quinta-feira, 1 de agosto de 2019

SEM REFERÊNCIAS DO PASSADO PERDE-SE A NOSSA IDENTIDADE.

Sem memória esvai-se o presente
José Cardoso Pires
Ao ler a última obra do meu amigo Augusto Mesquita, intitulada «Grupo Amigos de Montemor- o – Novo, Salpicos da sua História», no qual retrata o início e causas que deram azo à sua constituição, como também da recuperação do Convento de S. Domingos, assim como os esforços desenvolvidos para a instalação das várias valências que se foram tornando realidades, verifico que, um trabalho desta natureza só foi possível graças as testemunhos deixados pelas gerações passadas, pelo conhecimento dos factos vividos pelo Autor mas muito principalmente pelas actas consultadas para o efeito.
Tudo isto me fez recuar no tempo e recordar determinadas Instituições a que estive ligado e das quais deixei muito escrito quer em actas lavradas, quer em livros com diversos apontamentos, para que mais tarde, se alguém interessado, tivesse as bases suficientes para contar a história, e pudesse consultar documentos que descrevessem os princípios da sua existência.
Não me podem levar a mal que passados tantos anos eu pergunte: que é feito desses trabalhos?
Quando um qualquer dia todos aqueles que estiveram na fundação de todas as Instituições ora realidades no Alandroal, tiverem “partido” como irão saber as gerações actuais e vindouras como e porquê foram as mesmas construídas?
Vamos começar pelo Futebol, presentemente representado pelo Alandroal United. Mas talvez já se contem pelos dedos, aqueles que sabem que o Futebol (equipas), nasceu na Casa do Povo com uma equipa representativa da FNAT (Federação Nacional Alegria no Trabalho), Mais tarde INATEL, que a mesma se equipava nessa mesma Casa do Povo, que muitas vezes ia a pé (e vinha) para o campo situado na estrada para Terena, quais os elementos que constituíram a equipa, quem marcou o primeiro golo (Manuel Pisco), que na manhã do dia do 1º jogo ainda não estavam colocadas as balizas, que só o foram graças ao trabalho do Zé Fontes (Kagano).
Que mais tarde, graças a um excelente trabalho desenvolvido por um homem a quem muito o futebol do Alandroal deve, o Ramalho, foi fundado o Juventude Sport Alandroalense, que chegou a competir em todos os escalões, a ser Campeão da agora chamada Liga de Honra e um “osso duro de roer” nos últimos jogos que disputou na Liga Elite.
Tudo isto ficou escrito por mim, em vários cadernos que deixei então ao cuidado da direção quando me desloquei para outras paragens.
Passemos aos Bombeiros:
Pergunto: Estão devidamente preservadas todas as actas que elaborei enquanto membro da Direção dos B.V.A.?
Daqui a vários anos alguém vai saber o quão difícil foi fundar um Corpo de Bombeiros no Alandroal? Quem foi a Comissão Administrativa que presidiu à fundação? Quem foram os Corpos Gerentes dos primeiros anos de vida? Qual o local onde foi adaptado o primeiro Quartel? Onde funcionou o parque de viaturas? Quantas ambulâncias existiam quando foram fundados? E carros de combate a incêndios? Que a Fundação Calouste Gulbenkian contribuiu, graças ao bom relacionamento do Senhor José Joaquim Bexiga com o então Presidente da Fundação Senhor Azeredo Lopes, com avultado subsídio para uma ambulância? Que o Alberto Casaca ofereceu uma camioneta em segunda mão que lhe havia sido deixada em herda pelo Senhor Joaquim Martins, e que devidamente adaptada serviu como carro de combate a incêndios?  Que foram os B.V.A. que retomaram a prática de exibir cinema no Alandroal, após vários anos de interregno?
E porque não abordar também o espaço que se situa de frente ao Quartel dos Bombeiros Voluntários e que dá (ainda) pelo nome de Esplanada?
Não será motivo da juventude saber o porquê da existência daquele abandonado espaço?
Tenho todo o direito (e não só eu, como também os meus companheiros de luta, abnegação e trabalho) de perguntar a quem pertence? Quem é responsável pelo local e pelo consequente abandono dum espaço que tanto trabalho deu a conquistar, onde outrora tantos acontecimentos de vulto se realizaram. Quantos sabem os motivos para que nasceu a Esplanada? A quem pertencia? (Drº Xavier, Drº Barrento, Senhor Joaquim Martins). Porque motivo mais tarde a mesma foi reaberta e com que fins? Que na noite da reabertura da mesma desabou grande trovoada e que o espectáculo de reabertura da mesma não se realizou por falta de luz? Que mais tarde viveu algumas noites de glória? Que posteriormente foi entregue à Camara Municipal que por sua vez a doou (???) ao J.S.A.? Que ali foram realizados grandes torneios de futebol de salão que mobilizavam não só a população do Alandroal como das freguesias e locais vizinhos?
A pergunta impõe-se: quem é o atual proprietário? A Camara? O já extinto Juventude Sport Alandroalense?. Tem algum fim destinado ou continuará a ser mais um local abandonado?
E as Sociedades? Daqui a uns anos alguém se irá lembrar que existiram duas Colectividades (Artistica e Musica) no Alandroal?
Ambas tiveram grande repercussão na vida dos Alandroalenses, quer no aspecto de diversão quer no aspecto cultural. A voracidade dos tempos encarregou-se de extinguir as mesmas e se na verdade a “Musica” teve continuidade (mesmo que em moldes diferentes) com a criação do Centro Cultural, em boa hora recuperado, já o mesmo não se passou com a Sociedade Artística com morte anunciada há muitos anos.
Tinha espólio? Tinha. Que é feito dele?
Ficamos por aqui… não levem a mal. Considerem apenas que são “desabafos” de um jovem já na terceira idade que relembra com saudade um Alandroal do passado que o vai corroendo de saudades!
Chico Manuel
Agosto 2019

1 comentário:

Anónimo disse...



OBS.


Julgo que pode extrair-se deste texto do Francisco Manuel, a ideia clara,

vivida e reconhecida, de que o Alandroal tem História e tem a sua

própria Memoria que lhe marcaram e devem continuar a marcar a Identidade

com que, Hoje, vive e se apresenta. Quer seja perante si mesma. Quer seja

perante os que continuam, no presente, a fazer parte integrante da nossa

Identidade.

Por outras palavras, acrescentaria que o passado mais ou menos recente,

não é afinal mais do que "uma dimensão do presente", sendo certo que vai

tudo, e em todas as épocas, estando cada vez mais interligado.

O que aflige, ou não devia estar a acontecer, é o conjunto vasto de

referências históricas que nos construíram enquanto Vila e Concelho de

tantas gerações, andarem a ser desbaratadas e perdidas entre os

dedos e as mãos menos responsaveis de quem deve ter uma Intervenção

bastante mais proactiva de (re)criação do presente. Com mais futuro. Com

outro futuro.

E, sobretudo,

tendo em conta, os bons exemplos, de tantos e tantos alandroalenses que

à sua terra, deram o mais que podiam.E o quanto puderam para virmos a ser

o que ainda queremos ser: uma terra com histórias que pertencem à

História. Sem a qual, a nossa Identidade própria, já teria desaparecido.

Assim haja, ou a Autarquia ajude a criar novas oportunidades de nos

revermos naquilo que construímos ou naquilo que ainda somos.

Ficaríamos mais ricos e mais capazes de começar já a viver os dias de

amanhã.

Em todo o caso, estes apontamentos do Francisco m. são algo preciosos.

São testemunhos vivos,aproveitáveis e que não deviam ser descartáveis.


Saudações Democraticas


ANB