CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
Luzes! Câmara! Fogo!
O tempo entre saber-se quem seriam
os próximos ministros e a sua tomada de posse proporcionou o habitual vazio
como rampa de lançamento para o início das contestações. E por isso, se aquecem
motores e concertações entre oponentes ao Governo e uma certa Comunicação
Social, à volta dos que, não fosse o vazio, seriam, se calhar, fait-divers.
Desta feita com casos na Educação, graves sem dúvida, e empolados, de violência
entre professores e alunos, nos dois sentidos. E na Saúde, o caso absolutamente
dramático do bebé de Setúbal. Curiosamente holofotes em assuntos de dois
ministérios que muitos julgavam que iriam mudar de responsável.
Se
no caso da Saúde o “esterco na ventoinha” foi direitinho para a desmascarada
inutilidade, ou mau-uso o que é ainda pior, da Ordem dos Médicos e do seu
mediático bastonário, ávido de um protagonismo fora da sua corporação; no caso
das Escolas, a contenção com que a tutela cautelosamente reagiu perante
casos-crime, fez do sindicalista de serviço protagonista, e a, mais uma vez, ajudar
a denegrir a imagem dos professores, hierarquizando-os até entre os de primeira
e os de segunda.
O
que estes dois casos realçaram, para além de darem notícia do que é de facto
notícia e que a CS tem como função divulgar, foi sobretudo o aproveitamento que
deles fizeram outros implicados no mesmo sistema. Figuras institucionais, nas
Ordens ou nos Sindicatos, que, nas suas funções, podem e devem servir para
defender o bom nome dos profissionais que representam. E este aproveitamento
não só contamina, pela sua enviesada agenda, uma certa CS que vive só destes
casos mal explicados, como prejudica a relação destes profissionais com a
restante sociedade.
Lido
quotidianamente com jovens saídos da escola enquanto alunos e que escolheram
estudar para regressarem à escola como professores. Toda a conversa do
envelhecimento do corpo docente das escolas e da falta destes profissionais
lhes abrem expectativas de uma entrada mais fácil no mercado de trabalho. Sabem
qual é o ambiente das escolas por que passaram e escolheram voltar para lá. A
imagem de caos que estes casos empolam presumo que não lhes apagará a vocação,
mas impressiona certamente todos os outros cidadãos que terão de contactar com
a Escola, imaginando-as antros infrequentáveis. E essa parece ser a agenda escondida
à vista de todos em horário nobre.
Esta
exploração mediática apocalíptica, a que assistimos sobretudo no canal que na
minha TV está na posição oito, lembra-me sempre as reportagens sobre algumas
cidades no Verão de 2013, e que contribuíram para que nelas os executivos
mudassem de partidos no Outono seguinte. E no entanto, como vi acontecer para o
caso que conheço, mal o Inverno tinha começado e já liamos guias de sugestões
de cidades a visitar, onde Évora sobressaía pelo bom que por cá se fazia. E o
novo executivo ainda nem sequer tinha aquecido as cadeiras em que
confortavelmente tinha acabado de se sentar. A continuarem estes meios a usar
esta linguagem para passar certas mensagens, talvez não fosse mal pensado irmos
tratando de aprender a ler o mundo assim codificado, em que depois das técnicas
que ditam “luzes! câmara!” a ordem seja mesmo “acção!” e não “fogo!”.
Até
para a semana.
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