As análises, os
analistas e a realidade como percepção
Cá estamos para o início da décima
quarta temporada das minhas crónicas na DIANAFM (repararam na modernice da
linguagem adaptada das séries televisivas?) e logo com a tarefa de falar de
eleições para a Assembleia da República.
A
direita toda somada voltou a não ter maioria e desta vez ficou mesmo mais longe
desse objectivo. Como se comportam na política como os dirigentes desportivos
se comportam no futebol ou se despedem ou se se põem a jeito para serem
despedidos.
O
partido vencedor não conseguiu a maioria absoluta, ficando assim dependente do
acordo com outros para que as suas propostas possam ser viabilizadas.
O
meu Partido perdeu deputados e ficou em condições mais difíceis para cumprir
aquilo que se propõe na frente parlamentar.
Quarenta
e cinco anos após a Revolução de Abril, o fascismo regressa à Assembleia da
República através da eleição de deputados de duas forças políticas diferentes.
Um
movimento protofascista e cariz ultra conservador viu aumentar a sua
representação parlamentar para quatro deputados.
Estes
são, no meu entender, os factos relevantes para analisar e discutir em função
do que foi a campanha e que consequências terão para a vida de todos nós.
Nestes
dias um conjunto muito alargado de comentadores têm-se desdobrado em demonstrar
que, tal como o universo, a estupidez humana pode ser infinita.
Questionam-se
sobre as razões que levaram a extrema-direita a obter um resultado que permitiu
eleger dois deputados de dois partidos diferentes sem perceberem que uma delas
é o facto de existirem comentadores como eles.
Perguntam-se
como pode um partido sem programa eleger quatro deputados, inventando e
imaginando motivações de eleitores, não querendo perceber que foram eles que
através dos seus insistentes comentários lhe deram existência.
Voltam
a condenar à extinção o Partido dos comunistas, não percebendo que outros
tentaram durante 98 anos e sem grande sucesso, confundindo recuo e derrota com
desistência e desânimo.
Regressam
às teorias da conspiração em torno da possibilidade de alianças à esquerda,
inventando compromissos prévios e obscuros.
Sabem
o que me preocupa mesmo? É que a Assembleia da República vai passar a ter
várias sargetas onde irão desaguar as águas do esgoto a céu aberto que são as
redes sociais e é isso que vai fazer manchetes de jornais e notícias de
televisão, obscurecendo ainda mais o trabalho sério e honesto de quem foi
eleito com ideias, programa e projecto político.
Daqui
a quatro anos virão os mesmos comentadores concluir que aqueles a quem calaram
a voz não foram capazes de comunicar eficazmente.
As
armas serão sempre diferentes neste combate e quem acha que é possível vencer o
inimigo de classe com as regras construídas para garantir a sua continuidade no
poder, através dos seus diversos representantes, ou é ingénuo ou só leu metade
dos livros.
Todas
as oportunidades de combate devem ser aproveitadas para conquistar espaço e
melhores condições de vida para quem trabalha, mas sem perder de vista que o
essencial não vem oferecido.
Até
para a semana
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