terça-feira, 8 de outubro de 2019

A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM


CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
Foi muito tempo fora desta escrita em espaço público. Um acumular de assuntos que mereceriam a palavra que a DianaFm quer continuar a dar-me e os ouvintes/leitores vão tendo a paciência de ouvir/ler. Obrigada a ambos e vamos lá a mais uma série de crónicas, a partir desta cidade que se diz de toda a Humanidade.
O prato principal da semana será, para além do fenómeno não inesperado mas sempre alarmante da abstenção, a constituição do 22º Governo de Portugal. Prato regado com pipas de liquidez verbal jorrada por comentadores e cenaristas. Desde 2015 que os Portugueses tiveram a oportunidade de perceber a importância da AR na governação e não apenas no contrapoder que em 2011 teve o seu exemplo mais recente. Tiveram a oportunidade, mas só metade dos eleitores lhe reagiram, o que exige mudanças, que tardam, por parte dos Partidos que constituirão a AR, sob pena de o sentido da Democracia se perder. Mesmo que mais três Partidos, por muito bizarros que aparentem ser, seja um sinal de maturidade democrática.
De qualquer forma, foi graças a uma chamada “geringonça” que isto aconteceu, o que certamente alegrará os manuais de História daqui a alguns séculos.  O inadvertido padrinho nunca terá imaginado o bem que fez a sua inspiração no momento da discussão acalorada, sobretudo porque tendo submergido de novo, qual submarino, para longe das luzes da Política nacional, não deve ter imaginado o favor que fez aos adversários e em que doca-seca deixou os seus correligionários.
Porque as geringonças já cá andam há muito tempo, sem que, só quem nunca esteve em nenhuma organização em que é preciso fazer e submeter a escrutínio propostas de governação, a qualquer nível e em qualquer actividade, o pudesse imaginar. Um jogo de forças díspares mas sem que a mais leve seja dispensável; uma arte em fazer rodar as personagens da sombra para o centro do palco; uma técnica em escolher a banda sonora que concentra os olhos nos bailarinos ou os fecha para que só se ouça a música e se esqueça o baile. Enfim, muitas outras habilidades para as quais haveria outras tantas metáforas ou alegorias.
O que não falta, aliás, são geringonças, nesta sociedade em que as dinâmicas são democraticamente sujeitas a forças de sentidos vários e com desígnios tão misteriosos a olho nú. A ver vamos no que vai dando, sentidos bem alerta para lermos as mudanças, os regressos, e irmos fintando  essa impressão de que somos só espectadores desatentos da vida que nos condiciona o percurso no sistema.  Usemos todos os sentidos de que dispomos para alimentarmos as sinapses a que temos direito. Vão ver como, no fim, mesmo que não tenhamos gostado do espectáculo, sairemos contentes por termos a nossa própria opinião e sermos donos da vontade de assistir, talvez até noutro lugar, à sequela.
Até para a semana.



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