Autor de livro sobre estrada que colapsou
defende reabilitação da via
por Lusa
O autor de um livro sobre a estrada entre Borba e Vila Viçosa (Évora) que
colapsou há um ano defendeu hoje a reabilitação da via devido à sua importância
história e em homenagem às cinco vítimas mortais.
"Do ponto de vista da análise histórica, defendo que realmente seria
importante" que a Estrada Municipal 255 "fosse reabilitada",
disse à agência Lusa Tiago Salgueiro, autor do livro "A Estrada Real -
Memórias do caminho entre Borba e Vila Viçosa".
Por outro lado, frisou, a reabilitação da estrada seria "também uma
homenagem justa às vítimas do infeliz" colapso, que ocorreu a 19 de
novembro de 2018, devido ao deslizamento de um grande volume de rochas, blocos
de mármore e terra para o interior de duas pedreiras contíguas, e provocou
cinco mortos.
"Devido à importância da estrada, do ponto de vista histórico, fará
todo o sentido" a reabilitação, "porque, realmente, é uma via que
teve uma importância muito grande ao longo de séculos, nomeadamente enquanto
acesso privilegiado ao Paço Ducal de Vila Viçosa", sublinhou.
Hoje, o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, disse que
"não há forma de [se] poder abrir" a estrada, referindo não se tratar
de "falta de vontade política", mas sim de "uma questão de segurança".
"Lamento, porque há uma carga histórica associada" à estrada,
reagiu Tiago Salgueiro, sublinhando que "defende" a reabilitação da
via, mas não sabe se tal "será possível do ponto de vista técnico" e
se o investimento necessário será "demasiado elevado ou impeditivo
até".
"Compreendo os argumentos, calculo que o investimento a fazer seria
muito elevado, mas, do ponto de vista sentimental e afetivo", a
reabilitação da via "seria o grande desejo, a grande aspiração das
populações de Borba e de Vila Viçosa", sublinhou.
Segundo Tiago Salgueiro, o livro, que foi lançado em julho deste ano, numa
edição conjunta dos municípios de Borba e Vila Viçosa, serviu para
"desmistificar uma ideia", que surgiu após o desabamento, de que se
tratava de "uma estrada secundária, que somente servia para acesso às
zonas de extração e transformação" de mármores.
Tiago Salgueiro disse que a investigação que fez e o livro demonstram
"precisamente o contrário" e que a estrada, ao longo de vários
séculos, "tendo em conta o facto de em Vila Viçosa estar sedeada a Casa de
Bragança, foi essencial em termos de comunicação".
"As referências históricas à `estrada real` são uma evidência a partir
do início do século XVI", quando foi construído o Paço Ducal de Vila
Viçosa, disse, referindo que se tratava do "percurso privilegiado" de
ligação da sede da Casa de Bragança à capital do reino e aos restantes
territórios sob sua jurisdição.
A estrada, "enquanto eixo de comunicação, foi absolutamente vital no
âmbito das guerras da Restauração e das Invasões Francesas" e há registo
de "muitas visitas históricas" a Vila Viçosa com passagem pela via,
que "só perdeu alguma importância com a criação da linha de
caminho-de-ferro e da Estação de Vila Viçosa em 1905".
A partir de meados do século XX, a antiga Estrada Nacional 255
"assumiu uma importância muito relevante do ponto de vista económico"
ao tornar-se "o acesso privilegiado às pedreiras e unidades de
transformação de mármore", a "principal atividade
socioeconómica" dos concelhos de Borba e Vila Viçosa.
A estrada passou a municipal em 2005, quando foi inaugurada a
"variante" que liga as vilas de Borba e Vila Viçosa, mas, mesmo antes
do colapso, "continuava a ser utilizada com muita frequência" por
habitantes dos dois concelhos.
A via "era absolutamente diferenciadora e caracterizava muito bem a
zona do anticlinal dos mármores, composta por crateras de pedreiras de
mármores, que impressionam", e por isso, "alguns circuitos turísticos
incluíam a passagem pela estrada" para os turistas verem as pedreiras
antes da visita a Vila Viçosa e ao Paço Ducal, disse.
Questionado sobre se o colapso da estrada provocou a diminuição de visitas
a Vila Viçosa e ao Paço Ducal, Tiago Salgueiro disse que "essa avaliação
ainda não está feita", mas, "do ponto de vista empírico, à partida,
não".
"Mas não sei até que ponto um estudo do impacto económico não terá se
der equacionado no futuro, não só em relação às visitas a Vila Viçosa, mas
também a toda a dinâmica que decorria da passagem pela estrada e que acabou por
ser afetada", concluiu.
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