O aforismo
popular, do tempo da monarquia, “foge cão que te fazem barão”, inspirou os
detratores maldizentes do Defensor Mor, sobre quem diziam “foge Salzedo que te
fazem morcego”. Não que o ministro Salzedo andasse pela calada da noite
roubando a seiva vital da tropa…, nada disso! O dito foi tomando foros de
verdade quando se percebeu que o Salzedo da defesa tomava decisões, sobre tudo
e mais alguma coisa, de cabeça para baixo. E interrogado pelos detestáveis
media sobre o assunto disse airosamente «que assim, de cabeça para baixo, o
sangue lhe inundava melhor o cérebro, dando-lhe mais rendimento na construção
das complexas ideias ministeriais».
Homem áspero,
desejoso de pôr a tropa em marcha, sob seu comando fosse onde fosse a guerra, Salzedo
já ia em mais de metade do ministério e nada acontecia; ao menos um “neo” Tolam
podia encalhar em frente ao forte do Bugio para pôr os almirantes a tirar o pó dos
fatos de mergulho; dando também oportunidade ao Marçalo de ser fotografado a
dar umas braçadas na direção do acontecimento… e a tirar umas selfies com um ou
outro cabo dos fuzileiros ; e porque não uma invasão de espiões chineses,
lançados de paraquedas sobre Monsanto, com a missão de raptar o nosso 1º LaCosta,
agora refugiado no Terreiro dos Passos…, à mão de semear de qualquer
carteirista do 28 ou do 15…; … assim divagava para si o dono da tropa fandanga,
sonambulando refastelado no cadeirão ministerial, com aquele seu ar ausente de
camaleão às moscas, quando acorda em sobressalto com a carantonha do seu chefe
de gabinete, postado à sua frente com um telefone Huawei na mão…
sussurrando-lhe: o LaCosta quer falar ao “senhor ministro defensor”. O chefe de
gabinete bateu em retirada assim que passou o testemunho para a defesa,
duvidando que viesse dali o melhor ataque…, … antes o maior desastre…
-Tá lá…, tá lá…,
meu 1º há guerra pr’aí?… …Salzedo foi interrompido bruscamente pela VOZ…
«Ó Salzedo…
quantas vezes já disse para não me chamares “meu 1º”… …há guerra o caraças… …foram-te
ao paiol de Tancús e tu não dás por nada?... …como é que eu soube?... …foram os
gajos do SISUDO (sigla secreta) e do CODESINF (Contra Desinformação)… …tu não
lhes atendes o telefone e o general Rabisco está a dormir a sesta… …a mulher
recusa-se a acordá-lo… …porra!, que merda é esta?!?».
-Ó LaCosta
acalma-te lá…, para eu perceber o que é isso do paiol…
«Acalma-te
lá?... e o que é isso do paiol?... vou fazer de conta que não estou a ouvir o
que o defensor do meu governo me está a replicar… agora percebo porque é que o
Centeio te chama de papa moscas… bem vista essa do Centeio».
-Papa
moscas?!..., gaguejou em seco o “defensor do governo”, que recebeu uma resposta
ainda mais seca: «faz-te à estrada…, acorda o sorna do Rabisco… e não me
apareçam sem o nosso material de guerra…, o país está desarmado Salzedo…». O 1º
LaCosta ainda ouviu um enorme chiar de pneus seguido de um estrondo
ensurdecedor – O Defensor Mor acabara de se estampar no parque de
estacionamento do ministério.
Depois de certas
peripécias que acontecem na vida de qualquer mortal…, quanto mais na de um
Defensor da República, Salzedo chega a Tancús dois dias depois do inusitado
roubo. Entre andanças e marchas forçadas, que já parecia estar num daqueles
cursos malucos dos “comandrones”, fizera a viagem num velho chaimite, peça de
museu do ministério, que o deixara a meio do percurso com o motor gripado,
tendo que palmilhar o restante montado no par de sapatos estreado novinho em
folha, que deixou biqueiras, solas e tacões colados ao esbraseante alcatrão do
mês de Junho. Viera só, contra ordem superior do 1º LaCosta, pois o patife do
Rabisco passara à clandestinidade no mais sigiloso dos sigilos.
À porta do
quartel da “tropa fandanga”, fechada a sete ferrolhos, um grande letreiro
anunciava «Estamos fechados para balanço do armamento militar à guarda no nosso
paiol». Salzedo anunciou-se como o ministro Defensor, mas o sentinela mandou-o
pentear macacos para outro lado; em primeiro lugar, porque não lhe entrava na
cabeça que um tipo que se intitulava o ministro Defensor não soubesse a senha
de passe de entrada; e em segundo lugar, por estar farto do que acontecera nos
dias anteriores, com todos os malucos à solta a baterem à porta da Unidade. Salzedo
chegou mesmo a ouvir aquele impropério muito comum: «que fosse bater à coisa da
sua prima».
Bem vistas as
coisas, o rapaz que estava de guarda à porta de armas de Tancús tinha toda a
razão, pois estava ali a cumprir uma nobre missão de defesa. Afinal, pensou Salzedo,
esta coisa não está assim tão mal guardada como dizem…, pode ser que tudo não
passe de uma fake news…, quem sabe se o LaCosta não anda a fazer um simulacro
com o governo… é bem capaz disso… para me lixar a fazenda… e o cabedal… vamos
desmascará-lo… surpreendê-lo à má fila…
2º
Telefonema
-Tá lá…, tá lá…,
sou eu o Salzedo…, ó LaCosta os gajos aqui não me deixam entrar no quartel… o
tipo que está à porta de guarda perguntou-me a senha… qual senha?... sei lá se
soubesse tinha-lhe dito…, mas ainda lhe disse o teu nome e o rapaz manda-te
dizer que vás bater à coisa da tua prima que também não te conhece de lado
nenhum…, … que se insisto solta os cães…, estão encerrados a fazer um
inventário ao material de guerra… não querem ser chateados… sim…sim… coisa da
tua prima e não querem ser chateados foi o que o gajo disse… …para eu lhe
perguntar o nome e o nº mecanográfico?... ó meu 1º telefona tu a estes malucos…
estou com medo dos cães… …o Rabisco?... …baldou-se, a mulher diz que está
clandestino… … não, não é mal do intestino… …é Clan-des-tino. Estou?... sim
estou… espero dez minutos e volto a tentar… ok meu 1º… …ao altifalante do telemóvel
do Salzedo ecoou uma voz irritadíssima, entretanto abafada pelo dedo indicador
do ministro defensor, pressionando o botão de desligar… (a porra são os cães).
Salzedo nem
queria acreditar: –ó Rabisco, anda meio mundo à tua procura e o outro meio a
ver se te encontra… … o que fazes tu aqui homem? Ao que o Rabisco respondeu –
para falar verdade, no meio de tanta gente séria, só posso dizer que não sei o
que estou aqui a fazer, pois perdi a bússola do passado nas últimas manobras
militares que se realizaram aqui em Tancús, tudo provocado pelo rebentamento de
uma granada defensiva que inadvertidamente lançaram para muito perto do meu
estado maior.
-Homessa…, essa
é boa…, pensava eu que os generais estavam a recato das armas…, mas se o nosso
general não sabe o que está aqui a fazer, porque está aqui?
«Defensor
Salzedo…, alguém o confundiu com um elemento da PJ que viria para sabotar a
auditoria ao armamento de Tancús, ou seja, de Portugal… certo? Coube-me a
patriótica missão de barrar-lhe o caminho…, pelo que, desde já, lhe apresento
as minhas sinceras desculpas».
O defensor mor,
que tinha mau feitio, cuspiu para o chão sete vezes após o que ordenou: «vamos
lá então passar revista ao poial…, desculpem meus senhores…, quero dizer PAIOL…
em frente marche.
O defensor,
ouvindo atentamente o Rabisco, esfregava as mãos de contente ao mesmo tempo que
pensava «por esta é que o LaCosta não espera…». De seguida atacou nove vezes o
teclado do seu Huawei, aguardando que o LaCosta atendesse.
Cinco minutos
depois: –este diz que não atendo o telefone… e ele ainda é pior… pssssss… ouviu-se
a VOZ questionando quem estava lá...
-Felizmente
parece que não ouviu… … ó meu 1º sou eu… o Salzedo… com muito boas notícias… as
arm… … Salzedo ouviu um palavrão de primeira categoria, pedindo imediatamente
desculpa pelo equívoco constante… que
não o fazia por mal… apenas um velho hábito da tropa, onde nos metem coisas na
cabeça que ficam para toda a vida.
-Sim… sim… vou
completar de imediato meu… senhor: –as armas de Portugal foram recuperadas…,
isto é…, foram encontradas graças a Deus e ao major Frazão… … todinhas sim… até
com mais umas fora do lote… suponho eu serem de juros… sim… sim, certamente…
ainda ficamos a ganhar com o roubo… e o Rabisco também apareceu, muito
enegrecido por três dias de clandestinidade… mas não sabe onde esteve.
O LaCosta tomou
conta da conversa, pois o Salzedo não se calava: –ficas desde já avisado que
vais ser condecorado pelo Marçalo. E o Rabisco passa à peluda, pois são já
muitos anos de tropa… “fandanga”…
Três vezes
negou Pedro
a Jesus na
última ceia.
E foi-lhe
apontado o dedo:
tu me negaste
por medo
de ser
envolvido na teia.
O Salzedo
negou mais,
pelo menos
vezes sete!
Cuidado que é
demais…
Negar o que
compromete
é bom título pra
manchete…
…
A quem negou o
Salzedo? Não sei…, nem isso interessa…
AC
Aos que lerem esta lengalenga, espero que não sejam muitos, deixo aqui
sinceras desculpas.
Nem sempre o que parece é, e há lobos que gostam de brincar aos
cordeirinhos.
Ora parece que o Salzedo mais não foi que um bode expiatório, ardendo
em lume brando, para proteger meia dúzia de tratantes que andam na política
desde que nasceram.
Aí está o Presidente (da união das creches e jardins de infância da
política), Prof. Marçalo, a declarar que "agora já não é
encobrimento" e mais... que "o país corre o risco de estar a criar
uma nebulosa que tem como efeito nunca apanhar os responsáveis"...; isto
para quem o tem ouvido repetir, em qualquer inauguração ou cerimónia com
protocolo de Estado, que quer o caso investigado até ao fim..., doa a quem
doer, só pode ter um de dois significados, a saber:
1. O Prof. Marçalo virou
astrónomo, pois anda a ver nebulosas...
2. e domina a física dos
"buracos negros", onde o “horizonte do acontecimento” nada deixa ver
para além de...
PS: (A presente reportagem foi
escrita com o mais alto sentido patriótico, ou não se tratasse das “armas de
Portugal”, que abrem desde há 500 anos a epopeia portuguesa pelo mundo; o
acontecimento de Tancús está ainda longe de um esclarecimento cabal, mas o tal
major Frazão ameaçou (por chamada anónima) o repórter de o “cortar às postas”,
caso o mesmo persista em bisbilhotar um (não) acontecimento que é segredo de
estado; teremos, pois, de repensar as palavras assertivas do Sr. Major… …o que
ditará o nosso empenho em continuar a (des)montar o puzzle das “armas de
Portugal”).
1 comentário:
"eles" merecem ser retratados com este contra-humor salutar. Porque o não têm, porque são parolos, porque são ridiculamente ridículos.
Ao ler o texto recordou-me um pouco o Jaroslav Hasek.
Cumprimentos ao AC
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