segunda-feira, 25 de novembro de 2019

A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM


                                                                     MARIA HELENA FIGUEIREDO
                  Há sempre qualquer coisa que está para acontecer …
Esta semana aconteceu muita coisa. Duas merecem-me especial referência: a perda de Zé Mário Branco e a manifestação da PSP e GNR
Inesperadamente perdemos o José Mário Branco. Perdemos mais do que o músico, mais do que o compositor. Perdemos um lutador pela liberdade, um Homem sem hesitações no combate ao fascismo e um construtor da democracia que hoje vivemos.
É alguém que sinto muito próximo não me sendo próximo. Alguém cuja morte deixa um sentimento fundo de vazio, daqueles que sentimos quando perdemos um amigo, com quem partilhamos cumplicidades.
Ver partir o Zé Mário Branco é como perder uma parte importante da minha juventude, do tempo em que ouvíamos às escondidas uns discos que alguns amigos arranjavam, em que a cantiga era a nossa arma colectiva.
É ver partir um pouco do que foi a luta contra o colonialismo, da libertação dos presos políticos, do frémito do 1º primeiro de Maio, do tempo que se seguiu ao 25 de Abril em que a minha geração tomou a rua, a organização popular nas comissões de moradores, de escolas, da alfabetização, da criação de sindicatos, pelo país fora, quando se construía um futuro colectivo e a liberdade.
José Mário Branco era um homem especial. Lembro-me de há quase 10 anos o Zé Mário Branco na Sociedade Harmonia a falar de si e da sua música e da forma como rejeitava a propriedade das suas canções que deixavam de ser suas quando as partilhava connosco.
José Mário Branco esteve sempre do lado certo, inquieto, lutador. Deixa-nos dos mais belos e fortes poemas da música portuguesa, mas deixa-nos sobretudo o seu exemplo, tão importante hoje quando a extrema direita se organiza no mundo e também no nosso país.
E isto leva-nos à manifestação das policias. Uma manifestação à volta da qual alguns tentaram criar um clima de alarme social, que se comprovou infundado e fruto de manipulação.
Uma manifestação justa, numa luta justa dos profissionais da PSP e da GNR por melhores condições remuneratórias, por melhores condições de reforma, por subsídio de risco numa profissão em que o risco é efectivo.
As condições em que trabalham são muitas vezes indignas: más instalações em muitas esquadras, deslocados muitas vezes das famílias a viver em camaratas sem condições porque o salário não dá para a renda, trabalho por turnos, salários baixos que têm que complementar com os “gratificados” … Não é por acaso que a taxa de suicídio entre os profissionais da PSP e GNR é o dobro da restante população.
Esta foi uma manifestação que decorreu pacificamente convocada pelos maiores sindicatos e associações profissionais das duas corporações. Organizações que nasceram a custo, de lutas longas e difíceis e que custaram processos disciplinares aos seus dirigentes.
Mas não se pode escamotear a tentativa e as infiltrações da extrema direita, a coberto de um movimento clandestino, que se dá o nome de Zero, de que ninguém conhece os dirigentes, e que tenta cavalgar as justas reivindicações da classe, pondo-a ao serviço de forças obscuras.
Não é admissível num Estado de Direito democrático que uma minoria de policias e agentes da GNR actue clandestinamente, minando as instituições e as próprias organizações sindicais e associativas, partidarizando a luta da sua classe.
Não é admissível e é ilegal e por isso deve ser investigado e travado.
Mas para pôr um travão à infiltração da extrema direita não basta o reconhecimento da justeza das reivindicações. É preciso que o Governo responda a estes profissionais com medidas concretas, melhorando o estatuto remuneratório e dando-lhes as condições efectivas de exercício da missão.
Estamos a falar de segurança e de democracia, bens mais valiosos que qualquer superavit orçamental, e que compete ao primeiro ministro – e não a qualquer ministro das finanças – garantir. Por isso, espera-se que António Costa e o Governo no seu conjunto tomem as medidas que neste caso se impõem.
Até para a semana!


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