começado pela saia do seu assessor, não ficou por aqui.
A senhora deputada terá falhado o prazo para apresentação de uma proposta de lei e para evitar ser questionada pelos jornalistas terá pedido protecção policial (esta coisa de chamar a polícia para se proteger de jornalistas parece-me ser uma opção sensata).
A última das notícias sobre o assunto é que a senhora deputada terá apagado a sua conta do twitter.
Se contabilizarmos bem, durante as duas últimas semanas não houve nenhum dia em que não se tivesse falado da deputada ou do seu assessor, sendo que nenhuma das referências e chamadas às luzes da ribalta teve a ver com iniciativas parlamentares ou a defesa de qualquer princípio do seu programa eleitoral.
Tudo isto seria risível se não contribuísse para o acentuar da opinião negativa corrente sobre a Assembleia da República que resulta nas alarvidades que se vão afirmando nos facebook desta vida.
Nada disto é inocente e não podem vir depois lamentar-se do crescimento da extrema-direita.
Até para a semana


Sem comentários: