MARIA HELENA FIGUEIREDO
Há sempre qualquer
coisa que está para acontecer …
Esta semana aconteceu muita coisa. Duas merecem-me especial
referência: a perda de Zé Mário Branco e a manifestação da PSP e GNR
Inesperadamente
perdemos o José Mário Branco. Perdemos mais do que o músico, mais do que o
compositor. Perdemos um lutador pela liberdade, um Homem sem hesitações no
combate ao fascismo e um construtor da democracia que hoje vivemos.
É alguém que
sinto muito próximo não me sendo próximo. Alguém cuja morte deixa um sentimento
fundo de vazio, daqueles que sentimos quando perdemos um amigo, com quem
partilhamos cumplicidades.
Ver partir o Zé
Mário Branco é como perder uma parte importante da minha juventude, do tempo em
que ouvíamos às escondidas uns discos que alguns amigos arranjavam, em que a
cantiga era a nossa arma colectiva.
É ver partir um
pouco do que foi a luta contra o colonialismo, da libertação dos presos
políticos, do frémito do 1º primeiro de Maio, do tempo que se seguiu ao 25 de
Abril em que a minha geração tomou a rua, a organização popular nas comissões
de moradores, de escolas, da alfabetização, da criação de sindicatos, pelo país
fora, quando se construía um futuro colectivo e a liberdade.
José Mário Branco
era um homem especial. Lembro-me de há quase 10 anos o Zé Mário Branco na
Sociedade Harmonia a falar de si e da sua música e da forma como rejeitava a
propriedade das suas canções que deixavam de ser suas quando as partilhava
connosco.
José Mário Branco
esteve sempre do lado certo, inquieto, lutador. Deixa-nos dos mais belos e
fortes poemas da música portuguesa, mas deixa-nos sobretudo o seu exemplo, tão
importante hoje quando a extrema direita se organiza no mundo e também no nosso
país.
E isto leva-nos à
manifestação das policias. Uma manifestação à volta da qual alguns tentaram
criar um clima de alarme social, que se comprovou infundado e fruto de
manipulação.
Uma manifestação
justa, numa luta justa dos profissionais da PSP e da GNR por melhores condições
remuneratórias, por melhores condições de reforma, por subsídio de risco numa
profissão em que o risco é efectivo.
As condições em
que trabalham são muitas vezes indignas: más instalações em muitas esquadras,
deslocados muitas vezes das famílias a viver em camaratas sem condições porque
o salário não dá para a renda, trabalho por turnos, salários baixos que têm que
complementar com os “gratificados” … Não é por acaso que a taxa de suicídio
entre os profissionais da PSP e GNR é o dobro da restante população.
Esta foi uma
manifestação que decorreu pacificamente convocada pelos maiores sindicatos e
associações profissionais das duas corporações. Organizações que nasceram a
custo, de lutas longas e difíceis e que custaram processos disciplinares aos
seus dirigentes.
Mas não se pode
escamotear a tentativa e as infiltrações da extrema direita, a coberto de um
movimento clandestino, que se dá o nome de Zero, de que ninguém conhece os
dirigentes, e que tenta cavalgar as justas reivindicações da classe, pondo-a ao
serviço de forças obscuras.
Não é admissível
num Estado de Direito democrático que uma minoria de policias e agentes da GNR
actue clandestinamente, minando as instituições e as próprias organizações
sindicais e associativas, partidarizando a luta da sua classe.
Não é admissível
e é ilegal e por isso deve ser investigado e travado.
Mas para pôr um
travão à infiltração da extrema direita não basta o reconhecimento da justeza
das reivindicações. É preciso que o Governo responda a estes profissionais com
medidas concretas, melhorando o estatuto remuneratório e dando-lhes as
condições efectivas de exercício da missão.
Estamos a falar
de segurança e de democracia, bens mais valiosos que qualquer superavit
orçamental, e que compete ao primeiro ministro – e não a qualquer ministro das
finanças – garantir. Por isso, espera-se que António Costa e o Governo no seu
conjunto tomem as medidas que neste caso se impõem.
Até para a
semana!
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