José Cardoso Pires
Ao ler a
última obra do meu amigo Augusto Mesquita, intitulada «Grupo Amigos de
Montemor- o – Novo, Salpicos da sua História», no qual retrata o início e
causas que deram azo à sua constituição, como também da recuperação do Convento
de S. Domingos, assim como os esforços desenvolvidos para a instalação das
várias valências que se foram tornando realidades, verifico que, um trabalho
desta natureza só foi possível graças as testemunhos deixados pelas gerações
passadas, pelo conhecimento dos factos vividos pelo Autor mas muito
principalmente pelas actas consultadas para o efeito.
Tudo
isto me fez recuar no tempo e recordar determinadas Instituições a que estive
ligado e das quais deixei muito escrito quer em actas lavradas, quer em livros
com diversos apontamentos, para que mais tarde, se alguém interessado, tivesse
as bases suficientes para contar a história, e pudesse consultar documentos que
descrevessem os princípios da sua existência.
Não me
podem levar a mal que passados tantos anos eu pergunte: que é feito desses
trabalhos?
Quando
um qualquer dia todos aqueles que estiveram na fundação de todas as
Instituições ora realidades no Alandroal, tiverem “partido” como irão saber as
gerações actuais e vindouras como e porquê foram as mesmas construídas?
Vamos começar pelo Futebol, presentemente representado pelo
Alandroal United. Mas talvez já se contem pelos dedos, aqueles que sabem que o
Futebol (equipas), nasceu na Casa do Povo com uma equipa representativa da FNAT
(Federação Nacional Alegria no Trabalho), Mais tarde INATEL, que a mesma se
equipava nessa mesma Casa do Povo, que muitas vezes ia a pé (e vinha) para o
campo situado na estrada para Terena, quais os elementos que constituíram a
equipa, quem marcou o primeiro golo (Manuel Pisco), que na manhã do dia do 1º
jogo ainda não estavam colocadas as balizas, que só o foram graças ao trabalho
do Zé Fontes (Kagano).
Que mais
tarde, graças a um excelente trabalho desenvolvido por um homem a quem muito o
futebol do Alandroal deve, o Ramalho,
foi fundado o Juventude Sport Alandroalense, que chegou a competir em todos os
escalões, a ser Campeão da agora chamada Liga de Honra e um “osso duro de roer”
nos últimos jogos que disputou na Liga Elite.
Tudo isto ficou escrito por mim, em
vários cadernos que deixei então ao cuidado da direção quando me desloquei para
outras paragens.
Passemos
aos Bombeiros:
Pergunto: Estão devidamente preservadas todas as actas que elaborei enquanto membro da Direção dos B.V.A.?
Pergunto: Estão devidamente preservadas todas as actas que elaborei enquanto membro da Direção dos B.V.A.?
Daqui a
vários anos alguém vai saber o quão difícil foi fundar um Corpo de Bombeiros no
Alandroal? Quem foi a Comissão Administrativa que presidiu à fundação? Quem
foram os Corpos Gerentes dos primeiros anos de vida? Qual o local onde foi adaptado
o primeiro Quartel? Onde funcionou o parque de viaturas? Quantas ambulâncias existiam
quando foram fundados? E carros de combate a incêndios? Que a Fundação Calouste
Gulbenkian contribuiu, graças ao bom relacionamento do Senhor José Joaquim
Bexiga com o então Presidente da Fundação Senhor Azeredo Lopes, com avultado
subsídio para uma ambulância? Que o Alberto Casaca ofereceu uma camioneta em
segunda mão que lhe havia sido deixada em herda pelo Senhor Joaquim Martins, e
que devidamente adaptada serviu como carro de combate a incêndios? Que foram os B.V.A. que retomaram a prática de
exibir cinema no Alandroal, após vários anos de interregno?
E porque
não abordar também o espaço que se situa de frente ao Quartel dos Bombeiros
Voluntários e que dá (ainda) pelo nome de Esplanada?
Não será
motivo da juventude saber o porquê da existência daquele abandonado espaço?
Tenho
todo o direito (e não só eu, como também os meus companheiros de luta,
abnegação e trabalho) de perguntar a quem pertence? Quem é responsável pelo local
e pelo consequente abandono dum espaço que tanto trabalho deu a conquistar,
onde outrora tantos acontecimentos de vulto se realizaram. Quantos sabem os
motivos para que nasceu a Esplanada? A quem pertencia? (Drº Xavier, Drº Barrento, Senhor Joaquim Martins). Porque motivo
mais tarde a mesma foi reaberta e com que fins? Que na noite da reabertura da
mesma desabou grande trovoada e que o espectáculo de reabertura da mesma não se
realizou por falta de luz? Que mais tarde viveu algumas noites de glória? Que
posteriormente foi entregue à Camara Municipal que por sua vez a doou (???) ao
J.S.A.? Que ali foram realizados grandes torneios de futebol de salão que
mobilizavam não só a população do Alandroal como das freguesias e locais vizinhos?
A
pergunta impõe-se: quem é o atual proprietário? A Camara? O já extinto
Juventude Sport Alandroalense?. Tem algum fim destinado ou continuará a ser
mais um local abandonado?
E as Sociedades? Daqui a uns anos alguém se
irá lembrar que existiram duas Colectividades (Artistica e Musica) no
Alandroal?
Ambas
tiveram grande repercussão na vida dos Alandroalenses, quer no aspecto de
diversão quer no aspecto cultural. A voracidade dos tempos encarregou-se de
extinguir as mesmas e se na verdade a “Musica” teve continuidade (mesmo que em
moldes diferentes) com a criação do Centro Cultural, em boa hora recuperado, já
o mesmo não se passou com a Sociedade Artística com morte anunciada há muitos
anos.
Tinha
espólio? Tinha. Que é feito dele?
Ficamos
por aqui… não levem a mal. Considerem apenas que são “desabafos” de um jovem já
na terceira idade que relembra com saudade um Alandroal do passado que o vai
corroendo de saudades!
Chico Manuel
Agosto 2019
1 comentário:
OBS.
Julgo que pode extrair-se deste texto do Francisco Manuel, a ideia clara,
vivida e reconhecida, de que o Alandroal tem História e tem a sua
própria Memoria que lhe marcaram e devem continuar a marcar a Identidade
com que, Hoje, vive e se apresenta. Quer seja perante si mesma. Quer seja
perante os que continuam, no presente, a fazer parte integrante da nossa
Identidade.
Por outras palavras, acrescentaria que o passado mais ou menos recente,
não é afinal mais do que "uma dimensão do presente", sendo certo que vai
tudo, e em todas as épocas, estando cada vez mais interligado.
O que aflige, ou não devia estar a acontecer, é o conjunto vasto de
referências históricas que nos construíram enquanto Vila e Concelho de
tantas gerações, andarem a ser desbaratadas e perdidas entre os
dedos e as mãos menos responsaveis de quem deve ter uma Intervenção
bastante mais proactiva de (re)criação do presente. Com mais futuro. Com
outro futuro.
E, sobretudo,
tendo em conta, os bons exemplos, de tantos e tantos alandroalenses que
à sua terra, deram o mais que podiam.E o quanto puderam para virmos a ser
o que ainda queremos ser: uma terra com histórias que pertencem à
História. Sem a qual, a nossa Identidade própria, já teria desaparecido.
Assim haja, ou a Autarquia ajude a criar novas oportunidades de nos
revermos naquilo que construímos ou naquilo que ainda somos.
Ficaríamos mais ricos e mais capazes de começar já a viver os dias de
amanhã.
Em todo o caso, estes apontamentos do Francisco m. são algo preciosos.
São testemunhos vivos,aproveitáveis e que não deviam ser descartáveis.
Saudações Democraticas
ANB
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