MARIA HELENA FIGUEIREDO
Ainda é tempo para salvar o
Serviço Nacional de Saúde
“Aproveitar a posição pública do meu avô e invocá-lo para, depois,
seguir o caminho inverso ao que ele defendia é usurpação do nome”.
Estas são
palavras ao Expresso do neto de António Arnaut, que herdou do criador do
Serviço Nacional de Saúde o nome e o desassombro com que fala sobre actuação do
Partido Socialista relativamente à Lei de Bases da Saúde.
Tem sido assim,
neste registo, que eu direi pouco honroso, que o Partido Socialista tem
conduzido a sua actuação em matéria de Saúde e da revisão da Lei de Bases da
Saúde. E não devia ser assim.
Não devia ser
assim porque o PS devia orgulhar-se do legado de Arnaut e de ter criado no
final dos anos 70 um Serviço Nacional de Saúde universal, gratuito e público
que mudou profundamente a vida de milhões de portugueses e de portuguesas e que
nos tirou da cauda do mundo civilizado quando falamos em indicadores, como a
taxa de mortalidade infantil.
Mas o que temos
visto até agora não é isso.
A semana passada, depois de feito o acordo com o Bloco de Esquerda para acabar a aplicação de taxas moderadoras no acesso a atendimento e consultas nos cuidados de saúde primários e também nos actos complementares prescritos no Serviço Nacional de Saúde, o Partido Socialista deu o dito por não dito, vindo a Ministra a dizer que afinal não ia ser aplicado conforme acordado.
A semana passada, depois de feito o acordo com o Bloco de Esquerda para acabar a aplicação de taxas moderadoras no acesso a atendimento e consultas nos cuidados de saúde primários e também nos actos complementares prescritos no Serviço Nacional de Saúde, o Partido Socialista deu o dito por não dito, vindo a Ministra a dizer que afinal não ia ser aplicado conforme acordado.
Mais um episódio
como o que ocorreu nas negociações para a nova Lei de Bases da Saúde quando a
Ministra apresentou uma proposta de texto em que propunha que o Estado não
continuasse a alimentar os grupos privados da saúde e as suas PPP e a seguir
veio o Partido Socialista desdizer o acordo.
E assim se tem
mantido o Partido Socialista, evidentemente permeável às pressões externas, mas
sobretudo às pressões internas dos defensores dos grupos económicos e dos
interesses privados.
Se assim não
fosse não teria alterado a posição nem tinha rejeita a proposta de Catarina
Martins que lhe propôs aprovar a Lei do Serviço Nacional de Saúde público agora
e remeter para a próxima legislatura a negociação sobre PPPs.
E mesmo face ao
desafio que lhe é lançado pelo Bloco e pelo PCP para prosseguirem na tentativa
de fechar à esquerda a nova lei do SNS, António Costa volta-se agora para a
direita admitindo mesmo voltar atrás em muito do que já estava fechado.
Com as
negociações com o PSD o que é que Costa garantirá? Garantirá que nada vai de
facto mudar.
O que vai
garantir é que o Estado vai continuar a transferir milhões e milhões de euros
para os grupo Mello, Luz Saúde/Fidelidade e a outros grupos financeiros, em vez
de investir esses recursos nos serviços públicos de saúde onde tanta falta
fazem.
Ou seja, se assim
for fica mais claro que vencerá no Partido Socialista quem defende os
interesses dos grupos privados da Saúde, quem não quer de facto uma nova Lei de
Bases da Saúde e um SNS de todos os portugueses e para todos nós, que ponha
termo são subfinanciamento crónico dos hospitais e dos serviços de saúde e à
desactivação de valências que podem prestar melhores serviços que os privados
com menos custos para o Estado.
Em contrapartida
o que está em cima da mesa à esquerda é simples e claro: o que é público deve
ser gerido pelo público. O que é privado é privado. Sem promiscuidades.
Foi assim na Lei
do SNS de Arnaut e ainda pode ser assim. Ou como tem sido dito, só não será se
o Partido Socialista não quiser.
Até para a
semana!
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