quarta-feira, 13 de novembro de 2019

MAIS UM “APONTAMENTO” DE MIGUEL CARVALHO PUBLICADO NA VISÃO

Com o nome de “ARQUIVO MORTO” e publicado na Revista Visão, Miguel Carvalho. brinda-nos  COM MAIS UMA EXCELENTE CRONICA. - NÃO DEIXE DE LER! 


          QUANDO SALAZAR, ESSE “NOCTÍVAGO”, APLAUDIU A “CRIATURINHA” DO FADO 
Nesta como noutras áreas, como se sabe, Salazar revelou-se “duro de ouvido”. Mas naquele momento arrebatador proporcionado por Amália Rodrigues, transfigurou-se, segundo a Imprensa espanhola, num “notívago excecional”.
Em agosto de 1966, a inauguração da Ponte Salazar pela ditadura foi assinalada com uma festa, no Palácio de Queluz, para 1600 convidados nacionais e estrangeiros, a nata da política e da aristocracia europeia. Foi uma noite como poucas para Salazar que, segundo o enviado especial do Diário de Burgos, “não se deitou, com certeza, antes das quatro da madrugada, pois já passava das três quando se retirou para descansar”.
Vinda expressamente de Hollywood, onde cumpria contrato para vários espetáculos, Amália Rodrigues foi a convidada de honra da cerimónia. A fadista deveria cantar ao ar livre, mas um vento frio, pouco típico daquele verão, obrigou a cantora e os ilustres convivas, a recolherem-se nos salões, onde não cabia nem mais um alfinete. Alguns diplomatas tiveram mesmo de sentar-se no chão para poder ouvi-la.
Ia a festa noite dentro quando Amália começou, finalmente, a cantar.
Segundo o repórter espanhol, estava visivelmente nervosa. Não porque a presença de numeroso público lhe fosse estranha, mas por tratar-se da primeira vez que atuava na presença de Salazar. Exausta, por mais de dez vezes ela quis dar por terminada a sua exibição, mas foi ovacionada de tal forma que se sentiu obrigada a manter-se em palco, sem dar descanso à “sua voz mágica, singular, de milagre e exaltação”.
Salazar, do qual se dizia que nunca sorria, estava exultante.
Ou então, teria sido exagero de repórter, pois “não era dos que aplaudiam com menos entusiasmo”.
No final, exibindo rasgados sorrisos, o ditador lá foi cumprimentar Amália, a quem sempre tratara depreciativamente, nas conversas mais recatadas, por “criaturinha”. De resto, o Presidente do Conselho era pouco dado ao fado, género musical pelo qual terá confessado um profundo desprezo, apesar do uso que dele fez para tentar adoçar a imagem do regime.
Nesta como noutras áreas, como se sabe, Salazar revelou-se “duro de ouvido”. Mas naquele momento arrebatador proporcionado por Amália Rodrigues, transfigurou-se, segundo a Imprensa espanhola, num “notívago excecional”. Dessa noite, porém, pouco perduraria: o ditador faleceu quatro anos depois, a ponte ainda se aguentou com o seu nome quase oito anos, mas seria rebatizada “25 de Abril” logo após a revolução. A caminho do centenário do seu nascimento, apenas Amália Rodrigues é hoje fator de união nacional. Passe a expressão, claro.

2 comentários:

Anónimo disse...



OBS.


Salazar não gostava de Fado mas parece também que não gostava de Futebol e

em relação a Fátima sempre foi algo recatado. Era,claro está, um sábio

português. O problema existencial que, aliás, contagiou o país é que talvez

gostasse igualmente pouco de si mesmo.

E deu no que deu: era politicamente falando um grande e complexo manhoso!

Fiquemos por aqui



SAudações Democraticas


ANBerbem

Anónimo disse...



OBS.


Não posso,não quero, não devo deixar de dizer que, ontem, quando fiz

este Comentário sobre Salazar estava destroçado com o falecimento do

Manuel João (Pires vai daqui o meu eterno Abraço e do Al tejo) e não

terei deixado entretanto claro que Salazar achava o Fado demasiado

dramatico e fatalista, não sendo mais e mais não era do que uma canção

Lisboeta que não representava o Portugal inteiro . Do Minho a Timor.

Já quanto ao Futebol, relembra-se que após o Mundial de 66, em

Inglaterra, quando a Comitiva lhe foi apresentar cumprimentos em S. Bento

pelo brilhante 3º Lugar, Salazar, trocou os nomes dos jogadores e ao

Hilário chamou Coluna e ao Coluna o Eusebio. Desconhecia já nessa altura

que os dois jogadores eram afinal militantes da FRelimo .


Acresce ainda que relativamente a Fátima sabe-se que o seu grande amigo

era o Cardeal Manuel Cerejeira. Amigos e companheiros de quarto, no

Seminário. Discípulos de uma mesma ideologia e projecto social

antirepublicano.

Certo é que quando se separaram, um disse para o outro: António irás e

vais defender os interesses do Estado; eu, Manuel, vou defender os

interesses da Igreja. Uma separação apesar de tudo bastante amigável.

Assim veio a acontecer durante decadas. Hoje, a Igreja é rica e o

Estado não dá a ideia que seja pobre. O Manuel tocava muito bem piano;

o Salazar (com aquela voz aflautada) nem para ser orador tinha jeito.

FIM.

( O Manuel João, esse sim, sempre teve a sua arte de não se

coçar muito. O que terá feito bem...).


Serve tudo o que acabamos de dizer para relembrar que a Amália andava

noutras vidas artísticas. E que, naquela noite da Ponte, só poderia

estar muito nervosa...


Por isso também digo que o Meu Amigo Manuel João não merecia morrer

tão mal e tão cedo.Provavelmente, Deus, distraiu-se com esta ordem de

marcha!

É pois com uma profunda magoa e furtiva lagrima que queremos deixar

isto, claramente dito, em nome dos Alandroalenses teus Amigos.


Cumprimentos à Família


ANtonio Neves Berbem