MARIA HELENA FIGUEIREDO
O Mundo já está a
arder?
Nos últimos tempos os conflitos
sociais multiplicam-se por todo o mundo e as causas – directas ou indirectas –
têm um fundo comum, a desigualdade económica e a contestação politica.
Desigualdade
económica fruto das políticas neoliberais, austeritárias, assentes em modelos
de economia extractivista, acentuada pelo desmantelamento das políticas sociais
e desinvestimento em saúde e escola públicas. Tudo ao mesmo tempo que se
transferem recursos públicos para as grandes empresas, cada vez mais financiarizadas.
Segundo
a Oxfam, no final de 2018 os 26 mais ricos do mundo tinham em seu poder tantos
recursos como 3, 8 mil milhões de pessoas, ou seja a metade mais pobre da
população mundial. E apenas num ano a riqueza dos mais ricos aumentou 12% e a
dos mais pobres caiu 11%.
Se
olharmos à volta, que vemos? Começa a haver uma revolta dos de baixo que vem
crescendo contra o empobrecimento geral que é imposto.
Em
França foram meses de protestos nas ruas com os “coletes amarelos” contra
Macron, exigindo aumento do salário mínimo, das pensões e mais impostos para os
ricos.
A
América Latina está em grande efervescência com protestos e conflitos violentes
que se estendem ao Chile, ao Equador, Bolivia, Perú, Paraguai e à Venezuela
No
Chile, o protesto iniciado pelo aumento dos transportes, alastrou à contestação
às desigualdades e ao elevado custo de vida e fez já 19 mortos, 500 feridos e
cerca de 2.500 foram detidas. O Presidente Piñera acabou por pedir perdão à
população e comprometer-se a alteração às políticas sociais.
Mesmo
nos casos em que governos “progressistas” como a Bolívia ou o Equador se
constituíram como alternativas ao neoliberalismo reinante, as inflexões
políticas, muito determinadas pela intromissão dos Estados Unidos, acabaram por
deitar por terra muita da esperança das populações.
No
Equador o aumento dos combustíveis foi o gatilho para a contestação popular que
se alargou à contestação das políticas austeritárias do Governo, que acabou a
decretar o estado de excepção. O governo voltou atrás na medida e foi obrigado
a negociar com os líderes indígenas, mas na contabilidade dos protestos ficaram
7 mortos, 1.340 feridos e quase 1.200 detidos e na Bolívia, onde 70% da
população é pobre, as manifestações e bloqueios em período eleitoral
sucederam-se.
No
Brasil, depois do golpe que afastou Dilma Rousseff, o desmantelamento das
politicas sociais e ambientais por Bolsonaro tem vindo a acentuar a contestação
e os fogos na Amazónia vieram comprovar os priores receios.
Espera-se
que estes movimentos sociais se robusteçam e obriguem a gerar políticas mais
equitativas e justas.
Mas
este revolta social é também um caldo propicio a derivas autoritárias e ao
ressurgimento de governos de extrema direita com a compressão de direitos cívicos
e o ataque à democracia. Trump nos Estados Unidos ou Bolsonaro no Brasil são
focos de instabilidade permanente na região.
Na
América Latina são tempos de luta. Luta contra as forças conservadoras e o
neoliberalismo, luta pelos direitos dos trabalhadores e contra a ingerência
externa. Mas também no Líbano, em Hong Kong ou na Catalunha estes são tempos
difíceis, em que se luta pelos direitos civis individuais e também pelo
direitos dos povos auto-determinação.
Umas
e outras são lutas justas. Exigem por isso a nossa solidariedade colectiva.
Até
para a semana!
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