EDUARDO LUCIANO
Coisas estranhas, ou talvez
não
Após o conhecimento dos resultados eleitorais de
Outubro e do seu reflexo na composição da Assembleia da República era
previsível que o circo mediático se montasse em torno das forças políticas que
tiveram pela primeira vez assento no parlamento.
Como alguns
alertaram, corria-se o risco de que todas discussões sérias fossem engolidas
pela vertigem da algazarra em torno de figuras e forças políticas que com
comportamentos mais ou menos exuberantes e alguns deles de perigosidade
evidente para a democracia, passariam a alimentar a produção de informação
indigente.
O que aconteceu nos
últimos dias com o Livre, que foi a eleições quase sem programa político e com
uma campanha centrada numa única candidata, é paradigmático do que se
anunciava.
A deputada em causa
entendeu abster-se numa tomada de posição de condenação de nova agressão
israelita a Gaza, apresentada pelo PCP, o que levou a trocas de acusação entre
a direcção do partido e a deputada, com um eco espantoso na comunicação social.
Na troca de acusações
a senhora deputada não coibiu de afirmar quer tinha “ganho as eleições
sozinha”. Fiquei espantado, porque até esse momento estava convencido de que
tinha sido outro partido a ganhar as eleições e não aquele que teve apenas
algumas dezenas de milhares de votos.
Ironias à parte, a
afirmação é reveladora dos objectivos da então candidata para quem ganhar as
eleições significava apenas mudar a sua condição de candidata a deputada.
Mas a novela
mediática em torno da senhora deputada, que tinha começado pela saia do seu
assessor, não ficou por aqui.
A senhora deputada
terá falhado o prazo para apresentação de uma proposta de lei e para evitar ser
questionada pelos jornalistas terá pedido protecção policial (esta coisa de
chamar a polícia para se proteger de jornalistas parece-me ser uma opção
sensata).
A última das notícias
sobre o assunto é que a senhora deputada terá apagado a sua conta do twitter.
Se contabilizarmos
bem, durante as duas últimas semanas não houve nenhum dia em que não se tivesse
falado da deputada ou do seu assessor, sendo que nenhuma das referências e
chamadas às luzes da ribalta teve a ver com iniciativas parlamentares ou a
defesa de qualquer princípio do seu programa eleitoral.
Tudo isto seria
risível se não contribuísse para o acentuar da opinião negativa corrente sobre
a Assembleia da República que resulta nas alarvidades que se vão afirmando nos
facebook desta vida.
Nada disto é inocente
e não podem vir depois lamentar-se do crescimento da extrema-direita.
Até para a semana
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