CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
Eu sou livre, tu
és livre, viva a livraria!
Este
jogo de palavras é dos que aparece de vez em quando na rede social com que me
dou. Uma piada a valorizar o livro e a leitura como ferramentas e práticas que
podem promover o espírito crítico e abrir horizontes aos seus mais assíduos
utilizadores. Mas a gracinha, no contexto destes dias que correm, leva-nos,
claro, para outro caminho: o mediático impacto dos novos partidos no
comportamento dos seus deputados e no próprio desempenho da AR. Potenciado
sobretudo pela deputada eleita pelo Livre, mas não só, de quem aliás quase
todos já temíamos, pelas mais diferentes e opostas razões, o desmascarar de
várias pulsões latentes no comportamento de cidadãos a quem se devolve
ciclicamente o direito e o dever de escolher quem nos governa, e que se
distraem a desdenhar os Partidos e a deslumbrarem-se com heróis. É verdade,
também, que todos os Partidos se foram moldando a este gosto e se enchem de
candidatos a heróis que julgam que para não parecer o político odiável não é
preciso perceber de Política.
Se do Livre vamos
tendo, graças à vistosa deputada, notícias em catadupa do que corre menos bem,
do Chega! vamos conhecendo detalhes sórdidos da sua pop-star e o incómodo de
alguns que, coitados, parece que foram ao desengano quando integraram o Partido
e bateram agora com a porta. Mas também o Iniciativa Liberal parece não estar,
enquanto Partido, a viver tão mais tranquilos dias quanto os “velhos Partidos”
de quem cativaram muitos eleitores, a braços igualmente com questões de
liderança. Fá-lo-ão provavelmente em circuito mais discreto, se não ensinados
pelo habitual funcionamento muito intestino dos tais “velhos Partidos” de onde
saíram, talvez pela prática do segredo como alma do negócio que é o ar que
respiram há mais tempo.
O aparecimento dos
novos Partidos parecia reflectir um avanço na maturidade democrática do País.
Afinal, apenas reflectiu o aviso do papel de todos os que, em diferentes
níveis, tresleram o impacto de uma cultura do “salve-se quem puder”, do “eles e
nós”, do “subir na vida e ser alguém”, pelo preço de um prato de lentilhas. E
estes “radicais livres”, reagindo a um equilíbrio que acusavam de caduco,
viciado, falo dos chamados Partidos do sistema, ganharam espaço qual moléculas
libertadas pelo metabolismo do corpo que, se na realidade provocam doenças
degenerativas de envelhecimento e morte celular, metaforicamente não significam
nenhum rejuvenescimento da nossa Democracia.
Como as piadas desde
sempre ensinam, esta que escolhi sobre liberdade e livros também nos ensina
onde os podemos encontrar: nas privadas e aliciantes livrarias (físicas ou
on-line) e, as minhas preferidas, nas acessíveis bibliotecas públicas. Ambas
colectivos organizados, com regras, e quando bem geridas, sempre dispostas a
evoluir com o tempo rejuvenescendo-se. E já agora que estou em maré de frases
que são best-sellers, na senda da importância do colectivo, lembro o velho e
sábio provérbio africano que nos ensina a ir mais longe, e não é sozinho.
Até para a semana
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