Mestre José Salgueiro deixou-nos no passado mês de Julho
com a provecta idade de 100 anos e como tal, e muito bem, resolveu a Edilidade
Montemorense prestar-lhe a merecida homenagem.
Durante a
mesma foram lidos alguns extratos quer em prosa quer em poesia do seu último
livro «A MINHA VIDA DAVA UM ROMANCE»
- que teve a particularidade de ser concebido por intermédio de várias
gravações, posteriormente passadas para computador pela Professora Manuela Rosa,
neta do mais famoso ervanário de Montemor, senhor Francisco Virtuoso.
A leitura
desses mesmos extratos despertou-me a curiosidade, e, como tal dirigi-me ao
local onde incluído na Feira da Luz funciona a Feira do Livro com o intuito de
adquirir a obra. Abro aqui um parêntesis apenas para mostrar a minha gratidão a
quem elaborou a distribuição dos livros em venda, pela maneira (logo a abrir),
como diversas obras alusivas ao Alandroal estavam em destaque. Claro que
adquiri além da obra do Mestre Salgueiro também os Cadernos do Endovélico – 3 (obra
coordenada pela Ana Paula Fitas, e na qual colaboram entre outros Manuel
Calado, Conceição Roque, Rui Mataloto, João Torcato Justa, obra que foi
patrocinada pela C.M.A. na gerência da Dr. Mariana Chilra).
Após esta
introdução, convém esclarecer que trouxe à baila este livro, porque o mesmo fez
despertar em mim determinadas recordações da infância fazendo-me recuar aos
meus tempos de menino.
Mestre
Salgueiro relata-nos a suas origens e dos antepassados, ao narrar toda uma vida
de miséria e sacrifícios porque passou, não escondendo a fome tão pouco os
estratagemas a que bastas vezes se viu forçado para sobreviver. Foi uma época
de miséria, em que a coberto do beneplácito de Salazar os grandes latifundiários
exploravam até ao tutano a classe trabalhadora.
Os quase
trinta anos que nos separam na idade e a sorte de ter sido auxiliado e
acarinhado por família abastada, foram motivo suficiente para não passar pelos
mesmos tormentos de Mestre Salgueiro. No entanto não posso deixar de lembrar os
sacrifícios vividos pelos meus antepassados que pouco diferem de todas as
privações passadas pelo Mestre.
No entanto também
eu na minha meninice me banhei nos pégos do Lucifecit, conheci muitos “malteses”,
armei muitas “armadilhas” para apanhar pássaros, fiz venda dos mesmos (ao
Domingos Cachamela), aguardei a chegada do meu pai que palmilhava da Barranca e
às vezes das Águas Frias ao Alandroal para vir caçando, e eu ir vender, para
deixar algo para se comer e pagar o fiado. Como essa leitura me trouxe à
memória os longos períodos de migração ou para a Barranca ou para as Águas
Frias para acompanhar as mondas, as ceifas, as debulhas…o sacrifício a que
tantos se viam obrigados a angariar o sustento da família!
Ficaram-me
da leitura simples, mas de coração aberto «da minha vida dava um romance», os
momentos tão bem retratados da vida do passado de todos aqueles que “não
nasceram em berços de ouro”.
Deixo-vos
com um dos últimos vídeos no qua o Mestre mostra toda a sua sabedoria no
capitulo da poesia e não só.
F. Tátá
F. Tátá
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