RUI MENDES
O novo parlamento
Retomamos hoje o ciclo semanal de
crónicas, as quais tiveram uma interrupção prolongada devido às eleições
legislativas.
Ora,
o tema desta crónica será precisamente sobre as eleições legislativas.
Estavam
inscritos para este acto eleitoral 10 811 milhões eleitores. Contudo,
ainda não se conhecem os resultados dos consulados, que irão eleger 4
deputados, 2 pelo circulo da Europa e 2 pelo fora da Europa.
Dos
eleitores dos restantes 20 círculos eleitorais 45,46% abstiveram-se. Uma
percentagem de eleitorado que cresce de eleição para eleição e que mostra bem o
descrédito que a política tem para muitos. As teias que se têm criado e os
níveis de corrupção certamente contribuíram para o afastamento de muitos da
política, e para a sua não contribuição em actos eleitorais.
Até
porque a este acto eleitoral concorriam 21 forças políticas, pelo que não seria
pela falta de escolha que o eleitor não votaria.
E,
ainda assim, 129 610 eleitores (2,54%) votaram em branco. Aqueles eleitores
entenderam votar, mas acharam que nenhuma das forças politica lhes merecia o
seu voto.
Foram
vencedores:
O
PS, contudo com um resultado aquém do que esperava. Falhou no objectivo de
atingir a maioria absoluta. Ainda assim um crescimento em votos e em 20
deputados;
O
PAN, que passa de 1 para 4 deputados;
O
Chega, o Iniciativa Liberal e o Livre que conseguem entrar no parlamento. Estes
partidos, a partir de agora, ganham um espaço de muito maior visibilidade.
Foram
vencidos:
O
mais perdedor foi o CDS, perde 13 deputados e perde a sua líder.
Nada
que já não lhe tenha acontecido. Em 1987 elegeu 4 deputados, em 1991 elegeu 5.
O aparecimento de novos partidos na área do centro direita e o efeito do voto
útil no PSD terão gerado uma fuga de votos e, como consequência, a enorme
redução dos eleitos pelo CDS;
O
PSD que perde 11 deputados e tem um dos seus piores resultados em legislativas.
Mais, perde toda a sua representação na nossa região ao não eleger deputados
pelos círculos eleitorais de Beja, Évora e Portalegre;
A
CDU (PEV incluído) também teve pesada derrota. Perdeu 5 deputados.
Aliás,
a CDU tem acumulado sucessivas derrotas nas últimas eleições.
Talvez
por isso se queira afastar do apoio tão directo que tem dado à governação
socialista.
Perdedores
foram também todos os partidos que não conseguiram eleger um único deputado.
O
espaço político do centro-direita foi o principal perdedor destas eleições.
Resultado de uma oposição que ora esteve ausente, ora esteve hesitante, e só
tarde conseguiu algum acerto.
O
centro-direita terá que fazer uma profunda reflexão das razões do afastamento
dos eleitorados, e iniciar a sua reorganização, essencial para ter a força
necessária para ser alternativa política.
Para
o PS o resultado obtido dará todas as condições para a governação.
O
centro-direita perdeu força parlamentar, ao ponto de não ter condições para
inviabilizar as iniciativas socialistas.
À
esquerda bastará a abstenção para viabilizar as iniciativas socialistas.
O
novo parlamento terá uma constituição mais diversa, nele estarão representados
10 partidos (PS, PSD, BE, PCP, CDS, PAN, PEV, Chega, Iniciativa Liberal e
Livre).
Foi
esta a escolha dos portugueses.
Mas
não deixa de haver um efeito de avestruz na nossa sociedade.
Não
importa que Portugal tenha uma das maiores dívidas do mundo e que esteja em
permanente crescimento. Que o crescimento económico seja anémico. Que nos
afastamos da média de rendimentos da UE. Que as exportações estejam em queda.
Que o país funcione pior.
O
que importa é que nos digam que está tudo bem, ainda que possamos não
acreditar, porque sabemos que não está.
O
que importa é que o país esteja em festa. Quanto ao resto a seu tempo se verá.
Até
para a semana
Rui
Mendes
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