CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
O bulldog francês
Por razões que agora não interessam
nada, fiquei a saber mais sobre esta raça de ser canino (para abranger cão e
cadela) recriada pelo ser humano. Convém irmos conhecendo as várias espécies de
diversos géneros sobre os quais o lobby político ganhou certa relevância na
sociedade portuguesa, agora que parece que se enterrou de vez o partido d’ Os
Verdes, de Portugal para a Europa. Aliás, talvez não seja muito errado pensar,
pelo menos enquanto exercício académico, que os votos perdidos da CDU tenham
sido os dos invisíveis mas militantes verdes da coligação que encarnou a sua
representação e que se mudaram para o PAN. É que na CDU foram manchados de
vermelho sangue-de-boi, que é aquele tom concentrado da cor, o que é apropriado
para um movimento armazenado dentro de um Partido quase centenário, a
envelhecer desde 1982.
Mas
voltemos ao bulldog francês. A criatura é esteticamente um animal controverso.
Como toda a Arte com maiúscula, bem entendido. Fica toda a vida com ar de
cachorro e em cachorro já vem amarfanhado como um velhinho. Ao estilo Benjamin
Button, a personagem ficcional que demonstra, numa das várias possibilidades de
interpretação, o horror de se concretizarem dois “wishfull thinking”
suspirosos: “Ó tempo volta para trás!” e “Quem me dera ser novo e saber o que
sei hoje!”.
Eu
já conhecia as dificuldades respiratórias dos bichinhos que com a alegria, tão
boa quanto inconsciente de quem agradece constantemente por estar vivo mesmo
sofrendo horrores, estampada naquele focinho, arfa ruidosa e aflitivamente para
quem não está habituado ao seu convívio. Apetece logo pregar-lhe com uma
máscara de oxigénio, tal o sofrimento que aparenta. Só a sua alegria desmedida
e aqueles olhinhos redondos e deslumbrados enquadrados pelas orelhitas
pontiagudas nos acalmam, parecendo dizer: “Está tudo bem! Qual é o stress? Anda
mas é brincar!”.
O
que fiquei a saber é que as companhias aéreas, que só admitem bichos até seis
quilos junto dos donos, enviando os outros, os grandes e gordos que estão
sempre tramados em qualquer género, espécie ou família de seres vivos ou
minerais, para o inóspito porão da nave. Ora, com todas as dificuldades
respiratórias que acompanha a pureza de pedigree de tão amado animal, parece
que durante a viagem são mais que muitos os que caiem que nem tordos (outra
espécie tão apreciada e perseguida pelo ser humano, o que dá aliás sentido à
expressão idiomática).
Com
o que aprendi de novo sobre a vida animal em sociedade (o resto conheço do
convívio quotidiano de bichos que adoram os donos mesmo quando trocam entre si
inexplicáveis “mimos” de amor), confirmei algo de que desconfiava há muito: é
muito difícil, se não impossível, conciliar num mesmo grupo de identidades que
se relacionam bem em determinado equilíbrio que a Natureza foi permitindo,
alterando estatutos de cada um deles. Como Pessoas e Animais. Há associações
que se esgotam nessa revisão estatutária e que se desequilibrarão. Serão quase
espécies manipuladas geneticamente, forçando-se a criação de novas raças, até
muito maneirinhas e bonitinhas, e muito amadas por muitos, e perde-se a
oportunidade de tornar o mais saudáveis, sustentáveis e civilizados possível os
exemplares já existentes da espécie – e refiro-me à humana. E que, quando vivia
harmoniosamente com a restante Natureza foi ganhando, em pé de igualdade de
oportunidade, o lugar que tem hoje. Isto, claro, salvaguardando o sempre
presente risco de ela própria se auto-destruir, o que seria uma pena e levaria
com ela outras espécies. Mas isso, por enquanto, é “sci-fi”.
Até
para a semana.
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