JOSÉ POLICARPO
Vou por aqui!
O discurso proferido pelo
jornalista e cronista João Miguel Tavares na qualidade de presidente da
comissão organizadora das celebrações do 10 de Junho, para além de muitos
outros aspetos, trouxe à luz uma questão que na minha opinião é irredutível e
prévia para qualquer democracia civilizada. Qual seja: a real e efetiva
igualdade de oportunidades para todos quantos nela vivem.
A
nossa história tem mais de 800 anos e o nosso país é um dos países europeus
que, há mais anos, tem as suas fronteiras definidas. Há nisto, obviamente, um
significado de estabilidade e de vida em comum de grande relevo. Há, todavia,
como nos outros países períodos da história que nos envergonham. A inquisição,
a ditadura e o período do PREC (período revolucionário em curso levado a cabo
pela extrema esquerda, no pós 25 de abril), não são períodos da nossa história,
que devamos orgulhar-nos, particularmente.
Na
verdade, a história mais recente ainda não feita nem será feita nos próximos
tempos com a objetividade necessária, por razões óbvias. Muitos dos protagonistas
estão ainda vivos. Todavia, podemos e devemos fazer um balanço dos anos pós
revolução de abril. Houve mudanças indiscutíveis no nosso país e a todos os
níveis. Na segurança social, na saúde, na educação e nos equipamentos e
infraestruturas.
Com
efeito, há uma mudança que devia ter sido operada e ainda não o foi
convenientemente. A da mentalidade coletiva. Porventura haja muitas outras
explicações para além destas, mas os séculos de monarquia virada para si
própria, as décadas de ditadura e os “donos” do atual regime, não podem ser
indissociados à não concretização da verdadeira democracia.
Ora,
para que a concretização da democracia portuguesa seja plena com tudo o que
isto significa, nomeadamente, que seja assegurada a todos as mesmas
oportunidades, é inevitável criarmos uma sociedade mais exigente e menos
permissiva a questões como a cunha, o amiguismo e a corrupção.
Devemos,
por isso, criar condições para que o empenho, a responsabilidade e a
competência, sejam os verdadeiros critérios para a ascensão social e o
bem-estar de cada um. Não sei, contudo, se a maioria dos portugueses está
disponível para adotar estas regras.
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